Casual

Modernidade e ousadia na manufatura da Tudor, na Suíça

Em meio aos prédios centenários das marcas de relojoaria na Suíça francesa está a novíssima fábrica da Tudor

O prédio da Tudor: inauguração aconteceu em 2023, durante o salão Watches & Wonders, o evento mais importante do ano na relojoaria (Adrien Barakat/Divulgação)

O prédio da Tudor: inauguração aconteceu em 2023, durante o salão Watches & Wonders, o evento mais importante do ano na relojoaria (Adrien Barakat/Divulgação)

Ivan Padilla
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 16 de junho de 2025 às 06h27.

Tudo sobreRelógios
Saiba mais

O carro vai passando vagarosamente pelas alamedas largas da comuna de La Chaux-de-Fonds, no noroeste da Suíça, quase na fronteira com a França. Aqui e ali, vão aparecendo os prédios com os logos mais famosos da relojoaria. Cartier, Montblanc, Ebel, Eberhard, Girard-Perregaux, Zenith, TAG Heuer...  São quase todos edifícios antigos, ainda que alguns reformados. Chegando à vizinha cidade de Le Locle, de apenas 10.000 habitantes, surge então a manufatura da Tudor, um prédio moderno, na cor vermelha com detalhes em preto. Novinho, novinho.

As cidades de La Chaux-de-Fonds e Le Locle são patrimônio mundial da ­Unesco desde 2009. A identidade da região começou a tomar forma no século 17, quando os camponeses criaram tradição na fabricação de peças e na montagem de relógios, aproveitando o tempo livre durante o rigoroso inverno nas montanhas. O ousado prédio da Tudor tem cinco andares e cerca de 5.000 metros quadrados. Foi inaugurado em março de 2023, às vésperas da estreia da marca no Watches & Wonders, o principal salão de relojoaria do mundo, realizado todo ano em Genebra.

Ousadia é o lema da marca registrada em 1926 por Hans Wilsdorf, fundador da Rolex. O escudo protege a coroa, diz um lema interno da empresa. Escudo é o símbolo da Tudor, coroa é o da Rolex. Wilsdorf queria uma segunda marca mais acessível, mas com os mesmos padrões de excelência. Eram relógios para estilos de vida mais arrojados, feitos para resistir a condições extremas no gelo, na água, no ar. Essa identidade é hoje reforçada pela assinatura “Born to Dare”, pelas campanhas dinâmicas com esportistas e pelo endosso de embaixadores como David Beckham, Jay Chou e os All Blacks, a seleção neozelandesa de rúgbi.

A principal linha da Tudor é a ­Black Bay, lançada em 2012, inspirada nos antigos relógios de mergulho das décadas de 1950 e 1960. Entre as características da coleção estão o vidro e o mostrador côncavos, a coroa grande e os ponteiros em estilo snow flake. Em abril deste ano, no Watches & ­Wonders, foi apresentada uma nova versão do Black Bay 58, uma alusão a 1958, ano em que foi lançado o primeiro relógio de mergulho Tudor com estanquidade até 200 metros, dessa vez na cor vinho.

Montagem das peças: equipes treinadas para desempenhar todas as funções (Tudor/Divulgação)

Todos os relógios dessa e das outras linhas da marca do escudo, incluindo alguns modelos com certificação ­Master Chronometer, saem do prédio vermelho de Le Locle. A primeira unidade industrial inteiramente da marca começou a ser construída em 2018, ficou pronta em 2021, durante a pandemia, e foi inaugurada dois anos depois. O grupo possuía esse terreno em Le Locle, junto a uma fábrica da Rolex inaugurada em 1970. Antes, as operações e a montagem dos relógios aconteciam em Genebra, com peças que vinham de fornecedores das montanhas do Jura, onde fica a atual manufatura.

Trabalham hoje na fábrica cerca de 200 colaboradores vestidos de jaleco branco, que se dividem entre o monitoramento de tarefas automatizadas e o qualificado trabalho manual de relojoei­ros.

Enquanto robôs passam levando bandejas de relógios pelos corredores para armazenamento e enormes equipamentos fazem testes de movimentos, resistência a campos eletromagnéticos e submersão na água, artesãos com suas lupas de olho se debruçam sobre os minúsculos componentes dos relógios sobre as mesas.

Todos têm formação interdisciplinar e devem dominar todas as operações de montagem de um relógio, de todas as coleções. Eles se dividem em grupos de quatro pessoas, em três funções: montagem do mostrador, fixação dos ponteiros e encaixe. Para facilitar o intercâmbio entre eles, as bancadas usufruem da mesma disposição, com as peças dispostas nos mesmos lugares das gavetas. Nas salas de trabalho, os vidros de controle solar ajudam a reduzir o uso de energia. O grande perigo de uma manufatura que mexe com peças minúsculas é a poeira. Para evitar contaminação nos relógios, o ar das salas é trocado a cada 3 horas.

Uma visita à sede da Tudor só será completa se incluir pelo menos uma passada pelo prédio anexo onde funciona a ­Kenissi. Dessa pequena fábrica saem os mecanismos próprios da marca. O primeiro calibre in house da Tudor foi o MT5621, de 2015. A Kenissi faz parte da Fundação Hans Wilsdorf, sem fins lucrativos, a mesma da Tudor e da Rolex, e também produz mecanismos para marcas consagradas no universo da horologia, como Breitling, TAG Heuer, Bell & Ross e Chanel, que tem 20% da manufatura. Tudo com a marca do escudo.

*O jornalista viajou para Le Locle, Suíça, a convite do Watches & Wonders

Acompanhe tudo sobre:RelógiosSuíçaLuxo

Mais de Casual

Vinessence é a mais nova importadora-butique de vinhos no mercado

Udo Kier, ator de 'O Agente Secreto', morre aos 81 anos

CEO do Oscar vê na cinematografia brasileira um momento oportuno para prêmios

Salão do Automóvel de São Paulo hoje; conheça principais atrações