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Moda presidencial: as referências históricas no estilo de Kamala Harris

A moda não é sobre Kamala Harris ser endossada por revistas de moda, mas como os eleitores interpretam o que a candidata veste e como eles se relacionam com isso

Kamala Harris, durante comício em Atlanta, em 30 de julho
 (Elijah Nouvelage/AFP)

Kamala Harris, durante comício em Atlanta, em 30 de julho (Elijah Nouvelage/AFP)

Júlia Storch
Júlia Storch

Repórter de Casual

Publicado em 1 de agosto de 2024 às 14h12.

Última atualização em 1 de agosto de 2024 às 15h29.

Nas últimas semanas, Kamala Harris virou o centro das atenções como a provável candidata democrata ao cargo de presidente dos Estados Unidos após a desistência da candidatura de Joe Biden. Então surgiram os memes, referências à cultura pop e atenção ao estilo da vice-presidente. A forma como uma mulher em posição de liderança se apresenta precisa ser considerado.

A moda, neste caso, não é sobre Kamala Harris ser endossada por revistas de moda, mas como os eleitores interpretam o que a candidata veste e como eles se relacionam com isso.

"Sabemos muito bem que ela será mais analisada por sua aparência do que um candidato homem", disse Amanda Hunter, diretora executiva da Fundação Família Barbara Lee ao New York Times. "Descobrimos em um estudo feito há dois anos que os eleitores têm ainda menos tolerância para cabelos despenteados e golas enrugadas em uma candidata mulher do que em um homem. Eles veem isso como um sinal, uma indicação de pensamento desleixado".

Harris não é a primeira mulher a se candidatar para presidência dos Estados Unidos, mas ela é a primeira mulher, negra ou descendente de sul-asiáticos a ser eleita como vice-presidente e pode se tornar a primeira presidente de ascendência sul-asiática.

Em mais de dois séculos de democracia americana, os eleitores elegeram apenas um presidente negro e nunca uma mulher.

O guarda-roupa de Harris costuma ser clássico para o cargo que possui. Ternos sob medida em tons neutros como preto, azul escuro, vinho e bege, com escolhas pontuais como rosa claro ou azul bebê, joias e sapatos de bico fino.

Em 2020, para a primeira aparição como vice-presidente eleita, Kamala escolheu um terno branco Carolina Herrera em homenagem ao movimento Sufragista. A política decidiu prestigiar a criação feita pelo conterrâneo Wes Gordon e a cor branca foi escolhida por 300 mil mulheres que se manifestaram pelo direito da mulher ao voto em Londres em 1908. A decisão de Kamala manter os ternos em seu guarda-roupa não é um padrão, mas uma tática.

No pescoço, Harris costuma usar um colar de pérolas em referência à sua irmandade estudantil Alpha Kappa Alpha. As fundadoras da irmandade são conhecidas como "Vinte Pérolas", e é comum que as participantes usem as pedras preciosas. O grupo foi o primeiro formado por mulheres negras universitárias em 1908, e é uma tradição presentear as alunas com um colar com 20 pérolas em homenagem às 20 fundadoras da irmandade.

Em eventos que não exigem peças formais, Kamala opta por peças casuais como calça jeans, camiseta branca e tênis Converse. Em 2019, durante a parada LGBTQIA+ de São Francisco, Harris escolheu uma jaqueta jeans com cristais na cor da bandeira LGBTQIA+.

Ao mesmo tempo, manter escolhas tradicionais na moda deixa espaço para pontos de discussão reais apresentados por Harris. Se ela ganhar a eleição, é possível que o guarda-roupa mude para atender ao momento.

Quem é Kamala Harris?

Nascida em 20 de outubro de 1964, em Oakland, Califórnia, Kamala é filha de imigrantes — sua mãe, Shyamala Gopalan, uma pesquisadora do câncer de mama e ativista de direitos civis de origem indiana, e seu pai, Donald Harris, um economista jamaicano — e foi criada em um ambiente que valorizava a educação e a justiça social. Assim, formou-se em Ciências Políticas e Economia pela Universidade Howard, uma das mais prestigiadas universidades historicamente negras dos EUA, e depois obteve seu diploma de Direito pela Universidade da Califórnia, Hastings.

Sua carreira começou em 1990, quando se tornou promotora no condado de Alameda, na Califórnia. Em 2003, ela foi eleita procuradora-distrital de São Francisco, onde implementou reformas progressistas no sistema judicial, como programas de reabilitação para crimes menores. Poucos anos mais tarde, em 2010, foi eleita procuradora-geral da Califórnia, tornando-se a primeira mulher e a primeira pessoa negra a ocupar o cargo.

A carreira política despontou a partir de 2017, como estrela em ascensão do Partido Democrata após ser eleita senadora na Califórnia. Quase imediatamente, ela fez seu nome em Washington com seu estilo incisivo em audiências no Senado, interrogando seus adversários em momentos de alto risco que muitas vezes se tornavam virais.

De rival a vice-presidente

Com boa performance em debates, inclusive contra o próprio Biden, Harris ganhou destaque entre progressistas, mas acabou não conseguindo apoio suficiente para continuar forte na disputa pela nomeação.

Quando Biden foi escolhido, ele iniciou o processo de seleção de um companheiro de chapa, com um foco explícito em escolher uma mulher, preferencialmente negra, para refletir a diversidade do partido e do país. Harris estava entre os principais nomes considerados, junto com outras figuras de destaque do partido, como Elizabeth Warren e Stacey Abrams.

Enfim, em agosto de 2020, Biden a escolheu como sua companheira de chapa, numa decisão histórica e simbólica. Sobre o convite, Harris afirmou que estava "incrivelmente honrada e pronta para trabalhar".

Já durante a campanha, Kamala continuou com a mesma energia para atacar e criticar vigorosamente a administração de Trump e seu vice, Mike Pence, em seu mandato. Um dos momentos de destaque foi em um debate contra Pence, o único realizado na época, mostrando-se firme em suas declarações e chamando a atenção para si quando pedia para não ser interrompida pelo adversário: "Se o senhor não se importar em me deixar terminar, poderemos ter um diálogo."

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