Mike Horn: modelos da Panerai assinados por ele em edição limitada (como o EcoPangaea™, da foto) são disputados por clientes em todo o mundo (Panerai/Divulgação)
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Publicado em 20 de setembro de 2021 às 09h00.
Última atualização em 20 de setembro de 2021 às 18h53.
Mike Horn é o nome de um dos maiores exploradores da atualidade. Dentre suas grandes conquistas na vida, cruzar os 7.000 quilômetros do Rio Amazonas a nado, dar a volta ao mundo seguindo apenas a linha do equador, fazer um trajeto por todo o Círculo Polar Ártico, além de decidir chegar ao Polo Norte durante o inverno, enfrentando temperaturas que podem chegar aos -70˚C em uma escuridão quase que constante.
Sua primeira expedição foi aos 31 anos, justamente no Rio Amazonas. De lá para cá, ele não parou mais. Parceiro da relojoaria de luxo Panerai há mais de duas décadas, Horn assina diversos modelos em edição limitada que são disputados por clientes em todo o mundo.
Com ele, a Panerai compartilhou a emoção de suas últimas quatro expedições – Arktos, North Pole Winter Expedition, Pangea e Pole2Pole – apoiando-o em seus desafios e criando em homenagem ao aventureiro uma série de relógios de edição limitada que imediatamente se tornaram objetos de desejo.
Aliás, muitas das apresentações da Panerai durante o principal evento da relojoaria na atualidade, o Watches and Wonders 2021, contam com materiais reciclados. Dentre elas estão o metal eSteel, feito integralmente de material reciclado, e o modelo Submersible eLAB-ID, um conceito que conta com 98,6% de seu peso total originário de materiais reciclados, algo pioneiro na relojoaria.
Recentemente, a Panerai também firmou uma parceria com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (IOC-UNESCO) para apoiar atividades educacionais relacionadas à preservação dos oceanos. A iniciativa faz parte da Década da Ciência dos Oceanos e Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e reforça a preocupação e o respeito da empresa pelo mundo marinho.
É sobre essa união de propósitos e valores que conversamos a seguir com Horn. Nascido na África do Sul, o aventureiro mora hoje na Suíça, de onde falou com exclusividade à EXAME. Confira:
EXAME: Qual é a importância de uma marca como a Panerai apresentar uma coleção sustentável?
Horn: Todas as marcas precisam mudar alguma coisa para poderem cuidar do planeta que nos fornece o material bruto. Sempre precisamos de líderes, de alguém para dar o exemplo para outros. Panerai apoia o que eu faço há 20 anos e me ajuda com meus projetos ambientais ao redor de todo o mundo. Sempre mostraram o compromisso com o planeta e seus recursos. E ver um produto que é reciclado é algo que me anima muito.
Como começou a sua história com a marca?
Em 2001, quando eu ganhei o Laureus Sport Awards, o Oscar dos esportes, conheci pessoas interessantes. E uma pessoa que eu conheci foi Johann Rupert, fundador do Grupo Richemont (grupo dono da Panerai). Após eu ter ganhado meu troféu, fomos para uma festa, ele tirou o relógio de seu braço, seu relógio pessoal, colocou no meu pulso e disse: “a partir de hoje, você apenas vestirá Panerai”. E é assim que nossa relação começou. Algumas semanas depois, eu fui na manufatura da Panerai e disse “quero percorrer o Círculo Polar Ártico, onde as condições podem ser de -70 graus, onde um relógio normalmente pararia de funcionar. Eu preciso que vocês desenhem um relógio que eu possa usar para navegação”.
E esse relógio foi feito exclusivamente para você?
Sim. O Arktos é o relógio que eu uso como instrumento de navegação. GPSs e telefones param de funcionar quando chegam a -18 graus porque o cristal líquido congela. O único instrumento de navegação que eu posso usar é o tempo. O relógio precisa ter precisão. Porque se ele perde uma hora, eu perco 15 graus da direção que estou seguindo. O relógio se tornou uma ferramenta que me permite sair, mas voltar vivo. Uma ferramenta que eu posso confiar. Uma ferramenta que eu precise apenas dela. Essa é a minha relação com a Panerai. Eles poderiam ter escolhido um jogador de futebol que tem milhões de seguidores. Eles poderiam vender milhares de relógios. Eles influenciam outras pessoas. Eu sou o cara que testa o relógio. Se eu digo que aquele relógio funcionou para determinada expedição, é aí que eu agrego valor ao produto da Panerai. Esta é a relação que agora seguimos para o futuro, com materiais amigáveis ao meio ambiente e recicláveis.
Aos 55 anos, o que mudou na sua forma de enxergar – e lidar com questões relacionadas à sustentabilidade?
Hoje eu tenho 55 anos e minha vida como explorador mudou um pouco. Quando eu tinha meus 30 anos, eu podia ir para a Floresta Amazônica, ir para Manaus, pude fazer o treinamento com os militares por lá para poder sobreviver na floresta. Eu era jovem e eu podia fazer qualquer coisa. Quando você envelhece e fica mais experiente, você percebe que não tem todo o poder da mente, nem mais o poder físico. Você está crescendo devagar e naturalmente ficando graciosamente mais velho. Mas é preciso mudar a área.
E o que você fez para se reinventar?
Eu vivi ao redor do mundo, na Ásia, por mais de 15 anos. Em cinco anos, eu dormi na minha cama apenas 32 dias. Os outros foram em tendas, barcos, no gelo, na floresta, em macas... Isso me dá uma visão que poucas pessoas têm. E é por isso que o meio ambiente e o planeta passaram a ser tão importantes para mim. Eu vi as mudanças, eu vi a Floresta Amazônica sendo cortada no Brasil, eu vi o fogo destruir milhares e milhares de quilômetros quadrados de florestas. Eu preciso fazer algo sobre isso. Não preciso mais cruzar a floresta, não preciso mais subir montanhas. Mesmo que eu ame fazer isso. Agora a vida se voltou mais para a conservação dos recursos do planeta.
Qual a sua percepção do brasileiro e do Brasil?
No Brasil, tudo é possível e tudo é impossível. Eu tive a ideia de construir um barco no Brasil. Eu conheci um engenheiro que me disse: “vamos construir um barco nas proximidades das comunidades de São Paulo, em Itapevi. Vamos empregar pessoas locais que não têm trabalho. E vamos criar um time de pessoas que querem trabalhar na construção do barco e que possam mandar o barco ao redor do mundo para fazer projetos ambientais”. Então, minha conexão com o Brasil não é apenas a de nadar pelo Rio Amazonas, viver em Manaus, mas também com as pessoas das comunidades, as pessoas que apenas estão lutando para alimentar seus filhos. E é isso que eu aprecio do Brasil. Não interessa qual a situação, sempre tem pessoas se ajudando, sempre pessoas apoiando uns aos outros. O Brasil é o paraíso. Eu encorajo todo mundo a viajar e conhecer. Você come bem, você se diverte, você trabalha bem – e convive com pessoas que mesmo com pouco dinheiro são felizes.
Como foi sua expedição pelo Rio Amazonas?
Quando fui para Manaus e comecei a me preparar, tive os melhores instrutores do Exército brasileiro para aprender a caçar, sobreviver, e como reagir se fosse atacado. Todo esse conhecimento foi passado para mim por pessoas que moram na floresta. Muitas pessoas que nunca estiveram de verdade na floresta têm dificuldade de entender que é possível encontrar o prazer. Elas só veem as cobras que podem te pegar, ou o animal que pode te comer, o sapo venenoso. A Amazônia deixa as pessoas com medo. Mas é o paraíso verde. Dá para viver em harmonia com a natureza. Agora, se nós apenas destruímos a floresta para tirar proveito, a natureza vai se voltar contra nós. O equilíbrio é muito importante para o futuro do nosso planeta.
Seu barco, o Pangaea, foi construído em 2008 no Brasil. Como foi esse processo?
O barco foi construído para ser muito resistente. Para poder ir aos lugares mais remotos do mundo. Foi construído como um tanque, um 4x4 dos oceanos, que pode ir para a Antártica, para o Polo Norte... Eu precisava de um veleiro que pudesse ser construído para todas as condições. Então comecei a procurar ao redor do mundo. Na Europa, uma embarcação como essa seria extremamente cara para construir. Nos EUA, teria levado muito tempo. E, como eu disse, no Brasil, tudo é possível. Se você tem um problema, as pessoas vão encontrar uma solução. Mas você precisa prestar atenção para que as pessoas que cuidam do trabalho sejam beneficiadas e fazer com que isso enriqueça a vida delas. Não tínhamos as tecnologias mais modernas, mas tínhamos as melhores pessoas. Do início do projeto até a conclusão dele foram 12 meses. Exatamente como planejado. E isso só pode acontecer no Brasil.
Você normalmente diz “eu não tenho medo de perder, mas eu vou para ganhar”. Teve muitas perdas na sua vida?
Sim. Perdi meu pai quando tinha 18 anos, perdi minha irmã, minha mãe. Perdi minha esposa. Aquelas perdas te mostram que a vida não é tão longa quanto você gostaria que fosse. Você precisa ter um propósito nesse mundo. E quando o propósito não está mais ali, você começa a olhar para o lado negativo da vida. Eu, pessoalmente, quando vou para o K2, quando eu estou muito perto do topo da montanha, eu tenho que voltar, porque a natureza sempre decidiu que não vai abrir as portas para eu chegar ao topo. Claro, existem outras montanhas altas, mais difíceis, que cheguei ao topo. Mas cada vez que vou para K2, eu falho. Isso é uma perda para mim como explorador. Quando você perde alguém que você ama é uma perda. Eu tenho tanto prazer e satisfação em aventura e exploração que equilibra minha vida. E no momento que você é feliz fazendo o que você gosta, você não se importa sobre a quantidade de dinheiro, ou sobre o carro que você dirige, não se importa se é convidado para as melhores festas ou não. Porque você é feliz consigo mesmo. Eu sou cercado de pessoas que sempre apoiaram as minhas ideias. Panerai me apoia há 21 anos. Construiu relógios que, sem eles, nunca poderia ter cruzado o Polo Norte e o Polo Sul. Isso é inspirador. Assim que temos essa inspiração, então, temos uma vida feliz.
Em uma das palestras que você deu, você fala que “liberdade não é sobre ter coisas, é sobre ter nada”. O que é o mínimo para você?
O momento que você não gasta mais dinheiro do que você tem, você tem liberdade. O momento que você deve coisas para pessoas, compra um carro que não pode pagar, uma casa que não pode ter, você sente que deve algo para as pessoas. O mínimo é poder viver pelos seus meios. Amizade é importante. E você não precisa de 100 amigos na vida. Você precisa de um ou dois amigos que sempre estarão lá para você, não interessa quanto dinheiro você tem. Se você tem uma família que te ama e te apoia, então você tem uma vida completamente feliz.
Como é sua relação com os clientes da Panerai?
Por estar na família Panerai por muitos anos, eu criei muitas conexões com essas pessoas. Elas têm orgulho de vestir meu relógio. Elas me mandam fotos, me mostram que têm orgulho de vestir o mesmo relógio que cruzou o Polo Norte. Criei relações com franceses, suíços, asiáticos, sul africanos, australianos, neozelandeses, pessoas que usam os relógios assinados por mim acabaram virando amigos pessoais. Viraram amigos porque se inspiraram pelo que eu faço como explorador... E eu me inspiro com o que eles fazem em suas vidas. E a inspiração é algo que encontramos de todo mundo, não interessa qual cultura, país ou religião você vem. Você precisa achar o bem em cada pessoa. O momento que você encontra o bem nas pessoas, você encontra o bem em você. E é assim que as conexões são criadas.
Em uma de suas mais importantes apresentações, você pergunta ao seu público: “O que faz você você?”. Qual é a sua resposta?
A partir do momento que você quer ser você, você pode ser você. No momento que você quer ser como os outros, você não é mais você, porque você finge ser uma outra pessoa. Isso é muito importante para entender que a pessoa mais fácil de ser é você mesmo. E se você segue seu coração e se você faz exatamente o que te faz feliz na vida isso faz você ser você. Eu sou um explorador. Talvez não sejam muitas pessoas que gostam de ir ao topo do Everest, ou descer o Rio Amazonas a nado, ou ir para o Polo Norte. Mas eu amo isso. E isso é o que eu sou. E nós somos o que pensamos, nós somos o que fazemos. Aquele momento que podemos fazer o que queremos, faz com que nos sintamos vivos, nos dá um sentido na vida. Um objetivo na vida. E é isso que faz com que a gente seja o que a gente é.
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