Les Femmes d'Alger, de Pablo Picasso (Andrew Burton/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 6 de maio de 2018 às 08h55.
Última atualização em 6 de maio de 2018 às 08h55.
Museus são cansativos. Passe algumas horas no Louvre, no Prado, no Museu Britânico, no Met ou no Uffizi, e suas pernas ficarão pesadas à medida que sua atenção diminuir. Tem tanta coisa para ver - tantas obras-primas de tantos milênios - que é impossível absorver tudo, por mais que você tente.
Mas Noah Charney, autor do novo livro "The Museum of Lost Art", está menos interessado em todas as obras de arte que temos e mais preocupado com as obras que se perderam.
O que foi destruído, escreve ele na introdução do livro, inclui "mais obras-primas do que todos os museus do mundo juntos".
A premissa de Charney não é muito polêmica: ele argumenta que nossa compreensão da história da arte é distorcida pelo que sobreviveu e que, para entender as obras de arte que ainda temos, é fundamental colocá-las no contexto do que foi perdido. “Muitas obras perdidas foram mais importantes e celebradas do que aquelas que sobreviveram”, escreve ele.
O livro “tenta corrigir esse preconceito a favor das obras sobreviventes”, continua ele, “e ressuscitar e preservar a memória das que se perderam”. Não é uma tarefa pequena. Antes mesmo do fim da introdução, o leitor fica imaginando como Charney conseguirá abarcar a totalidade da produção criativa da civilização em 280 páginas.
Spoiler: ele não consegue. Mas o livro não deixa de ser interessante. Consegue combinar o extenso conhecimento de Charney sobre crimes da arte com uma visão geral leve, e às vezes frívola, da história da arte. É uma espécie de guia SparkNotes sobre a destruição cultural. Em vez de tentar avaliar todas as obras perdidas, Charney escolhe alguns dos principais artefatos culturais perdidos e conta histórias vívidas sobre o destino cruel que eles enfrentaram.
O livro de Charney se divide em seções como roubo, guerra, acidente, iconoclastia e vandalismo, atos de Deus, destruição pelo proprietário, enterrado e exumado. Duas seções soam mais tênues: obras temporárias (que, por definição, não estão perdidas, porque deveriam desaparecer) e uma que se chama "Perdido, ou inexistente?". Esta última inclui discussões sobre mistérios que beiram a fantasia, como a corte do Rei Arthur e Atlântida. No que diz respeito ao conteúdo, parece encheção de linguiça.
O livro é mais sólido quando discute o que acontece com obras depois de acontecimentos desastrosos, como guerras e roubos. Como tal, é instrutivo para qualquer um que esteja pensando em roubar uma obra de arte. É que o crime (relativo à arte) não compensa.
Os paralelos entre a destruição de artefatos nos tempos antigos e a destruição atualmente infligida amonumentos históricos pelo Estado Islâmico e pelo Talibã são dolorosamente evidentes. Charney aborda a obliteração empreendida pelo Estado Islâmico no Iraque de Nimrud, uma cidade assíria de 3.500 anos, e menciona as monumentais estátuas de Buda de 1.700 anos que o Talibã dinamitou em Bamiyan, no Afeganistão, em 2001. Se alguém tiver tendências masoquistas, o vídeo da destruição das estátuas divulgado pela OTAN é verdadeiramente angustiante.
E isso nos leva à lição do livro de Charney. Não é, como ele nos leva a crer, que estamos perdendo o que alguma vez existiu. A verdadeira questão é que, se não tomarmos cuidado, o que sobrou - as abundantes riquezas que atualmente nos deixam exaustos no Louvre, no Uffizi, no Prado e no Met - também pode se perder.