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Medina, Italo, Tati e Silvana avançam para oitavas de final no surfe

Com a estreia do surfe nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, ontem (24), os quatro surfistas se classificaram para as oitavas de final das Olimpíadas na praia de Tsurigasaki

Gabriel Medina não participará de competições no início deste ano. (Lisi Niesner/Reuters)

Gabriel Medina não participará de competições no início deste ano. (Lisi Niesner/Reuters)

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Julia Storch

Publicado em 25 de julho de 2021 às 10h22.

Nas águas da não tão famosa praia de Tsurigasaki, o surfe faz sua estreia nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Após cinco anos desde o anúncio do esporte como modalidade olímpica, sendo um ano de adiamento da Olimpíada, atletas de 18 países já iniciaram as apresentações de suas manobras nas ondas japonesas.

Quatro brasileiros avançaram para as oitavas de final pelo surfe nos Jogos de Tóquio neste sábado, 24. Italo Ferreira venceu a primeira bateria do esporte disputada em uma Olimpíada, conquistando 13.67 pontos no somatório da competição disputada na praia de Tsurugasaki. Gabriel Medina competiu na última bateria do dia e também conquistou o primeiro lugar, com 12.23 pontos no somatório. 

Do lado feminino, Tatiana Weston-Webb e Silvana Lima também foram classificadas para as oitavas de final. Tati foi a vencedora de sua bateria com ondas de 6.33 e 5.00, totalizando 11.33 pontos. Já Lima, ficou em segundo lugar em sua bateria com ondas de  6.70 e 5.43.

As oitavas de final acontecem hoje (25) a partir das 19h (horário de Brasília).

De Baía Formosa para o mundo

Italo Ferreira transformava as tampas das caixas de isopor, que abrigavam os peixes capturados pelo pai, em pranchas de surfe. Ainda aos oito anos de idade, o potiguar da pequena Baía Formosa começou a pegar suas primeiras ondas. 

A 90 quilômetros de Natal, a cidade ganhou notoriedade em pouco tempo, através das conquistas de Italo. Aos 12 anos, o jovem conseguiu seu primeiro patrocínio, e aos 21 anos, em 2015, foi eleito o “estreante do ano” ao conquistar a 7ª posição no ranking no campeonato mundial. Após quatro anos, se sagrava campeão mundial no World Surf League. Por vídeo de sua cidade natal, Italo contou sobre seus projetos com o surfe. 

Italo Ferreira em Baía Formosa. (Redbull)

Com muitas vitórias ainda à vista, “uma mesa cheia de troféus” é um dos sonhos de Italo para sua carreira. Outro sonho, que em breve se tornará realidade, é a criação de seu instituto.

Para incentivar as crianças de Baía Formosa, o surfista está construindo o Instituto Italo Ferreira. Com previsão de abertura até o final do ano, o espaço será um local de ensino e incentivo ao esporte. “O Instituto será onde era a casa da minha avó. É um local especial, com muita história por trás”, conta. 

Para além dos limites da cidade, Italo pretende também alcançar crianças da região nordeste. “Será incrível poder dar essa oportunidade às crianças e poder vê-las crescendo. Sei que nem todas vão seguir a carreira, mas daremos uma luz pra cada uma delas”, diz. 

“Quando eu ganho, é bom não só para mim, mas para os outros, pois posso estender a minha mão e ajudar o próximo”, comenta. 

Em breve, a história do surfista será contada através de um documentário gravado pela Billabong. Com imagens de quando ainda era garoto, as gravações trazem ainda relatos dos pais e amigos do surfista que o acompanham por diversas viagens - para surfar, é claro.

O surfe também é para elas

Diferente de Italo, Tatiana Weston-Webb é filha de surfistas, o pai inglês e a mãe brasileira. Tati nasceu em Porto Alegre e se mudou com apenas um mês de vida para o Havaí com a família. Falando português, com um leve sotaque inglês em algumas palavras, Tati conversou por vídeo da Austrália, enquanto se preparava para a competição em Narrabeen.

Criada na meca do surfe, Tati se viu dividida entre o esporte aquático e o futebol. Desde os 8 anos de idade na água, aos 14 anos, decidiu levar o surfe como carreira. Minha mãe me disse, ‘se você quer ser profissional em um esporte, precisa escolher qual será’. Como eu jogava futebol de óculos, e me incomodava de ficar na reserva, escolhi o surfe, pois não precisava esperar ninguém me escolher”, conta rindo.

A escolha foi certeira, hoje, aos 25 anos, é uma das melhores surfistas da atualidade, está na liga de elite do surfe feminino mundial e é uma das fortes concorrentes à medalha nos Jogos Olímpicos.

Para além da medalha de ouro em Tóquio, a entrada do esporte nos Jogos já é um grande passo para os atletas, principalmente para as mulheres, comenta Tati. “O surfe sempre foi um esporte dominado por homens. No Havaí, cresci vendo mulheres pegando onda. Quando viajei para fora pela primeira vez, comecei a sentir o preconceito. Agora o surfe é olímpico e isso faz com que o respeito por nós, mulheres, aumente ainda mais. Isso me deixa mais motivada para chegar na competição e buscar o ouro”, diz.

Tati Weston-Webb, com dupla nacionalidade ela escolheu competir pelo Brasil. (Sean Evans)

O reconhecimento delas no esporte já vem trazendo frutos, como a participação feminina em uma etapa do World Surf League, a maior competição do esporte, em Pipeline, no Havaí. A disputa ocorreu no final do ano passado. Tati foi a única brasileira na disputa feminina, e a primeira surfista mulher a abrir a etapa nas águas havaianas.

Além da conquista de Pipeline, o bolso também sentiu o reconhecimento delas, visto que o pagamento passou a ser igualitário para ambos os gêneros. “Eu acho que para as novas gerações [a igualdade salarial] deu uma levantada nos ânimos. Agora é possível fazer esse esporte e criar uma vida. Antigamente era muito difícil criar uma carreira no surfe feminino”, comenta. 

Com dupla cidadania, Tatiana optou por representar o Brasil nas competições mundiais e olimpíadas. “Meu treinador é brasileiro, meu namorado é brasileiro, e eu me sinto muito mais brasileira do que americana", conta a surfista que antes competia pelo Havaí. 

O surfe como esporte olímpico

O surfe nasceu dos polinésios que viviam no Havaí e Taiti, mas foi popularizado no início do século XX pelo havaiano Duke Kahanamoku. Nos Jogos de Estocolmo (1912) e da Antuérpia (1920), o atleta conquistou três medalhas de ouro na natação e trouxe a popularidade ao surfe. Considerado 'o pai do surfe moderno' após mais de 100 anos desde a conquista de Duke nos Jogos, o surfe se tornou um esporte olímpico.

Dentro de uma semana, no mesmo Oceano Pacífico onde foi criado, as ondas do Japão receberão o esporte. Nas competições olímpicas, as rodadas serão divididas entre iniciais e principais. As rodadas iniciais terão baterias de quatro e cinco pessoas, e as rodadas principais terão baterias de duas pessoas, onde o vencedor avança para a próxima rodada e o perdedor é eliminado.

Com duração média de 30 minutos por bateria, cada atleta poderá surfar no máximo 25 ondas, e as duas ondas de maior pontuação serão contabilizadas. As manobras não têm pontuações prescritas.

Segundo o site oficial da Olimpíada de Tóquio, um dos desafios do surfe é a imprevisibilidade do mar. “Não há duas ondas iguais, tornando o surfe uma competição onde os atletas competem entre si enquanto equilibram as condições mutáveis ​​da natureza”.

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