Nike: plano de recuperação financeira “Win Now”, redirecionando o foco para esportes como corrida, basquete, treino e sportswear (ANGELA WEISS/AFP/Getty Images)
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Publicado em 20 de outubro de 2025 às 06h49.
Há alguns anos, os tênis de performance conquistaram uma popularidade que ultrapassa o público esportista. Seguindo a tendência do athleisure antes mesmo de ela se consolidar, modelos indispensáveis nas atividades físicas se tornaram objeto de desejo — e presença constante — no guarda-roupa de quem adota o streetwear, especialmente entre os chamados hypebeasts.
Esse movimento acompanha um mercado global de sportswear em expansão: segundo relatório do IMARC Group, o setor deve alcançar US$ 5,99 bilhões até 2033.
A década de 2010 trouxe ao Brasil a febre do Air Jordan, da Nike, inspirados no basquete. O estilo e a ligação com Michael Jordan, um dos maiores jogadores da história do esporte, impulsionaram o sucesso da linha no país — um bom exemplo de como os tênis de performance conseguem transitar com naturalidade fora das quadras.
Antes disso, nos anos 2000, o Nike Shox, criado originalmente para corridas, também conquistou o público brasileiro. Hoje, alguns modelos chegam a ultrapassar os R$ 1 mil. A mesma tendência se repete com a Salomon, marca de calçados para trilhas e montanhismo, cujo modelo Speedcross ganhou espaço nas ruas e atividades de lazer na Europa.
A mistura de segmentos não passa despercebida pelas empresas. A Salomon já investe em modelos desenvolvidos especialmente para quem não é atleta — ainda que o sucesso entre esse público tenha origem justamente nos tênis de performance. Em 2024, a marca superou pela primeira vez a marca de US$ 1 bilhão em receita. Sua nova aposta é o modelo Grvl, que promete unir desempenho esportivo e estilo urbano.
A Nike, por sua vez, que se consagrou como gigante do esporte, apostou por um tempo em modelos de lifestyle, como o Nike Dunk. Com a queda nas vendas e o avanço da tendência de bem-estar, a empresa lançou o plano de recuperação financeira “Win Now”, redirecionando o foco para esportes como corrida, basquete, treino e sportswear — que, ainda assim, conversa com públicos fora dos centros esportivos.
A estratégia deu resultado: no primeiro trimestre do ano fiscal de 2026, a companhia registrou US$ 11,7 bilhões em receita, alta de 1% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Cuidar da saúde se tornou prioridade, especialmente após a pandemia de Covid-19. Em 2022, um levantamento da Tecnofit mostrou que as academias brasileiras tiveram aumento de 18% no número de alunos em comparação com 2019. O mesmo movimento é observado nas corridas de rua, que cresceram até 35% em 2024, segundo relatório do Strava.
A democratização dos esportes também contribui para o avanço. Dados da Circana apontam que, nos Estados Unidos, as vendas de tênis de performance inspirados em corrida e futebol cresceram 6% entre janeiro e agosto deste ano.
Além dos designs mais marcantes, os calçados esportivos incorporam tecnologias que aumentam o conforto nas atividades físicas — diferencial importante para quem busca cuidar da saúde ortopédica, substituindo calçados de sola reta por modelos com amortecimento. As peças e acessórios também refletem uma escolha de estilo de vida, reforçando a ideia de que bem-estar e estética caminham juntos — princípio central do athleisure.
Antes, os públicos se diferenciavam e, como água e óleo, quase não se misturavam. Agora, a tendência também segue o caminho inverso: roupas e tênis antes básicos deram lugar a designs mais inovadores e chamativos, tanto entre atletas quanto entre entusiastas. Assim, os públicos se aproximam, agregando ainda mais valor à fusão entre os segmentos.