Yuri de Souza: ídolo de Ponferrada, cidade de 66.824 habitantes (Angel Martinez/Getty Images)
Ivan Padilla
Publicado em 30 de maio de 2021 às 08h46.
Última atualização em 30 de maio de 2021 às 21h43.
O futebol espanhol deve muito aos artilheiros brasileiros. De Romário a Neymar, passando por Rivaldo, Ronaldo Nazário e mais um punhado de craques. Mas o maior jogador nascido no Brasil a brilhar nas canchas da Espanha não é conhecido por aqui. Ele se chama Yuri de Souza.
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Yuri, apelidado de “El Mago de Maceió”, “El Capitán” e, codinome roubado de alguém, “O Fenomeno”, tem mais de 180 gols marcados em cerca de 400 jogos em 14 temporadas na Espanha. Nenhum brasileiro fez tanto.
Neymar marcou 105 vezes pelo Barcelona. Ronaldo Fenômeno fez 151 gols entre Real Madrid e Barcelona. Rivaldo balançou as redes 130 vezes pelo Barça. Também pelo clube catalão, Romário marcou apenas 53 gols.
Claro, Yuri não fez seus tentos na La Liga, a badalada primeira divisão espanhola. Há 11 anos ele defende a camisa do pequeno SD Ponferradina, time da região de León, no noroeste da Espanha, que disputa a Liga SmartBank – o nome pomposo esconde a segunda divisão espanhola. SmartBank é uma divisão digital para um público mais jovem do Santander, que patrocina, essa sim, La Liga espanhola.
Yuri não jogou neste domingo, na última rodada da segunda divisão. O Ponferradina terminou em oitavo lugar no campeonato e, portanto, não subirá para a primeira divisão. Na temporada, ele marcou 11 gols, bem abaixo dos 23 tentos de Raúl de Tomás, artilheiro do Espanyol, que pode ser o campeão – os primeiros colocados da segunda divisão ainda disputam semifinal e final.
Com a camisa 10 e a faixa de capitão do time, Yuri fez história na Espanha. E não apenas pela nacionalidade brasileira. Desde que estreou no futebol espanhol, em 2005, é o terceiro maior goleador entre as três principais divisões da Espanha. Acima dele estão Lionel Messi e Cristiano Ronaldo.
Aos 38 anos, Yuri nunca jogou no Brasil. Seu pai, Alex, foi volante em times como CRB, CSA e Sport. No fim da década de 1980, foi jogar em Portugal. Yuri tinha então cinco anos. Por lá, deu seus primeiros chutes e ganhou a cidadania portuguesa.
Yuri estreou no futebol profissional em 2000. Durante cinco anos, atuou no FC Maia, Gil Vicente e Estoril Praia, em Portugal. Em 2005, foi para a Espanha, para o Pontevedra inicialmente e depois o Las Palmas, até ser transferido para o Ponferradina, na pequena cidade de Ponferrada, em 2009.
O Mago de Maceió não é o único jogador da família. Seu irmão Igor de Souza, de 42 anos, é também atacante e hoje defende o La Virgem del Camino, time da terceira divisão espanhola. Igor já jogou na Grécia e em Portugal.
Yuri e Igor são primos de Charles Dias, de 38 anos, também atacante. Charles defende o Pontevedra, time da terceira divisão, e é filho do ex-jogador Careca. Não aquele Careca craque do Napoli e da seleção brasileira, mas de Raimundo do Carmo de Oliveira Barbosa, que tem o mesmo apelido e atuou no futebol paranaense, no Santos e em Portugal.
Yuri, Igor e Charles chegaram a jogar juntos no Pontevedra entre 2006 e 2007.
Craques de times menores podem não ter um Audi para ir aos treinos como os jogadores do Real Madrid, mas desfrutam a idolatria das pequenas comunidades, invisíveis aos olhos do grande público.
A Ponferradina, o mais antigo time da região de Castela e Leão, sempre oscilou entre o futebol regional e a terceira divisão. Somente em 2006 chegou à segunda divisão, motivo de comemorações exacerbadas entre os 66.824 habitantes de Ponferrada.
Em uma entrevista ao jornal El País, o presidente do time José Fernández lembra da chegada de Yuri, em 2009. “Aquele primeiro ano não foi fácil. Ele teve uma lesão e quase não conseguiu participar. Mas o clube tratou de ajudá-lo e aos poucos ele foi se adaptando.”
O jogador foi se afeiçoando ao time, à torcida e ao botillo, um embutido típico da região de partes variadas do porco. Yuri ficou no time desde então, com uma breve passagem pela China. Em quase todas as temporadas superou os dez gols.
Yuri, mago de Maceió e ídolo de Ponferrada, tem ainda uma meta: levar seu time pela primeira vez à primeira divisão. É com isso que sonham todas as noites os hinchas do Ponferradina.
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