Netflix: trama começa com a morte do dono da equipe Clube de Cuervos (Pascal Le Segretain/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 6 de agosto de 2015 às 16h33.
Los Angeles - O canal de televisão por streaming Netflix estreia nesta sexta-feira sua primeira série original em espanhol, "Clube de Cuervos", uma comédia mexicana focada nas disputas de poder entre os herdeiros de um time de futebol e que aborda com bom humor o machismo reinante nesse esporte.
A produção de 13 capítulos foi desenvolvida pelo diretor Gaz Alazraki e o produtor Leonardo Zimbrón, do filme "Uma família muito nobre" (2013), e também contou com Luis Gerardo Méndez e Ianis Guerrero como protagonistas.
Mariana Treviño ("O amor dos meus amores", 2014) e Stéphanie Cayo ("O secretário", 2011) lideram o elenco feminino com personagens que fazem tudo o que está ao alcance para sobreviver em um mundo de homens.
"O futebol é mais machista do que qualquer outra indústria. A diretoria é muito voraz. Que os jogadores te ouçam quando você quer dizer algo é praticamente impossível. É machista, sem dúvidas", disse Alazraki em entrevista à Agência Efe.
O diretor, que contou com quatro roteiristas americanos de séries como "The Sopranos" e "Two and a Half Men" para escrever "Clube de Cuervos", afirmou que a história, apesar de ser uma ficção, se baseia em experiências e testemunhos da vida real.
"Fizemos bastante pesquisa. Viajamos pelo México, (os roteiristas) conhecemos jogadores, treinadores, árbitros e os entrevistamos. Eles nos contaram histórias e transformamos na coleção de lembranças que foi estruturando o universo que culminou na primeira temporada", explicou Alazraki.
A trama começa com a morte do dono da equipe Clube de Cuervos, uma figura emblemática na cidade de Nuevo Toledo, e narra as tensões entre os dois herdeiros diretos, um jovem superficial e fã de festas (Méndez) e sua irmã, uma talentosa executiva (Treviño).
Apesar de sua experiência e preparação, o posto de presidente acaba com o filho homem com o apoio do entorno (masculino), e ela se verá relegada a um discreto segundo plano de onde terá que fazer o possível para que o clube, como empresa, não afunde.
A trama com jeito de telenovela - que Alazraki descreveu como uma combinação entre "Arrested Development", "Entourage", "Arli$$" e "House of Cards", expõe impiedosamente a realidade feminina no futebol e que habitualmente fica sob uma montanha de resultados esportivos.
Um estudo da organização britânica Women in Football divulgado em março de 2014 mostrou que 66,4% das mulheres que vivem deste esporte disseram ter testemunhado atitudes sexistas em seu ambiente de trabalho, e uma em cada quatro indicou que sua condição de mulher as impediu de conseguir uma promoção no trabalho.
Um terço das mais de 660 entrevistadas foram testemunha de comentários que menosprezavam sua capacidade de fazer uma tarefa pelo mero fato de serem mulheres, e mais da metade se mostraram preocupadas de serem julgadas mais por seu aspecto físico do que por seu talento.
"Já me disseram em uma entrevista de trabalho que era um problema eu ser mulher", disse uma das participantes.
"Em meu primeiro dia de emprego, um veterano tocou meu bumbum quando passei ao lado dele", revelou outra.
"Clube de Cuervos", cujo objetivo principal é fazer rir mais do que servir de denúncia social, recorreu a esse sexismo como um de seus pilares cômicos. O diretor Alazraki confia que o tom e as brincadeiras se conectarão com o público dentro e fora do México.
"O paradigma de que as comédias latino-americanas têm humores muito particulares têm mais a ver, acho, com as propostas que existiam não terem universalidade. Uma pessoa que é gananciosa pode ser engraçada no México e na China. Se você consegue enquadrar o que há de sarcasmo e ironia nessas circunstâncias, acredito que pode ser apreciada no mundo todo", disse.