Livraria da Vila: foco no e-commerce com crise do setor durante a pandemia (Livraria da Vila/Divulgação)
Guilherme Dearo
Publicado em 25 de maio de 2020 às 09h30.
Última atualização em 25 de maio de 2020 às 14h46.
Samuel Seibel, o presidente da Livraria da Vila, fala sobre os impactos da pandemia do coronavírus no mercado de livros, a não inclusão das livrarias na lista de atividades essenciais e como tem enfrentado a quarentena. Confira:
Em março, vendemos 38.947 livros, ou 40% em relação ao mesmo período no ano passado. Em abril a queda foi absurda, maluca, de 97%. Foram 1.788 vendas contra 75.373 em abril de 2019.
Nós sempre priorizamos as lojas físicas, porque achamos que a interação é importante no nosso negócio. Faz parte da nossa filosofia. Mas nunca negamos a importância dos e-commerces. Em dezembro, alguns anos depois de muita gente, lançamos o nosso. Mas sem alarde, não divulgamos nem nas redes sociais. É um tipo de operação que demora um tempinho para deslanchar. A previsão era investir na divulgação a partir de março. Não posso dizer que o e-commerce é o que está salvando porque o faturamento dele não é expressivo. Mas se não existisse sem dúvida não estaríamos ganhando nada. As vendas online correspondem ao que vendíamos em uma loja pequena, como a de Moema ou a do Aurora Shopping, em Londrina. Tivemos um pequeno período para dominar a logística de vendas e entrega e estamos indo muito bem. Também começamos a vender por WhatsApp.
Não cogitamos isso. As lojas vinham muito bem desde o final de 2018 e 2020 começou direitinho. Hoje não há nenhuma razão para não prever a reabertura de todas elas. Fizemos suspensões temporárias de contratos e talvez tenhamos de reduzir jornadas. Estamos tentando segurar todo mundo, mas imaginamos que não voltaremos ao patamar de antes após a reabertura, que prevemos para meados de junho. Ninguém sabe exatamente o que vai acontecer no mercado, quais serão os hábitos de consumo depois da quarentena. As lojas de ruas devem abrir primeiro, as de shoppings devem demorar.
Eu não sei, mas acho que esse número não se repete na França ou na Alemanha, países com forte tradição literária. Precisaria destrinchar um pouco melhor esse crescimento. Será que o mercado editorial está fazendo alguma ponte direta com os consumidores? As livrarias? Mas no fundo é uma questão cultural. Os filmes e as séries estão bombando, claro, mas são opções mais cômodas. Basta sentar e receber o que vem da tela. Não é assim com os livros. Estão intrinsecamente ligados à educação do país. As vendas de livros no Brasil só vão aumentar quando a educação melhorar. É um desafio que vem de outras décadas, séculos. Não é preciso recorrer ao primeiro mundo para constatar como o hábito de leitura é baixo por aqui. Veja a Argentina, o Uruguai, a Colômbia.
Não me surpreende, sem nenhuma conotação política. É um dia após o outro de notícias pitorescas, vamos chamá-las assim. Sou meio careca e estou há dois meses e meio sem cortar o cabelo, então não posso considerar prioritário o setor dos nobres cabeleireiros e barbeiros, que também precisam sobreviver, claro. Mas é um gesto político, porque não faz muito sentido se você comparar com a importância das livrarias. Independentemente de ser um empresário do setor, o livro é um alimentador da alma. Ele te oferece uma ajuda, um reforço, em qualquer situação, de euforia ou depressão. Mas a verdade é que ninguém sabe muito bem o que fazer. Não estou dizendo que tem que começar pelo nosso mercado. Por sobrevivência quero abrir as livrarias, mas se isso não for a melhor coisa para a saúde da população, acho temerário.
Acho que o principal seria linha de crédito de capital de giro direto do BNDES, sem o spread do banco. Taxas baixas, com carência de dois anos e cinco para pagar. Dar fôlego de verdade. Na esfera municipal, conseguir isenção de IPTU.
Sempre leio bastante, coisas variadas, novidades. Agora estou lendo “Tumulto”, de Hans Magnus Enzensberger [Editora Todavia]. É fantástico, um cara que foi de esquerda e viveu os anos 1960, 1970 em diferentes lugares, foi convidado para lecionar em Cuba, na Coréia… Mas o que aprendi mesmo nessa quarentena foi a cuidar da casa. Varrer, cozinhar, passar aspirador, enxugar louça. São horas e horas com coisas que eram consideradas uma perda de tempo absurda. A moça que vinha três vezes por semana continua contratada, mas na casa dela. Gasto boa parte do dia com tarefas domésticas, não dá para ficar lendo na rede. Também me entreguei aos seriados. Antes quando falavam em “Downton Abbey” me sentia um peixe fora d’água. Uma que vi e gostei foi “Mr Selfridge”. Não é que é interessante?