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Lance Armstrong: a queda do ex-poderoso chefão do ciclismo

A decisão da União Ciclística Internacional (UCI) acaba de vez com o mito do atleta que para muitos representou um exemplo de superação

O americano Lance Armstrong compete na Volta da França, em Paris:  (©AFP / Jack Guez)

O americano Lance Armstrong compete na Volta da França, em Paris: (©AFP / Jack Guez)

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Da Redação

Publicado em 22 de outubro de 2012 às 17h21.

Paris - Imbatível durante sete anos na Volta da França, o americano Lance Armstrong, que chegou a ser considerado uma lenda do ciclismo, teve sua imagem manchada para sempre por ter montado um sofisticado esquema de doping, e perdeu oficialmente, nesta segunda-feira, os títulos conquistados de 1999 a 2005.

A decisão da União Ciclística Internacional (UCI) acaba de vez com o mito do atleta que para muitos representou um exemplo de superação por voltar a competir em alto nível mesmo depois de ter sido atingido por um câncer nos testículos em 1996.

"Quero ser muito claro: há dois Lance Armstrong. Antes e depois (do câncer)", escreveu o americano na sua autobiografia publicada em 2000.

"Antes", o ciclista era especialista de corridas de uma dia só, que mostrou um talento precoce ao se tornar um dos mais jovens campeões mundiais da história em 1993, com apenas 22 anos.

"Depois" de sobreviver à doença, Armstrong tornou-se um competidor implacável em corridas por etapas, com muita frieza e uma grande autoridade sobre o pelotão. Quando voltou a disputar a Volta da França em 1999, já não era mais o mesmo homem. Seu diretor esportivo, Johan Bruyneel, o convenceu do seu potencial de vencer a competição de maior prestígio do ciclismo mundial.

O ciclista, que antes sofria nas etapas de alta montanha, passou a desenvolver uma cadência de pedalada espetacular nas ladeiras e um ritmo impressionante nas provas contra o relógio.

Além de dominar seus adversários com folga durante sete edições seguidas Armstrong atuava como uma espécie de 'poderoso chefão' do pelotão, 'punindo' os poucos competidores que chegaram a questionar sua hegemonia.


Isso aconteceu com o francês Christophe Bassons, que em 1999 chegou a declarar que ficou "chocado" com a facilidade com a qual o americano venceu uma etapa em Sestrières.

Na etapa seguinte, Armstrong teria convencido todo o pelotão de andar devagar no início da prova e quando Bassons tentou uma fuga, todos os demais ciclistas aumentaram o ritmo para alcançá-lo.

Certa vez, o americano disse a ele que suas denúcias sobre suspeitas de doping prejudicavam o esporte e que, se não estava satisfeito, deveria encerrar sua carreira, o que o francês acabou fazendo dois anos depois, com apenas 27 anos.

O mesmo aconteceu com o italiano Filippo Simeoni, que acusou o doutor Michele Ferrari, médico de Armstrong, de ter oferecido produtos proibidos como EPO (Eritropoetina) ou hormônios de crescimento.

Quando Simeoni tentou uma escapada numa etapa da Volta da França de 2004, o americano saiu do pelotão pessoalmente para alcançá-lo, impedindo qualquer chance de vitória.

A partir dos seus resultados excepcionais e da sua história de superação, Armstrong, construiu um mito que rendeu a ele uma fortuna pessoal avaliada em 96 milhões de euros.

Era a volta por cima do atleta que teve uma infância difícil no Texas, sem conhecer seu pai biológico e com relações complicadas com seu padrasto.


Ele usou seu prestígio para arrecadar fundos para a luta contra o câncer através da sua fundação 'Livestrong', que vendeu mais de 80 milhões de pulseiras amarelas desde 2004.

Sua popularidade foi além das fronteiras do esporte e permitiu que fosse recebido com pompa por líderes mundiais, como o ex-presidente americano George W.Bush na Casa Branca ou o francês Nicolas Sarkozy no Palácio do Eliseu.

Ele mesmo chegou a ter ambições políticas e já cogitou se candidatar a governador do Texas. Sua amizade com estrelas de Hollywood (Robin Williams, Ben Stiller ou Sean Penn) também rendeu a ele destaque em revistas de fofocas.

Em 2003, seu divórcio com cantora Sheryl Crow teve uma grande repercussão. Hoje ele é casado com Anna Hansen, mãe de dois dos seus cinco filhos.

Em 2008, voltou ao ciclismo após três anos fora das estradas, mas não conseguiu os resultados esperados devido a tensões com seu 'sucessor', o espanhol Alberto Contador, que competiu ao seu lado na equipe Astana.

Em 2009, ficou em terceiro da Volta da França com 38 anos e acabou se retirando definivamente das corridas depois da edição seguinte, que terminou numa discreta 22ª posição.

"Chega um momento na vida de um homem que é preciso dar um basta", disse o americano, ao explicar porque resolveu não recorrer da sanção aplicada pela Agência Americana Andidoping (USADA), em agosto.

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