Indígenas aprenderam sobre audiovisual em 13 dias e produziram série documental (Instituto Raoni/Divulgação)
Agência O Globo
Publicado em 8 de agosto de 2022 às 15h08.
Vinte jovens indígenas de quatro povos se reuniram na aldeia Wani Wani, na Terra Capoto-Jarina, no Mato Grosso, com uma missão: se tornarem narradores da própria história. Durante 13 dias, o grupo participou de um curso promovido pelo Instituto Raoni, organização do povo Kayapó, e abraçou a oportunidade de aprender sobre técnicas de audiovisual e, também, em relação à importância da comunicação como ferramenta para defender e fortalecer os direitos dos povos originários. O resultado é uma websérie documental, que será lançada nesta terça-feira (9, Dia Internacional dos Povos Indígenas).
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"Nos trouxe muitos sentimentos e uma vontade de cada vez mais produzir. A mensagem que deixo para outros jovens indígenas que querem trabalhar com essas ferramentas é que não desistam. Busquem caminhos que possam te ajudar a entendê-las e compreender a linguagem do branco para depois repassar isso para a sua linguagem, para o seu mundo. Precisamos dar visibilidade à causa, à diversidade e à valorização dos comunicadores indígenas através dessa ferramenta que traz tantos sentimentos", relata Matsi Waura Txucarramãe, de 28 anos, um dos participantes do projeto
O curso, realizado entre os meses de maio e junho, contou com oficinas e práticas audiovisuais coordenadas pelos cineastas indígenas Kamikia Kisedje e Arewana Juruna e por Simone Giovine. A websérie fruto do projeto será composta por sete curtas-metragens, e será lançada no canal do YouTube do Instituto Raoni.
Os curtas, revela o Instituto, misturam cenas do cotidiano das aldeias, com partes encenadas, entrevistas em português e em línguas nativas, cenas que buscam resgatar a história, preservar a cultura e contam em primeira pessoa ao espectador sobre a vida de povos indígenas no Brasil.
O projeto contou ainda com o apoio da ONG Conservação Internacional (CI-Brasil). O objetivo principal da atividade, segundo a instituição, foi formar comunicadores e fortalecer a rede de divulgação de informações e de colaboradores que atuam no território Capoto-Jarina, na Região Centro-Oeste.
"A comunicação tem assumido um lugar de destaque para o fortalecimento das pautas indígenas e os jovens são os grandes protagonistas desse movimento, dominando cada vez mais as ferramentas dos meios digitais e audiovisuais que são fundamentais. Não apenas para comunicar a cultura, mas também para falar da realidade de seus territórios, que hoje são impactados por inúmeras violações ambientais", afirma Vivian Fraga, coordenadora de projetos na CI-Brasil.
A iniciativa ocorre em um momento de diversos desafios para os povos indígenas. Paralisação da demarcação das suas terras, desmatamento desenfreado e o crescimento do garimpo ilegal são alguns exemplos dos problemas enfrentados diariamente. Segundo dados do censo do IBGE realizado em 2010, o Brasil abriga 817.963 mil indígenas de 305 etnias e que falam 274 línguas. A maioria dessa população é formada por jovens.