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Joalheiros de Florença anseiam pela volta dos turistas

Como grande parte do resto da cidade, os negócios feitos nas joalherias da Ponte Vecchio foram incentivados e agredidos pelo turismo – e então quase desapareceram com a súbita ausência causada pela pandemia

Relógios e joalherias ao longo da Ponte Vecchio em Florença, Itália. (Susan Wright/The New York Times)

Relógios e joalherias ao longo da Ponte Vecchio em Florença, Itália. (Susan Wright/The New York Times)

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Julia Storch

Publicado em 13 de junho de 2021 às 09h20.

"A Ponte Vecchio vive dos americanos", disse Fadi Ayshoh, diretor de varejo da butique Gold Art, ao colocar um diamante de cinco quilates, que custa 160 mil euros, na vitrine. "Ele vai ficar aqui até os americanos voltarem. Então, vai vender em um piscar de olhos."

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A esperança entre os joalheiros dessa ponte medieval vem aumentando nos últimos dias, desde que a Itália retirou os requisitos de quarentena para viajantes da União Europeia, do Reino Unido e de Israel, e abriu suas portas para um punhado de voos para passageiros com teste negativo de Covid dos Estados Unidos e de outros países. "Neste verão, não teremos os números que tivemos em 2019, mas haverá pessoas de qualidade, pessoas que realmente amam a Itália", afirmou Ayshoh.

O passado renascentista de Florença é mais evidente na Ponte Vecchio. Seu chão de pedras é cercado por 48 vitrines de joalherias minúsculas, com seu espaço de trabalho que desafia a gravidade, apoiado nas vigas da ponte.

Construída em 1345 na travessia mais estreita do Rio Arno, a Ponte Vecchio era originalmente um mercado de carne e peixe, mas, depois que o corredor Vasari dos Medici foi construído para que a família pudesse atravessar a ponte com conforto, um decreto de 1593 de Ferdinando I de' Medici substituiu as malcheirosas operações por ourives e joalherias. Até hoje, as lojas são reservadas exclusivamente para joalheiros, embora a maioria dos artesãos que colaboram com eles tenha se mudado para locais além da cara faixa comercial da ponte.

Como grande parte do resto da cidade, os negócios feitos lá foram incentivados e agredidos pelo turismo – e então quase desapareceram com a súbita ausência causada pela pandemia.

Antes da disseminação do coronavírus, a Gold Art arrecadava dez milhões de euros (cerca de US$ 12,15 milhões) por ano. Agora, seus três endereços na Ponte Vecchio podem passar semanas sem uma única venda, e, mesmo assim, cada loja tem de pagar de 15 mil a 25 mil euros de aluguel todos os meses.

Joias em exposição na loja de joias e prata antigas de Roberto Vaggi na esquina da Ponte Vecchio, em Florença. (Susan Wright/The New York Times)

As peças campeãs de vendas não têm marca: criadas por artesãos nas proximidades, são delicadamente trabalhadas e feitas com técnicas renascentistas de fabricação, desenvolvidas ao longo dessa mesma ponte. "Nossos clientes as compravam como bala, porque não se consegue essa obra florentina em outro lugar do mundo", garantiu Ayshoh.

Os ourives da cidade há muito tempo são vistos como virtuosos de várias técnicas altamente especializadas, e muitos artistas do Renascimento vieram de suas fileiras, incluindo Donatello, Brunelleschi e Ghiberti.

Em 2019, hotéis e aluguéis de temporada receberam 11 milhões de visitantes, e alguns dos 367 mil habitantes da cidade marcharam pelas ruas para protestar contra essa invasão. Em 2020, o desaparecimento abrupto dos turistas deixou o centro da cidade vazio e o orçamento municipal com um déficit de 160 milhões de euros, 25 por cento do total.

"A cidade de Florença foi invadida – felizmente! – pelo turismo. De que outra forma uma cidade deste tamanho poderia suportar uma ponte cheia de produtos de luxo como estes?", disse Roberto Vaggi, da segunda geração de donos da S. Vaggi, o negócio de joias antigas e prata de sua família na esquina da Ponte Vecchio.

Hoje, dois funcionários da S. Vaggi se mudaram do andar de vendas para um escritório no andar de cima para lidar com pedidos de clientes de longa data por e-mail e telefone – a maneira como os negócios são hoje feitos aqui. Como quase todas as lojas da Ponte Vecchio, a S. Vaggi não tem uma versão on-line.

Entre as antiguidades de Vaggi há pingentes de ouro cortados em favo de mel cravejados de brilhantes e os micromosaicos que eram as lembranças originais do Grand Tour. Sem dúvida, alguns turistas que retornam vão procurar por esses itens, mas outros terão gostos diferentes.

A Cassetti, conjunto de quatro lojas familiares na Ponte Vecchio, começou como ourivesaria em 1926. Hoje, suas vitrines são dedicadas a gigantes multinacionais como Rolex, Vacheron Constantin e Cartier – "marcas que os clientes podem comprar em qualquer cidade do mundo", admitiu o proprietário Filippo Cassetti. No entanto, ele também se gabou de introduzir as vendas de relógios diferenciados na Ponte Vecchio, insistindo que "ofertas de luxo como a minha elevam o calibre do turismo, assim como um hotel cinco estrelas".

Quando o último lockdown da região terminou em 17 de abril, apenas os relógios de luxo da Cassetti atraíram um fluxo constante de clientes. O resto da Ponte Vecchio estava desolado, sem a habitual multidão de visitantes fazendo selfies.

Muitas lojas minúsculas ainda não abriram, estando fechadas com madielle, as típicas persianas de madeira pesada com dobradiças de ferro que as têm protegido ao longo dos séculos.

"Costumávamos ver centenas de pessoas por dia em nossas lojas. Agora estamos sozinhos", lamentou Giuditta Biscioni, presidente da Associação Ponte Vecchio, que representa suas lojas. Ela disse que não tinha números anuais de renda, mas estimou que as empresas-membros viram os lucros cair 80 por cento no último ano. E a comunidade artesanal que trabalha com eles é ainda mais vulnerável, afirmou ela, acrescentando: "Quando estamos fechados, eles ficam em uma situação desesperadora."

Embora o governo tenha permitido que oficinas familiares e independentes permanecessem abertas durante os lockdowns, a maioria tinha pouco a fazer – e os artesãos eram elegíveis a apenas alguns pequenos pagamentos de estímulo. Os proprietários das lojas receberam alguma compensação do governo pelo fechamento, embora esta fosse apenas cerca de três por cento da renda perdida. Os funcionários tiveram licenças parcialmente financiadas, mas houve reclamações sobre grandes atrasos nos pagamentos.

"Estamos vivendo dos ganhos do passado agora, e só preparando as coisas para o dia em que os turistas puderem voltar", disse Daniela Messeri, segurando uma pulseira de ouro no Nerdi Orafi, ateliê de sua família desde 1948. O Nerdi, cujas joias artesanais refletem a arte florentina clássica, é uma das 20 oficinas na Casa dell'Orafo, mosteiro ao norte da Ponte Vecchio que há quatro séculos foi convertido em estúdios para ourives e lapidadores.

Os artesãos da Casa dell'Orafo ainda trabalham para as lojas da Ponte Vecchio, mas a própria Nerdi floresceu durante o boom das viagens, quando turistas bem informados compravam diretamente da oficina. "Todos nós, no centro de Florença, vivemos do turismo, mas alguns ainda tentam manter as velhas tradições", comentou Messeri, enquanto seu ourives gravava um anel de ouro com flores delicadas.

Na Fratelli Piccini, loja que data de 1903, a dona da quarta geração, Elisa Piccini, emprega um dos poucos ourives que ainda permanecem na Ponte Vecchio. "Deveria ter havido regulamentos para ajudar os artesãos antes", disse ela com um suspiro.

Sua ourives de 21 anos, Carlotta Gambineri, soldava um pingente com contas de granada para um colar de turmalina rosa – um dos muitos desenhos personalizados que ela criou. "Algumas tradições merecem apoio. E a cidade também. Florença é como um museu. E um museu precisa de um bilhete para entrada e uma capacidade fixa", afirmou Piccini, olhando pela vitrine da butique para o museu Uffizi, rio acima.

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