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Jacques Audiard leva dureza e emoção para Cannes

Apesar de pecar pelo excesso de histórias paralelas, o drama foi filmado com mestria e sem condescendência alguma aos problemas dos personagens

Em "De Rouille Et D'Os", personagens em tempos de crise protagonizam uma história na qual os elementos principais são os sentimentos e a violência

Em "De Rouille Et D'Os", personagens em tempos de crise protagonizam uma história na qual os elementos principais são os sentimentos e a violência

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Da Redação

Publicado em 17 de maio de 2012 às 10h56.

Cannes - O diretor Jacques Audiard e a atriz Marion Cotillard emocionaram e levaram um tom mais sério para o Festival de Cannes com um drama que peca pelo excesso de histórias paralelas, mas que foi filmado com mestria, de forma muito realista e sem condescendência alguma aos problemas dos personagens.

"De Rouille Et D'Os" é uma história dura que emocionou a atriz quando leu o roteiro, apesar de não ter compreendido realmente sua personagem, Stéphanie, uma treinadora de baleias que conhece Ali, um ex-boxeador perdido que precisa cuidar de seu filho de cinco anos.

"Quando li o roteiro, me comovi pela história", afirmou Marion Cotillard em entrevista coletiva em Cannes para apresentar um filme que faz parte da seção oficial e que mudou o tom do festival após a comédia com a qual Wes Anderson abriu o festival na véspera.

"Normalmente tenho uma compreensão imediata do personagem ao ler um roteiro. Mas, neste caso, após ler o roteiro, não sabia quem era Stéphanie", comentou.

A atriz consultou Audiard, que também não sabia quem era Stéphanie e "essa perspectiva de partir juntos ao encontro dessa personagem" foi o que mais a atraiu no projeto.

Uma personagem que muda muito ao longo do filme. De uma mulher segura de si mesma, bonita e bem sucedida passa a ser uma portadora de deficiência após sofrer a amputação das duas pernas e ter de readaptar-se à sua nova vida.

A história foi baseada em relatos do canadense Craig Davidson, caracterizados por um universo de personagens desencontrados, no meio do qual Audiard e Thomas Bidegain decidiram pôr uma história de amor.

"Após meu filme anterior ("O Profeta"), que se desenvolvia em uma prisão, sem luz, em espaços confinados, sem mulheres...tínhamos vontade de ver uma história de amor, de espaços, de luz...", explicou o diretor.

Por isso a história, sombria em seu conteúdo, acontece em Cannes, um lugar cheio de luz que Audiard capta de maneira magistral com uma câmara digital, quase sempre na mão, com a qual conseguiu belíssimos planos que contrastam com a dureza da história na qual se veem envolvidos os protagonistas.

Personagens em tempos de crise em uma história na qual os elementos principais são os sentimentos e a violência.

Mas que não estão tão longe das pessoas comuns, assinalou Marion Cotillard, que considerou que a história entra "na desgraçada normalidade de muita gente".


Antes de iniciar as filmagens, Audiard tinha muito claro que queria contar com a atriz. "Marion é uma atriz muito viril e muito sensível, que é capaz de passar ao outro lado do muro. Não há muitos atores com essa particularidade", elogiou.

Para encontrar o intérprete de Ali, o processo foi muito mais complicado. Fizeram audições em academias e clubes de boxe para finalmente descobrir Matthias Schoenaerts em um filme e ver nele o ator ideal para um papel tão físico.

Schoenaerts brincou com esse aspecto físico de seu personagem - "na semana passada me chamaram para filmar "Rambo 34"", disse - e ressaltou a dificuldade inicial de trabalhar com Marion Cotillard, que o intimidava no início.

"A primeira vez que a vi, antes do ensaio, estava em sua cadeira de rodas com a cabeça inclinada e pensei que estava fechada em si mesma e que seria difícil trabalhar com ela, mas o que estava era envolvida totalmente no universo de Stéphanie", lembrou o ator.

Um universo complicado, o de uma mulher cuja vida muda totalmente e lhe resulta impossível percorrer esse caminho com as pessoas que faziam parte de sua existência anterior.

Stéphanie deixa de cuidar de baleias para observar lutas ilegais, em cenas muito violentas nas quais o diretor quis fugir do escabroso.

"A partir do momento no qual o personagem feminino vê as lutas de rua, a história abandona qualquer toque "gore"", explicou Audiard.

No final, o que parece unir atores e realizadores do filme é a vontade de mergulhar de cabeça em uma história complicada por uma necessidade de conhecer o que há por trás dos personagens.

"O importante para um ator é o talento, a capacidade de trabalho, mas, principalmente, a necessidade, o desejo de explorar", concluiu a atriz que já ganhou um Oscar de Melhor Atriz por "Piaf - Um Hino ao Amor". 

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