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J.K. Rowling e outros 149 assinam carta contra "cultura do cancelamento"

Margaret Atwood e Noam Chomsky assinam carta ao lado de Rowling, onde dizem que clima atual está impedindo liberdade de expressão

J.K. Rowling: após polêmicas em redes sociais, autora de Harry Potter assina carta contra "cultura do cancelamento" (Getty Images/Reprodução)

J.K. Rowling: após polêmicas em redes sociais, autora de Harry Potter assina carta contra "cultura do cancelamento" (Getty Images/Reprodução)

Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 8 de julho de 2020 às 16h49.

Última atualização em 8 de julho de 2020 às 17h03.

Em uma carta aberta publicada ontem, 7, na Harper's Magazine, 150 intelectuais, de diversos campos, alertaram os leitores para o perigo da "cultura do cancelamento" e do acirramento de práticas que, em meio à intensidade dos protestos sociais e raciais dos últimos anos, impossibilita o debate e a liberdade de expressão. A escritora britânica J.K. Rowling, autora da saga Harry Potter, é um dos principais nomes que assinam a carta.

Além de Rowling, há outros nomes de peso: o mestre do xadrez Garry Kasparov, o filósofo e cientista Noam Chomsky, o escritor indiano Salman Rushdie e a escritora canadense Margaret Atwood (autora de O Conto de Aia). Outras assinaturas são de jornalistas, historiadores e acadêmicos de universidades como Harvard e Colúmbia.

O termo "cultura do cancelamento", que ganhou fama em tempos recentes, se refere à prática de um número significativo de pessoas, de modo organizado, decidirem nas redes sociais "cancelar" uma personalidade que disse ou fez algo visto como polêmico ou errado.

Para os 150 assinantes, os debates raciais e sociais da atualidade são "bem-vindos", mas tais forças "intensificaram um novo tipo de postura moral e política que tende a enfraquecer as normas do debate livre."

"A livre troca de informações e ideias, a base de uma sociedade liberal, está dia a dia ficando mais presa", diz a carta.

"Essa atmosfera sufocante vai, em último caso, prejudicar as causas mais vitais de nosso tempo. O debate restrito, seja por uma repressão do governo ou por uma sociedade intolerante, invariavelmente vai ferir aqueles que não têm poder e deixar todos menos capazes de participar da sociedade democrática", o grupo escreve.

Rowling está no centro do debate e da carta de 150 assinaturas por ter entrado em polêmicas no Twitter nas últimas semanas. Em duas oportunidades, a escritora foi acusada de ser transfóbica. Em um de seus comentários, implicou que somente mulheres poderiam ter vagina como órgão sexual. Logo, ela excluía pessoas trans de sua visão de "mulher legítima."

Na última oportunidade, seus comentários levaram seguidores a dizer que ela era de um segmento radical do feminismo que não aceitava indivíduos transgêneros. A autora chegou a dizer que havia pressão por "mudanças de sexo" na atualidade e que até mesmo ela, nos anos 1980, poderia ter transicionado indevidamente se tivesse sido pressionada.

Nessas oportunidades, os famosos atores dos filmes Harry Potter, como Emma Watson e Daniel Radcliffe, vieram a público declarar sua desaprovação diante dos comentários de Rowling.

Uma das pessoas a assinar a carta, a ativista trans Jennifer Finney Boylan, se arrependeu horas depois da publicação da carta na Harper's. Em suas redes sociais, ela disse que não sabia todos os nomes de quem estava assinando a carta e que achava que era "uma bem-intencionada mensagem" contra o que ela chamou de "Internet shaming", que se refere a essa prática de "cancelar" e de, também, julgar e punir via redes sociais alguém que se vê acusado de algo, com justiça ou não. 

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