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"Instinto Materno" radiografa contradições da Romênia atual

De Calin Peter Netzer, filme é um denso e fascinante mergulho na sociedade contemporânea romena

Cineasta Calin Peter Netzer durante a pré-estreia do filme "Instinto Materno", no 63º Festival de Berlim (Sean Gallup/Getty Images)

Cineasta Calin Peter Netzer durante a pré-estreia do filme "Instinto Materno", no 63º Festival de Berlim (Sean Gallup/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 19 de março de 2014 às 17h25.

São Paulo - Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim 2013, "Instinto Materno", de Calin Peter Netzer, é um denso e fascinante mergulho na sociedade contemporânea romena, conduzido pelo desempenho absolutamente magnético da protagonista, Luminita Gheorghiu.

Roteirizada pelo próprio diretor e pelo experiente roteirista Razvan Radulescu ("A Morte do sr. Lazarescu"), a trama se desdobra a partir de um incidente policial. Um homem, Barbu (Bogdan Dumitrache), atropelou e matou uma criança. Sua mãe, Cornelia Keneres (Luminita Gheorghiu), uma arquiteta bem-sucedida, tudo fará para livrá-lo da cadeia.

O curioso é que não é Bogdan, que vive longe da mãe nova-rica, quem deseja esta libertação da, aliás, kafkiana estrutura policial e judicial da Romênia. É Cornelia, com seu amor extremado, quem procura retomar, através da tragédia, o controle sobre a vida de Barbu, que vive com uma moça divorciada, Carmen (Ilinca Gioia), de quem a mãe possessiva evidentemente não gosta.

O tom sombrio e impregnado de crítica social evitam que a história derrape para um dramalhão familiar. Isto decorre da sobriedade da direção e do cuidado do roteiro de delinear as diferenças de classe entre a família do atropelador e da vítima - esta, constituída de camponeses pobres. A tentação de uma revanche social surge ali mesmo na delegacia, encarnada por um tio da criança morta, sedento de vingança.

Nada disto escapa a Cornelia, que impõe sua presença já nos corredores da delegacia, acompanhada da amiga advogada, encarnando a versão romena do "sabe com quem você está falando". Se isto inibe, até certo ponto, algum abuso de autoridade dos próprios policiais contra a mulher rica e seu filho, não é menos verdade que isso não basta para liberá-lo do processo - e esse sim pode arruinar sua vida.

As maquinações de Cornelia se multiplicam e ela certamente não é uma personagem cativante. O roteiro habilidoso e a intérprete sublime, no entanto, dão conta de humanizá-la no devido tempo. Como personagem central, ela tem mais oportunidade de desdobrar suas contradições, ao mesmo tempo que se mantém Bogdan, o filho, mais na sombra.

Não se sabe realmente o que ele pensa ou sente, diante desta mãe sufocante. O êxito do filme está em dar conta de todas estas nuances, familiares, sociais, políticas, com rara complexidade, não se esquecendo de incluir a família da vítima numa cena absolutamente tocante.

É um humanismo duro este romeno, também absolutamente imprescindível no cinema moderno - ainda mais que as situações retratadas neste filme tem inúmeros pontos de contato com vários outros países, o Brasil entre eles.

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