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Inédito filme saudita retrata opressão feminina no país

"O Sonho de Wadjda", da diretora Haifaa al Mansour, é o primeiro filme produzido dentro da Arábia Saudita


	Trecho do filme "O Sonho de Wadjda", de Haifaa al Mansour: roteiro traça um painel agudo de uma sociedade que oprime as mulheres em seu cotidiano
 (Reprodução)

Trecho do filme "O Sonho de Wadjda", de Haifaa al Mansour: roteiro traça um painel agudo de uma sociedade que oprime as mulheres em seu cotidiano (Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 2 de maio de 2013 às 13h38.

São Paulo - Exibido e premiado em festivais como Veneza, Roterdã e Abu Dhabi no ano passado, "O Sonho de Wadjda" é o primeiro filme produzido dentro da Arábia Saudita. E, o que é mais marcante, dirigido por uma mulher, Haifaa al Mansour, num país onde elas sofrem diversas restrições, não podendo nem mesmo conduzir automóveis.

Pior ainda, a Arábia Saudita não conta com salas de cinema oficiais, o que quer dizer que o filme não tem como ser mostrado por lá. A produção estreia apenas em São Paulo.

Coproduzido com dinheiro saudita e alemão, com participação das comissões de cinema de países muçulmanos mais liberais, como a Jordânia e Abu Dhabi e também do Sundance Institute e do Hubert Bals Fund, ligado ao Festival de Roterdã, "O Sonho de Wadjda" ultrapassa o recado politicamente correto que sem dúvida também carrega.

Seu roteiro, igualmente escrito por Haifaa, traça um painel agudo de uma sociedade que oprime as mulheres em seu cotidiano de forma assustadoramente onipresente e, o que é pior, com a participação das próprias mulheres.

A protagonista é a garota Wadjda (a estreante Waad Mohammed), de 12 anos, cujo comportamento chama a atenção na escola onde estuda, por coisas banais, como o fato de ela usar tênis, em vez de sapatos pretos, e eventualmente falar mais alto do que a diretora Hussa (Ahd) acha aceitável para uma mocinha.

Embora, a rigor, nada faça de mal, Wadjda é constantemente repreendida na escola por não se recolher com a devida rapidez para dentro quando aparecem, no alto muro, homens olhando para dentro da escola. Ler revistas no fundo do pátio também é considerado um pecado.

Ela não liga muito à pressão, até porque em casa seus pais mostram-se mais relaxados. Ainda assim, a mãe (Reem Abdullah, conhecida atriz de TV saudita), está enfrentando seus problemas com o marido (Sultan Al Assaf).


Como ela não lhe deu um filho homem e não se mostra disposta a abrir mão do trabalho como professora para tentar uma nova gravidez, sua sogra está tomando providências para que o filho assuma uma segunda esposa.

Apesar de a convivência entre os sexos ser severamente desestimulada, o melhor amigo de Wadjda é um garoto, Abdullah (Abdull-Rahman Algohani), de quem a menina inveja a bicicleta. As bicicletas, aliás, também não são permitidas às meninas sauditas, por supostamente colocarem em risco sua virgindade.

Wadjda, no entanto, ignora a proibição e só quer saber de juntar dinheiro para comprar sua própria bicicleta, para disputar corrida com Abdullah. Para isso, ela concorda em entrar para um grupo de estudo religioso na escola, visando preparar-se no estudo do Alcorão para um concurso que dará um alto prêmio.

Com simplicidade, mas sem perder o foco, o filme retrata os dilemas de Wadjda e sua mãe, na busca de uma nova identidade para as mulheres num contexto hostil. Se o filme parece simples aos olhos ocidentais, nunca se deve perder de vista o potencial incendiário que uma história assim poderia ter num ambiente tão conservador.

https://youtube.com/watch?v=2pcCCbLzhcY

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