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Humoristas usam a internet como local de resistência ao Talibã

Muitos artistas afegãos estão escondidos, e os cidadãos costumam apagar materiais potencialmente comprometedores de seus telefones

O comediante afegão Hafiz Afzali, 34, em 15 de outubro em Espoo, Finlândia, onde vive no exílio. (AFP/AFP)

O comediante afegão Hafiz Afzali, 34, em 15 de outubro em Espoo, Finlândia, onde vive no exílio. (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 8 de novembro de 2021 às 12h41.

Última atualização em 8 de novembro de 2021 às 14h49.

Quando um talibã conhece a estrela pop afegã Ayrana Sayeed, ele tenta seduzi-la: "Se você se casar comigo, terei barba, bigode, tanques... e vou construir uma discoteca para você". 

Inimaginável na vida real com a cantora exilada na Turquia, a cena faz parte de uma série de animações satíricas no YouTube que cativou os afegãos nas últimas semanas.

No vídeo, produzido em 3D, o caso de amor de um talibã com Sayeed é um sonho. Com sua Kalashnikov no ombro, ele acorda abraçando outro militante barbudo.

Sob o regime talibã, produzir esse tipo de vídeo pode ser mortal. Por isso, muitos artistas afegãos estão escondidos, e os cidadãos costumam apagar materiais potencialmente comprometedores de seus telefones.

O autor dos vídeos é Hafiz Afzali, 34 anos, refugiado na Finlândia há sete anos.

"Saí do Afeganistão aos 13 anos, quando o Talibã estava no poder. Me lembro de tudo", conta o criador das animações com milhões de visualizações.

Como muitos afegãos que deixaram o país naquela época, Afzali viveu uma rota de migração turbulenta que o levou a três anos difíceis no Irã, a um ano na Turquia e a sete na Grécia.

Observar e pensar

Musa Zafar, um conhecido comediante do Afeganistão que deixou o país em 2016, concorda. "O conteúdo satírico faz rir, ao mesmo tempo que mantém o conteúdo informativo da mídia", afirma. Por motivos de segurança, prefere não dizer onde mora.

Seu nome artístico para lutar contra o "extremismo religioso" é "Imam Musa". Um de seus conteúdos, publicado na Afghanistan International, uma das páginas de notícias mais lidas do país, fazia referência a vegetais para zombar do Talibã.

"Foi criada uma nova comissão dentro do Ministério da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício para discutir o formato de pepinos, berinjelas e abóboras", consideradas "provocativas" por se assemelharem a órgãos sexuais, ironiza.

E continua: por essas razões, "os padeiros agora têm duas semanas para produzir um pão que não seja redondo nem alongado".

O conteúdo lembra as declarações de um mulá próximo ao Talibã, que, no final de setembro, aconselhou as mulheres "a não usarem perfume ao sair de casa", e nem mesmo salto, cujo barulho no chão poderia seduzir os homens.

"A ignorância e a mente estreita do Talibã" inspiram os comediantes, diz Imam Musa.

Em Cabul

O cartunista Mergan Punch, um pseudônimo, decidiu continuar seu trabalho de Cabul, onde vive escondido. Ele abriu uma conta nas redes sociais para postar seus desenhos.

Um deles mostra a foto de um talibã, fazendo o símbolo da vitória com os dedos. "Eu perdoei todos eles", ele sorri. Ampliando o campo da imagem, porém, há uma rede com a qual matou duas pombas, símbolo da paz.

"Minha mensagem é que eles não mudaram. Eles querem colocar seus mulás e mujahedine no poder e fazer do Afeganistão o país dos terroristas", denuncia o cartunista.

Já Daud (nome fictício), um dos cartunistas mais famosos do país e facilmente reconhecível, encerrou todas as atividades.

Ele pretende sair do país para "lutar pela justiça e contra o extremismo através da arte", que considera sua paixão.

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