Adnan Syed, de 42 anos, foi condenado a prisão perpétua em 2000 pela morte de sua ex-namorada Hae Min Lee em Baltimore. (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 20 de setembro de 2022 às 09h40.
Uma juíza dos Estados Unidos anulou na segunda-feira (19) a condenação de um homem detido há 23 anos por um homicídio que sempre negou ter cometido e que ganhou notoriedade no podcast "Serial".
Adnan Syed, de 42 anos, foi condenado a prisão perpétua em 2000 pela morte de sua ex-namorada Hae Min Lee em Baltimore, na costa leste dos Estados Unidos.
Em uma reviravolta inesperada, a promotora da cidade, Marilyn Mosby, pediu na semana passada a anulação da sentença, explicando que havia dúvidas sobre sua culpa, e pediu sua liberdade.
Mosby explicou que descobriu a existência de "dois suspeitos alternativos", uma informação chave que não foi bem avaliada na época e, sobretudo, que não foi compartilhada com a defesa antes do julgamento.
Ontem, uma juíza validou o pedido em uma audiência realizada em uma sala judicial de Baltimore totalmente cheia.
"No interesse da justiça e da igualdade, a moção é concedida e o réu será liberado com uma tornozeleira eletrônica", declarou a juíza Melissa Phinn.
Oficiais retiraram as algemas de Syed, enquanto uma parte dos presentes aplaudia até um chamado à ordem. O homem, de barba farta e um gorro branco, não reagiu à decisão.
"Custou para que acreditasse que era real" e agora "quer passar o tempo com sua família", disse sua advogada, Erica Suter, no palácio de justiça, enquanto seu cliente ia embora de carro sem dar declarações.
A promotora Mosby insistiu no fato de que a justiça "ainda não declarou Adnan Syed inocente" e que esperaria os resultados dos exames de DNA antes de abandonar as investigações contra ele ou organizar um novo julgamento, o que deve ser decidido em no máximo 30 dias.
Seja qual for a decisão, Mosby prometeu continuar a investigação "para assegurar que os familiares de Hae Min saibam com certeza quem é o culpado".
Durante a audiência, o irmão da vítima falou por telefone de sua consternação. Disse "viver um pesadelo que não acabava" e que se sentia "enganado" pelos promotores que sustentaram por anos ter encontrado o culpado.
O caso teve início em 1999, quando a polícia encontrou o corpo de Hae Min Lee, de 18 anos, estrangulado em uma cova rasa nas matas de Baltimore. Adnan Syed, então com 17 anos, foi preso e, um ano depois, condenado à prisão perpétua.
Segundo a acusação, o jovem teria a matado por não aceitar o término do namoro. Syed sempre negou envolvimento no crime e disse ser vítima de discriminação contra muçulmanos.
Em 2014, foi ao ar o podcast "Serial", em que uma equipe de jornalistas faz uma investigação própria relatada ao longo de 12 episódios, que bateram recordes de audiência e mais tarde inspiraram uma série documental da HBO.
A investigação independente de "Serial" mostrou que a defesa de Syed não considerou uma perícia de telefonia móvel favorável ao acusado, assim como o depoimento de uma jovem que dava a ele um possível álibi.
Seu trabalho levou à reabertura do caso e, em março de 2018, um tribunal de apelações de Maryland ordenou um novo julgamento, alegando que a defesa não havia prestado um suporte eficaz a seu cliente.
Porém, um ano depois, a Suprema Corte do estado reconheceu o equivoco do advogado ao não apresentar alguns elementos, embora tenha rejeitado o pedido de um novo processo.
A defesa de Adnan Syed recorreu, então, à Suprema Corte americana e em 2019 esta se recusou a intervir, o que parecia ter posto um fim nas esperanças de liberdade de Syed.
Mas a promotora de Baltimore, que dispõe de um serviço dedicado à correção de erros judiciais, reabriu o caso, que acabou levando finalmente à revisão judicial.
Um novo episódio da série de podcast "Serial" será lançado hoje (20), anunciou em sua conta no Twitter.