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Hitler era paranoico, afirma análise britânica secreta

O relatório foi escrito em 1942, e não foi lido desde a guerra até sua descoberta recente

Abrams pensou que as transcrições dos discursos de Hitler poderiam ser percebidas como propósitos de propaganda (Wikimedia Commons)

Abrams pensou que as transcrições dos discursos de Hitler poderiam ser percebidas como propósitos de propaganda (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 4 de maio de 2012 às 14h56.

Londres - Adolf Hitler tinha um "complexo de Messias" e se tornou cada vez mais obcecado com o "inimigo interno" judeu enquanto a Segunda Guerra Mundial se voltava contra a Alemanha, de acordo com uma avaliação secreta de 1942 divulgada nesta sexta-feira.

O relatório da inteligência britânica, que aparentemente não foi lido desde a guerra até sua descoberta recente, afirma que o ditador nazista passou a ter "judeufobia" à medida que a possibilidade de uma derrota aumentava.

A análise do tempo de guerra, agora tornada pública pela Universidade de Cambridge, foi encomendada pelo cientista social Mark Abrams e escrita por seu colega Joseph MacCurdy, um acadêmico de Cambridge.

Abrams, um pioneiro da pesquisa de mercado e de opinião renomado internacionalmente, trabalhou com a Unidade de Análises de Propaganda da BBC e com o Conselho de Guerra Psicológica durante a Segunda Guerra Mundial.

"No momento em que isso foi escrito, a maré estava começando a se voltar contra a Alemanha", afirmou o historiador de Cambridge Scott Anthony, que liderou a pesquisa sobre Abrams que resultou na descoberta do documento em uma coleção de família.

"Em resposta, Hitler começou a voltar suas atenções para o front interno da Alemanha", disse.

"Este documento mostra que a inteligência britânica sentiu que isto acontecia", explica.

"MacCurdy reconheceu que, diante do fracasso exterior, o líder nazista se concentrou em uma percepção de 'inimigo interno' - especificamente os judeus".

"Dado que agora sabemos que a 'solução final' estava começando, isto torna uma leitura comovente".


Abrams pensou que as transcrições dos discursos de Hitler poderiam ser percebidas como propósitos de propaganda e inteligência, revelando um "conteúdo latente" escondido e percepções subconscientes da mente do inimigo.

"Seu trabalho foi utilizado diretamente pela contra-propaganda dos aliados", explicou.

A análise recém-exibida apresenta um discurso de rádio de Hitler do dia 26 de abril de 1942.

"Seu conteúdo presumivelmente reflete suas tendências mentais mórbidas, por um lado, e conhecimentos especiais disponíveis para ele, por outro", afirmam as linhas iniciais.

Um relatório anterior encontrou três tendências deste tipo, chamadas de "xamanismo", "epilepsia" e "paranoia".

O "Xamanismo" se refere à histeria de Hitler e à compulsão de se alimentar de multidões, o que estava em declínio. O relatório de MacCurdy apontava para o "nivelamento maçante" das trasmissões de Hitler.

As outras duas eram características em desenvolvimento.

A "Epilepsia" se referia a sua camada fria e cruel, combinada com uma tendência de perder o ânimo quando suas ambições falhavam. A análise de MacCurdy aponta que o discurso de Hitler mostrou que ele era "um homem que está contemplando seriamente a possibilidade de derrota absoluta".

A "Paranoia" foi a terceira e mais preocupante tendência, exposta por meio de um "complexo de Messias" do ditador, através do qual Hitler pensou que estava conduzindo um povo escolhido em uma cruzada contra o mal encarnado nos judeus, afirma o documento.

Ele observa uma extensão da "judeufobia" e afirma que Hitler passou a ver os judeus não apenas como uma ameaça para a Alemanha, mas como um "agente universal diabólico".

Sabe-se agora que, semanas antes do discurso, autoridades nazistas colocaram em andamento planos para a "solução final": a tentativa de extermínio de toda a população judaica.

"Hitler está envolvido em uma teia de delírios religiosos", concluiu MacCurdy.

"Os judeus são a encarnação do diabo, enquanto ele é a encarnação do espírito do bem".

"Ele é um deus e através de seu sacrifício a vitória sobre o mal pode ser alcançada", explica.

O documento foi adicionado a um arquivo sobre o trabalho de Abrams na Universidade de Cambridge e agora está disponível para os pesquisadores.

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