Meia do Palmeiras chamou atenção nas redes sociais por suas leituras, que incluem Orwell e Kafka (Cesar Greco/Divulgação)
GabrielJusto
Publicado em 29 de junho de 2021 às 16h39.
Última atualização em 29 de junho de 2021 às 18h10.
Machado de Assis, Kafka, Maquiavel... Todos grandes nomes da literatura com os quais, muitas vezes, só temos contato na faculdade - o que não necessariamente quer dizer ler e, principalmente, gostar. Mas o meia palmeirense Gustavo Scarpa não só leu e gostou, como também virou um sucesso nas redes sociais por compartilhar suas resenhas de clássicos como "A Revolução dos Bichos", "Dom Casmurro" e "O Príncipe". Em quase três anos, foram mais de 90 criticas publicadas.
"Na faculdade, ler é uma obrigação. Talvez por isso as pessoas não engajam. Eu leio por prazer, porque eu sabia que é uma coisa saudável que eu queria que se tornasse um hábito", explica Scarpa, que começou lendo a Bíblia, passou pela biografia do Steve Jobs e, desde então, passou a ler de tudo. "O mais difícil foi 'O Processo'. Teve muita coisa que passou batido, mas aí o Pedro me explicou e eu entendi."
Além da tia, que o presenteou com a biografia do fundador da Apple, Pedro Jatene, ex-estagiário de preparação física do Palmeiras, é a figura que mais incentivou Scarpa no mundo da leitura. O jogador também compartilha suas leituras com seus amigos de Hortolândia, sua cidade natal. Enquanto Jatene ama os clássicos, os conterrâneos discutem títulos mais ligados à religião. Não à toa, a lista de favoritos de Scarpa mistura autores cristãos com Dostoiévski, Victor Hugo e George Orwell - veja no final da matéria.
Cultivar o hábito da leitura, aliás, deu a Scarpa a confiança e a bagagem necessária para comentar, sem meias palavras, assuntos muitas vezes tidos como polêmicos no Brasil, como a laicidade do estado. Ao ler "O Príncipe", de Maquiavél, o meia concluiu, por exemplo, que o livro não é tão polêmico quanto dizem. "O povo só não quer ser oprimido. Dar poder político à igreja foi um erro", escreveu ele na resenha publicada no Instagram.
"O que eu entendi desse livro é que a Igreja tomou conta do estado mesmo, e pela visão do cara isso não foi bom. E eu meio que já tinha uma opinião parecida, porque me tirava do sério ver políticos usando as igrejas como palanque", comenta Scarpa em entrevista à EXAME. "Não podemos colocar o evangelho goela abaixo. A igreja pode se envolver na política, mas a fé não pode se basear no poder político da igreja."
Para chegar à média de quase 3 livros lidos por mês, Scarpa diz que começou por um livro pequeno, fácil de ler e com uma história instigante: O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson. Mas o hábito da leitura se estabeleceu quando Gustavo reconheceu a prática como algo bem mais edificante (nas palavras dele) do que as redes sociais.
"Eu entendi que eu não tinha proveito nenhum de ficar rolando as redes sociais. Como todo hábito, no começo a gente tem que dar uma forçadinha mas, com disciplina, foco e consciência de que isso vai fazer bem, você pega o hábito rapidinho", diz o jogador, como se estivesse falando dos treinos de futebol. "O achado é ter disciplina, e nisso o esporte me ajudou. Mas a faculdade também pode cumprir esse papel, por exemplo."
À pedido da EXAME, Gustavo Scarpa abriu sua lista de títulos favoritos. Confira:
"É o melhor livro cristão que já li. Não é tão atual, mas foi muito edificante. É incrível a maneira como ele destrincha a história da igreja."
"Dá pra curtir muito já nas primeiras páginas. A história do Jean Valjean é muito louca: ele é preso por roubar um pão, consegue se levantar e enriquecer uma cidade! É um livro gigante, mas vale a pena. Eu inclusive assisti ao filme mais atual, o musical, e não gostei. Deixaram algumas partes de fora."
"Sem spoiler, mas quando eu comecei a ver o que o cara estava planejando fazer, e executar da forma como ele executou, eu não acreditei. É muito angustiante, mas muito legal!"
"É uma sátira política que não requer que você entenda do assunto para entender a história, que fala sobre alguns privilegiados dizerem que vão chegar lá e mudar as coisas, mas acabam sendo mais do mesmo. Muito daora!"
"Eu não sei se o cara escreveu com bastante emoção, mas é um livro sobre racismo que eu acho muito válido para todas as pessoas lerem. Gostei porque é uma leitura muito fácil."
Veja também