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‘Guardiões da Galáxia’ é filme mais ousado da Marvel até agora

Com roteiro previsível, filme tem como grande trunfo o divertido quinteto protagonista; trilha sonora, visuais e bom-humor são outros destaques

guardioes (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 30 de julho de 2014 às 14h37.

A Marvel é especialista em criar expectativa para seus filmes. Novos teasers e trailers são lançados frequentemente, mesmo dias antes das estreias, e calendários de produção já mostram filmes que sairão daqui cinco anos, mas sem revelar os nomes – o que dá espaço para os fãs especularem. E a tática usada não foi diferente no caso de “Guardiões da Galáxia”.

Vez ou outra a produtora decepciona, mesmo com as inúmeras prévias, como aconteceu no primeiro Capitão América, por exemplo. Mas há vezes em que ela acerta em cheio, como foi o caso do segundo (e ótimo) filme do herói patriota e deste mais recente longa-metragem – que, por ora, mantém uma média de 94/100 no Rotten Tomatoes e nota 9/10 no IMDB.

Baseado na série de HQs lançada no final da década de 60 e criada por Arnold Drake e Gene Colan, a obra retrata o surgimento da equipe homônima. Mas não da original, de 1969, e sim a da história de 2008, embora o time no longa ainda guarde algumas diferenças – a Capitã Marvel e Adam Warlock ficaram de fora. Mas nada que possa decepcionar os fãs: no filme, os tais guardiões da galáxia ainda são liderados pelo carismático Peter Quill (“conhecido” por seu pseudônimo Star-Lord), que tem em sua companhia Gamora, Drax, o Destruidor, o guaxinim Rocket e a árvore-falante Groot.

Os heróis têm como tarefa manter longe de mãos erradas uma misteriosa esfera, roubada por Quill logo no começo do filme em uma sequência das mais divertidas. O objeto guarda um poder que desequilibraria todo o Universo, e por isso mesmo os megalomaníacos vilões Ronan, o Acusador da raça kree, e o titã Thanos não devem nem chegar perto do “brinquedo”.

Mas o objetivo não é nada fácil, e durante toda a história, os Guardiões enfrentam diferentes vilões secundários (o caçador Korath, papel de Djimon Hounsou, e a assassina Nebula, interpretada por Karen Gillan) e, principalmente, suas próprias personalidades conflitantes. É uma história não tão empolgante, que soa até clichê – MIB, Vingadores e até Transformers têm em seu centro um artefato capaz de acabar com o Universo. Mas não é bem o roteiro o forte do filme.

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O trunfo nos personagens – O maior destaque da obra fica mesmo nas mãos dos protagonistas, pouco conhecidos do público em geral. São eles uns desajustados, como é dito no decorrer do próprio longa-metragem, e que nem tiveram tempo de ser apresentados em filmes anteriores. Os cinco formam um grupo de heróis que está longe de ser imponente, respeitável ou mesmo poderoso como é o dos Vingadores.

Eles não são bons exemplos para criança alguma, não têm pseudônimos (o de Star-Lord é o único, mas ninguém realmente liga) e mesmo seus “superpoderes” não podem ser chamados disso. Nenhum deles é altamente inteligente, capaz de controlar trovões ou se transformar em um monstro verde gigante. Eles são hábeis com armas e determinados, basicamente. E talvez por estarem tão na margem entre meros mortais (com exceção de Groot) e heróis de verdade, as histórias dos cinco sejam tão interessantes.

O líder Peter Quill, por exemplo, é um órfão abduzido ainda na infância que vira um ladrão e caçador de recompensas sem moral e que se importa basicamente consigo mesmo. O egocentrismo e o humor lembram os do Homem de Ferro, mas as semelhanças param por aí: Star-Lord não é tão inteligente, nem tão rico e muito menos tão bem equipado quanto Tony Stark.

Os outros quatro não são muito melhores. A outra órfã, Gamora, é a última de sua espécie e foi criada para ser uma máquina de matar. Drax, por sua vez, só pensa em usar os próprios punhos e facas para vingar sua família morta por Ronan. Rocket, fruto de um experimento doloroso, está pouco ligando para o Universo, já que sua vida nem dura tanto. E Groot, por fim, parece (mas só parece) nem entender o que está fazendo ali.

Todos se conhecem de forma inusitada, rumo à prisão, e, não fosse este um filme de super-heróis, uma união entre eles soaria até impensável. Em suma, mesmo que os Vingadores também não fossem perfeitos (como deu para ver no longa deles), as falhas de caráter e as limitações dos Guardiões são até mais “humanas” e, por que não, críveis.

Os dramas enfrentados pelos cinco – por mais que gerem um tanto de comoção tipicamente hollywoodiana – e as interpretações de cada ator ainda colaboram para aumentar ainda mais o apelo dos personagens ante ao público. Chris Pratt faz um ótimo Peter Quill (comparando novamente, funciona tão bem quanto um Robert Downey Jr. como Tony Stark), o humor de Bradley Cooper torna Rocket ainda mais cômico e Groot é uma cópia amadeirada e um pouco menos falante, se é que isso é possível, de Vin Diesel, por exemplo.

Ronan, o Acusador, principal antagonista do filme (Imagem: Divulgação)

O problema é que esses detalhes de personalidade e aspectos que tornam os protagonistas tão fortes não aparecem em outros atores do elenco. Dos membros da Nova Corps, que cuidam da segurança do planeta onde se encontraram os protagonistas, por exemplo, a Nova Prime (Glenn Close) e o oficial Dey (o bom John C. Rilley) têm seus poucos momentos de glória, e devem aparecer mais só no já anunciado “Guardiões da Galáxia 2”. Dos vilões, Ronan (Lee Pace) e sua motivação convencem, e sua personalidade é bem desenvolvida, mas não dá para dizer o mesmo de sua assassina-assistente Nebula e menos ainda do caçador Korath.

Líder dos piratas espaciais que “cuidam” de Quill, Yondu (membro dos Guardiões da primeira HQ e papel de Michael Rooker) também é bem trabalhado. Mas, novamente, o desenvolvimento de sua história foi deixado mais para o segundo filme – um mal típico das obras da Marvel, do qual mesmo este novo longa não escapa. Longas-metragens anteriores, apresentando os personagens como aconteceu com os Vingadores, talvez resolvessem essa “falha”. Mas dada a popularidade dos Guardiões, é até improvável que obras assim fossem funcionar.

Outros pontos – Obviamente, apesar do peso, os personagens principais não são os únicos pontos positivos do filme. Mesmo com um efeito 3D dispensável (como é de costume), o visual é algo a se destacar. Os modelos de Rocket e Groot estão longe de parecer artificiais, e a estação espacial-crânio chamada de Knowhere (futura base dos heróis e traduzido bizarramente como Luganenhum) é bem rica nos detalhes, especialmente do lado de fora da cabeça. A casa e a coleção do excêntrico Taneleer Tivan (o Colecionador, papel de Benicio Del Toro) também valem menção, especialmente pelos muitos easter eggs mostrados ali dentro – vale ficar atento.

A nave Milano, de Star-Lord, se aproxima do planeta-crânio Knowhere: o local é, na verdade, a cabeça decepada de um dos gigantes Celestiais (Imagem: Reprodução / Marvel)

Fora a parte gráfica, o filme ainda se destaca pelo bom-humor. Piadas e algumas ótimas tiradas, que beiram o non-sense, deixam o longa-metragem bem mais leve que outros da Marvel. Mesmo as cenas cruciais não escapam das brincadeiras, o que inclui o discurso motivacional de Quill, que aparece no trailer acima, e as batalha finais contra Ronan – que ainda assim comovem ou fazem segurar firme na cadeira. Para dar um exemplo sem muitos spoilers, Star-Lord chega a dançar em uma das lutas para distrair o vilão.

Por fim, a trilha sonora é um espetáculo à parte. As músicas, todas “clássicas” dos anos 70, por mais que não tenham sido criadas para as respectivas cenas, funcionam até melhor do que uma música orquestrada e épica. “Hooked on a Feelin”, dos suecos do Blue Swede, encaixa bem na fuga de Star-Lord, e mesmo a inusitada “The Piña Colada Song”, de Rupert Holmes, casa com uma das cenas da prisão. Se você ainda vai demorar a conseguir ver o filme, vale escutar as músicas no Spotify, por exemplo. O álbum já até saiu oficialmente, mas usuários também criaram playlists com todas as faixas organizadas da forma certa.

Conclusões – Dá para cravar que, se não é o melhor, “Guardiões da Galáxia” é ao menos o mais ousado dos filmes recentes da Marvel – desconsiderado, claro, os X-Men (produzido pela Fox) e os Homens-Aranhas (da Sony). Temos ótimos protagonistas, desconhecidos mas bem apresentados sem precisar de filmes anteriores, bons visuais – especialmente em Knowhere, na curiosa casa do Colecionador e na dupla Rocket e Groot –, uma trilha sonora com jeito de Pulp Fiction e piadas e tiradas bem colocadas.

Há falhas, é claro, como o enredo sem grandes surpresas e personagens secundários não muito bem trabalhados. Mas são pontos existentes em outros longas-metragens da Marvel, e que não chegam perto de comprometer a diversão como um todo. Servem até para mostrar a especialidade da Marvel, que é criar expectativa para um próximo filme – provavelmente focado nos Nova Corps e em seu líder.

Aliás, se você é dos fãs que gosta, fique até depois dos créditos para ver a cena surpresa de “Guardiões da Galáxia”. Segundo a assessoria da Disney no Brasil, ela não foi exibida em nenhuma das sessões do filme posteriores à estreia oficial – o que inclui as cabines de imprensa e a première mundial da segunda-feira passada –, apesar de ter vazado ainda nesta quarta-feira. É surpreendente.

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