Casual

Grande fase do tênis brasileiro não é casualidade

Resultados expressivos dos ídolos das quadras retroalimentam trabalho de fomento da modalidade que vem sendo feito nos últimos anos

Bia Haddad, reconhecida como personalidade do esporte que comunica qualidades como alto desempenho, credibilidade, resiliência e equilíbrio (Robert Prange/Getty Images)

Bia Haddad, reconhecida como personalidade do esporte que comunica qualidades como alto desempenho, credibilidade, resiliência e equilíbrio (Robert Prange/Getty Images)

Rafael Westrupp
Rafael Westrupp

Presidente da Confederação Brasileira de Tênis

Publicado em 7 de setembro de 2024 às 06h45.

O tênis brasileiro viveu durante muitos anos da figura icônica de Gustavo Kuerten, nosso maior expoente. Todo sucesso atingido pelo nosso querido Guga, no entanto, não nos garantiu transformar o Brasil no “país do tênis”. Aliás, em nosso país, o sucesso de um esportista de uma modalidade olímpica (que não seja o futebol) normalmente é atribuído ao esforço do próprio, em uma iniciativa isolada, quase que particular. Culturalmente foi assim mesmo, mas não é mais. Comitês e Confederações amadureceram e se profissionalizaram. No tênis e na Confederação Brasileira de Tênis, também. E todos os nossos esforços nos últimos anos foram para promover um crescimento sustentável de todo o ecossistema de nossa modalidade. Um trabalho que não aparece para a grande massa, mas que passa a ter visibilidade quando surgem Bias, Luisas, Thiagos, Joãos e tantos outros talentos em nossas quadras. Uma entrega que nos faz ser hoje a meca do beach tennis mundial. Só que o caminho é longo, e existe muito a ser percorrido. Agora, com holofotes iluminando os passos dos que virão.

Mas para chegar até aqui, precisamos romper com velhas práticas. Antes dos louros dos grandes resultados, empreendemos um processo de atualização de modelo de gestão e pautamos nosso trabalho em uma rígida governança corporativa. Criamos um planejamento e estipulamos metas. A partir disso, posso garantir que hoje o tênis brasileiro está mais que preparado para crescer a partir do boom proporcionado pelo talento de nossos ídolos.

Nosso grande diferencial atualmente é que os investimentos no fomento da modalidade não dependem mais da explosão internacional de um ou dois tenistas. É claro que ver Bia Haddad e Luisa Stefani entre as melhores da WTA e João Fonseca como o tenista com 18 anos melhor ranqueado na ATP é de enorme importância, pois os ídolos indicam que o nosso trabalho está sendo bem feito e servem de referência para a nova geração. No entanto, temos uma estrutura sólida no Brasil que não é refém de resultados internacionais. Mais que isso, conseguimos oferecer aos nossos talentos a possibilidade de disputar, aqui mesmo, sem a necessidade de ir para o exterior, cada vez mais competições que valem pontos no ranking mundial e distribuem premiação em dólar.

Em 2023, ao todo, a CBT investiu mais de R$ 3.1 milhões na premiação para atletas. Um aumento de 79% na comparação com 2022, e de 166% com 2021. Em 2024, o valor será de mais de R$ 7 milhões. Ou seja, um crescimento de 450% em relação a 2021.

Ainda a respeito dos torneios promovidos no país, vale destacar que somos a única confederação no mundo a ter contrato com três dos quatro Grand Slams (Roland Garros, Wimbledon e o Australian Open), proporcionando aos jovens tenistas brasileiros a possibilidade de participar em casa de competições que reproduzem o ambiente dos principais eventos de tênis do mundo. Além das vagas diretas oferecidas aos vencedores dessas seletivas nos respectivos Grand Slams, na classe juvenil, com tudo custeado pela Confederação.

Áreas como auxílio financeiro a atletas, custeio de viagens internacionais, realização de treinamentos, capacitação de treinadores e promoção de torneios tiveram aumento de 284% (de R$ 3.22 milhões para R$ 12.39 milhões) nos últimos três anos (2020 a 2023). Já o investimento na aquisição de materiais esportivos em 2023 superou o de todo o triênio anterior, atingindo R$ 1.13 milhões. Estes são excelentes exemplos do trabalho que não gera visibilidade, mas traz resultado. E só chegamos onde chegamos por conta dele.

Hoje temos a Bia e a Luisa sempre perto do top 10 do mundo, e acreditamos que em breve elas estarão acompanhadas pela Ingrid e pela Laura.

No masculino, levando em conta simples e duplas, são nada menos do que 5 brasileiros no top 75 mundial. E os grandes resultados não param de aparecer.

Somente nas últimas semanas, a Bia chegou às quartas de final do US Open, feito que não era alcançado por uma brasileira há mais de 50 anos, desde a incrível Maria Esther Bueno, o João Fonseca venceu o seu primeiro Challenger como profissional, sem perder sequer um set durante toda a campanha em Lexington, e a talentosa promessa Nauhany conquistou, com apenas 14 anos, a sua primeira vitória em uma chave principal profissional, avançando às oitavas de final do W35 de São Paulo, torneio integrante do Circuito Mundial da Federação Internacional de Tênis.

Importantíssimo ressaltar ainda, que a renovação do alto rendimento da base está a todo o vapor. Em 2023, o Brasil foi, de forma inédita, campeão e/ou vice-campeão sul-americano em todas as categorias e naipes juvenis (sub-12, sub-14 e sub-16).

E o mês de setembro também marca a volta do Brasil à elite mundial da Copa Davis, após 9 anos. O nosso retorno à principal competição entre nações foi inesquecível dentro e fora das quadras. Isso porque a vitória sobre a Dinamarca em 2023, que foi determinante para garantir a vaga, contou com uma inédita e exclusiva transmissão da CBT TV, nosso canal no YouTube.

Ao todo, foram mais de 11 horas de cobertura ao vivo, mais de 100 mil espectadores e uma repercussão tão grande que chegou à lista de trending topics do X (Twitter). Todo esse trabalho de divulgação tem contribuído para uma aproximação cada vez maior com o público. Basta ver o crescimento do número de seguidores do perfil da CBT no Instagram, que dobrou em pouco tempo, e já superou a marca de 78 mil. Mas se engana quem pensa que o crescimento de público do tênis brasileiro é apenas virtual. Em abril deste ano, o Ginásio do Ibirapuera recebeu quase 15 mil pessoas para os dois dias de disputa entre as nossas tenistas e a Alemanha, pela Billie Jean King Cup, o maior público já registrado na fase Qualifiers da competição desde que ela recebeu este nome, em 2020.

Além de estreitar a relação do público com o tênis brasileiro, a exposição gerada pela diversificação das estratégias de divulgação tem oferecido uma maior exposição aos nossos parceiros, colaborando para o aumento do faturamento com patrocinadores. Daí o impactante crescimento de quase 1.500% das receitas com patrocínios, saindo de R$ 564 mil em 2019 para R$ 8.90 milhões em 2023, recursos fundamentais para nosso planejamento de construir uma estrutura sustentável de captação, formação e consolidação de atletas no país.

Mais do que a exposição, porém, o grande trunfo que tem tornado a Confederação uma parceira ideal para os patrocinadores é a credibilidade ostentada no cenário esportivo. Uma credibilidade calcada na ética, na transparência e no respeito que vieram com a grande transformação interna que promovemos ao longo dos últimos anos, e hoje recebemos o reconhecimento dentro e fora do país. No cenário internacional, esse reconhecimento nos levou à presidência da Confederação Sul-Americana de Tênis (COSAT) e à vice-presidência da Federação Internacional de Tênis (ITF), sendo eu o primeiro sul-americano eleito para o cargo. E nos Jogos Olímpicos de Paris, tive a honra de participar da cerimônia de premiação do tênis masculino, ao lado do presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach.

Outro fator que reforça o reconhecimento em torno da CBT é a atenção que dedicamos a todas as modalidades sob nossa chancela, algo comprovado pelos seguidos recordes de investimentos no tênis em cadeira de rodas e no beach tennis. De 2022 para 2023, tivemos um crescimento de 26% na verba destinada aos projetos do tênis em cadeira de rodas, vinculados ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), de R$ 2,74 milhões para R$ 3,47 milhões, sendo que no biênio 2022-2023 mais de 20 atletas receberam recursos financeiros de forma direta da Confederação, contribuindo com logística de viagens, acompanhamento psicológico e treinamentos específicos. E os resultados estão sendo colhidos, com o Brasil tendo atualmente cerca de 30 tenistas no top 100 do ranking da ITF, considerando todas as classes, incluindo 4 representantes nos Jogos Paralímpicos de Paris.

No beach tennis, tivemos recentemente a satisfação de anunciar que em 2024 o Brasil sediará a Copa do Mundo pelo quarto ano consecutivo, desta vez com inédita premiação em dinheiro, no valor de 35 mil dólares. O retorno da principal competição internacional de beach tennis ao país contou os nossos esforços para valorizar profissionalmente a modalidade. Entre 2015 e 2023, houve uma evolução de 162% no número de torneios de beach tennis no país (de 42 para 110), de 1.293% no valor oferecido de premiação nestes torneios (de R$ 240 mil para R$ 3.35 milhões) e de 447% na quantidade de atletas filiados à entidade (de 390 para 2.134). Não surpreende, portanto, que o Brasil seja atualmente o país com maior número de tenistas no top 5 do ranking mundial, entre homens e mulheres.

E assim se configura a equação de progresso que implementamos no tênis brasileiro, onde a credibilidade gerada por uma gestão confiável e inovadora abre as portas para a entrada de recursos que, investidos de forma responsável, diversificada e criativa, vão estreitar cada vez mais a nossa relação com o público e impactar diretamente nos resultados positivos dos nossos atletas dentro das quadras.

Acompanhe tudo sobre:EsportesTênis (esporte)Atletas

Mais de Casual

O dia em que joguei tênis na casa do Ronaldo Fenômeno

Torra fresca: novidades para quem gosta de café

Leilão de relógios de luxo tem Rolex com lance a partir de R$ 50

O carro mais desejado do Brasil até R$ 150 mil, segundo ranking EXAME Casual