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García Marquez é figura chave da literatura no século XX

"Gabo" foi escritor, jornalista e roteirista de cinema, além de agitador cultural por convencimento e pai do "realismo fantástico" na literatura


	Gabriel García Márquez: entre todas as suas obras, destaca-se "Cem anos de solidão" (1967), um dos maiores clássicos da literatura universal
 (Festival Internacional de Cine en Guadalajara/Wikimedia Commons)

Gabriel García Márquez: entre todas as suas obras, destaca-se "Cem anos de solidão" (1967), um dos maiores clássicos da literatura universal (Festival Internacional de Cine en Guadalajara/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 17 de abril de 2014 às 20h19.

Redação Central - O escritor colombiano Gabriel García Márquez, que faleceu nesta quinta-feira no México, aos 87 anos, era um dos escritores mais relevantes do século XX, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1982 e autor de obras tão emblemáticas como "Cem anos de Solidão".

Nascido em 6 de março de 1927 em Aracataca, um município do norte da Colômbia, García Márquez, conhecido como "Gabo", foi escritor, jornalista e roteirista de cinema, além de agitador cultural por convencimento e pai do "realismo fantástico" na literatura.

Entre todas as suas obras, destaca-se "Cem anos de solidão" (1967), um dos maiores clássicos da literatura universal, traduzida para 35 idiomas e que teve mais de 30 milhões de exemplares vendidos. Mas Gabo não foi só um grande escritor. 

Foi membro da Academia colombiana da Língua, incentivador da Fundação do Novo Cinema Latino-americano, com sede em Havana (1985), e da Fundação Novo Jornalismo Ibero-americano (1994), além de um revolucionário da linguagem, que inclusive pediu a supressão da gramática e da ortografia.

Uma vida intensa que começou em Aracataca, cidade que lhe inspirou a fictícia "Macondo", onde situou algumas de suas obras, e que seria transformada com o tempo em local de peregrinação, dentro da "Rota de Macondo" e da "Cartagena de García Márquez", percursos culturais pelos municípios e lugares de sua obra.

Filho de Gabriel Eligio García, telegrafista primeiro e boticário depois, e de Luisa Santiaga Márquez Iguarñan, cuja história de amor, dificultada pela oposição do pai dela, com o coronel Nicolás Ricardo Márquez, serviria de inspiração a seu filho para escrever "O amor nos tempos do cólera".

García Márquez era o mais velho de onze irmãos e passou seus primeiros anos com seus avós maternos, com grande influência de seu avô.

Os nove filhos extramatrimoniais de seu avô; o costume de sua irmã Aida Rosa de comer terra ou a greve das produtoras de banana da Colômbia de 1928, que acabou com o fuzilamento dos grevistas, foram fatos que marcaram a infância de Gabo e que, de uma maneira ou outra, acabariam em suas obras.


Desde muito cedo, mostrou uma grande imaginação, que começou a modelar em poemas em sua adolescência, enquanto estudava no colégio jesuíta de San José, em Barranquilla.

No Liceu Nacional de Zipaquirá, perto de Bogotá, escreveu para o jornal interno e, em 1944, publicou "Canção" no suplemento literário do jornal "El Tiempo".

Naquela época, conheceu aquela que viria a ser sua esposa, Mercedes Barcha, em uma viagem a Sucre - se casariam em 1958 e teriam dois filhos, Rodrigo e Gonzalo - e se matricula na Faculdade de Direito e Ciências Políticas da Universidade Nacional de Bogotá.

Mas seus dotes criativos o levaram a deixar a carreira de Direito e a se concentrar na literatura e no jornalismo no jornal "El Universal" de Cartagena, onde começou a colaborar em 1948.

García Márquez já tinha publicado seu primeiro conto em 1947, "A terceira resignação", e preparava o que seria sua primeira novela, "La hojarasca", em 1955.

O escritor trabalhou em Barranquilla no "El Arauto de Colombia", foi redator chefe do "El Nacional" e continuou no "El Espectador" de Bogotá e na agência cubana "Prensa Latina" como enviado especial na Europa - onde aproveitou para assistir ao Centro Experimental de Cinematografia de Roma - e correspondente em Nova York.

Em 1959, impulsionou a revista "Crônica", símbolo do chamado "Grupo de Barranquilla", que marcou em meados de século XX a cultura colombiana. Em 1961, se mudou para o México, onde trabalhou em revistas de pouca importância e publicou seu segundo romance, "O coronel não tem quem lhe escreva".

Além disso, o manuscrito de "A má hora" ganhou um prêmio literário em Bogotá, e García Márquez começou a trabalhar em "O outono do patriarca".


Naquela época, se relacionou com autores como Carlos Fuentes, Juan Rulfo, Fernando Benítez, Manuel Barbachano e Carlos Monsiváis, e trabalhou mais intensamente como roteirista cinematográfico em, por exemplo, "Tempo de morrer", de Arturo Ripstein.

Mas esse trabalho serviu para lhe convencer que devia se concentrar na literatura, e em 1965 se dedicou a terminar "Cem anos de solidão", publicado em junho de 1967 com um sucesso imediato.

Entre 1967 e 1973, viveu em Barcelona, muito perto da casa de seu amigo Mario Vargas Llosa, com quem rompeu relações em 1976 após um soco que o peruano lhe deu por causas que ainda hoje, 38 anos depois, são desconhecidas.

Sua faceta como escritor culminou em 1982 quando lhe concederam o Prêmio Nobel "por seus romances e relatos curtos nos quais o fantástico e o real se combinam em um universo comodamente composto de imaginação que reflete a vida e os conflitos do continente americano".

E além de sua faceta de escritor, García Márquez sempre se engajou muito politicamente, e seus ideais de esquerda lhe causaram problemas com as ditaduras de Laureano Gómez e Gustavo Rojas Pinilla.

Com a presidência de Julio César Turbay Ayala (1978-1982), foi acusado de colaborar com a guerrilha M19, e se exilou no México (1981-1983). Retornou à Colômbia durante a presidência de seu amigo Belisario Betancur (1982-1986). Também foi destacada sua amizade com Fidel Castro.

Ao longo de sua vida, não parou de receber homenagens, embora o ano mais especial tenha sido 2007, quando por ocasião de seu 80º aniversário, o 40º aniversário de "Cem anos de solidão" e os 25 anos do Nobel, recebeu homenagens da Casa da América de Madri e foi protagonista de Congressos da Associação de Academias de Língua Espanhola (Medellín) e Internacional da Língua Espanhola (Cartagena de Indias).

"Viver para Contar" é a autobiografia em formato de romance que o prêmio Nobel publicou em 2002, e em 2009 apareceu a primeira biografia "tolerada", escrita pelo britânico Gerald Martin e intitulada "Gabriel García Márquez: Uma vida".

O escritor superou dois cânceres, um de pulmão que lhe foi extirpado em 1992 e outro linfático que foi diagnosticado em 2000 e pelo qual recebeu sessões de quimioterapia em Los Angeles (EUA), que fragilizaram sua saúde.

Premiado em múltiplas ocasiões, García Márquez recebeu entre outros prêmios o Rómulo Gallegos (1972, por "Cem anos de solidão"); a Legião de Honra francesa (1982); a Ordem do Aguila Asteca (1982), e a Ordem do Congresso da Colômbia no Grau de Grande Cruz com placa de ouro (2007).

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