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Galerias buscam mercado alternativo em capitais americanas e europeias

Em janeiro, a Galeria Nara Roesler abre sua nova galeria no exclusivo endereço do Chelsea, em Nova York

Estande da galeria Nara Roesler na Art Basel Miami  (Divulgação/Divulgação)

Estande da galeria Nara Roesler na Art Basel Miami (Divulgação/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de dezembro de 2020 às 09h50.

O processo de internacionalização das galerias brasileiras começou há algum tempo, mas acelerou na pandemia. Com a perspectiva de mudança no quadro, motivada pela aplicação da vacina contra o covid-19, já real em algumas capitais do mundo, os galeristas brasileiros resolveram investir pesado na instalação de filiais em algumas delas. Antes da pandemia, a Kogan Amaro abriu filial em Zurique, em 2019. A Galeria Jacqueline Martins inaugurou seu espaço físico, em Bruxelas, em setembro deste ano. Agora, em janeiro, a Galeria Nara Roesler abre sua nova galeria no exclusivo endereço do Chelsea, em Nova York - ela já operava há algum tempo num espaço menor na cidade. Com curadoria do venezuelano Luiz Pérez-Oramas, que organizou a 30ª. Bienal de São Paulo em 2012 e é o novo diretor artístico da galeria, a exposição inaugural, Cross-Cuts, que abre dia 12, reúne cinco diferentes instalações dos artistas pertencentes ao time da galeria durante cinco semanas, entre eles Antonio Dias (1944-2018), o destaque da primeira delas.

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Cada uma das instalações lida com questões contemporâneas que recontam parte dos últimos 50 anos da história da arte brasileira. Na obra de Antonio Dias, The Illustration of Art, do começo dos anos 1970, o artista paraibano reforça as relações entre a pintura, a história e a literatura, estabelecendo um jogo semântico com o espectador a partir de construções gráficas modulares ordenadas segundo uma lógica muito particular.

O curador Luiz Pérez-Oramas, segundo um dos sócios da galeria, Daniel Roesler, chamou de "cross-cut" esse recorte transversal de obras pela semelhança que essas operações formais dos artistas conservam com a técnica cinematográfica que lhe dá o nome - cross-cut é uma técnica de edição para registrar ações que acontecem ao mesmo tempo em locais diferentes. "Como temos duas salas, estabelecemos um diálogo entre dois espólios - o de Antonio Dias e Tomie Ohtake - com as obras de artistas contemporâneos vivos, as pintoras Cristina Canale, Karin Lambrecht e Maria Klabin, os escultores Milton Machado e Arthur Lescher e ainda Berna Reale e o norte-americano Paul Ramirez Jonas".

Marcos Amaro: depois de vender a Óticas Carol, ele virou artista plástico, comprou uma galeria e criou uma fundação | Rafael Dabul

Marcos Amaro: depois de vender a Óticas Carol, ele virou artista plástico, comprou uma galeria e criou uma fundação (Rafael Dabul/Exame)

Os trabalhos dos dois últimos artistas têm um viés político que os aproximam. Por coincidência, os dois nasceram no mesmo ano, 1965, a brasileira em Belém do Pará e Paul Ramirez Jonas na Califórnia (atualmente ele mora e trabalha em Nova York). O americano coloca em discussão em seu trabalho a questão da monumentalidade escultórica, enquanto Berna Reale relaciona o crescimento da violência às desigualdades sociais (além de artista, ela é perita policial, experiência que transparece em sua obra). Em ambos, enfim, as questões políticas são partes integrantes de cada peça ou instalação.

Embora todos os artistas da galeria já tenham participado de feiras e mostras internacionais, a presença deles no mercado externo - com exceção de Antonio Dias e Tomie Ohtake - ainda é tímida. Depois de cinco anos atuando em Nova York, epicentro da arte contemporânea, Daniel Roesler achou que já estava na hora de oferecer um espaço mais generoso aos artistas e apostar na evolução dos negócios. Numa área de 400 metros quadrados no Chelsea, a visibilidade desses artistas fica também maior que no espaço do escritório de arte que a Galeria Nara Roesler mantinha no terceiro andar de um prédio na Rua 69 (esquina com a avenida Madison).

Além disso, galerias americanas como a Barbara Gladstone e Gagosian já têm certa familiaridade com arte brasileira (a Gladstone expôs Volpi e a Gagosian representa contemporâneos como Adriana Varejão). A concorrência, no caso, é boa, pois a conquista de colecionadores americanos para a arte brasileira também acontece por meio dessas transações.

"Houve um movimento em torno da arte brasileira e nós participamos dele, colocando nossos artistas nos acervos dos principais museus americanos", diz Daniel Roesler, citando a aquisição, este ano, de uma pintura de Tomie Ohtake pelo museu da Dallas, entre outras. O interesse de colecionadores privados por Tomie (1913-2015) tem crescido nos Estados Unidos, o que fez Oramas desenvolver um projeto de conversas "inusitadas" entre brasileiros e americanos - "esse caráter de justaposição marca sua carreira", afirma Daniel Roesler. Depois de Tomie, outra pintora vai ocupar a nova galeria: a pouco reconhecida e admirável Amélia Toledo (1926-2017). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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