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"Fruitvale Station" refaz tragédia de jovem negro com rigor

Grande façanha do diretor estreante Ryan Coogler é tornar a crônica de uma morte anunciada num hipnotizante quase thriller

Ryan Coogler posa com os prêmios vencidos com o filme "Fruitvale Station - A Última Parada" durante o 39º Festival de Deauville, na França (Francois Durand/Getty Images)

Ryan Coogler posa com os prêmios vencidos com o filme "Fruitvale Station - A Última Parada" durante o 39º Festival de Deauville, na França (Francois Durand/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 30 de janeiro de 2014 às 17h09.

São Paulo - Não é preciso conhecer a história real de Oscar Grant III, o jovem cujo drama se desenrola com realismo documental em "Fruitvale Station - A Última Parada", premiado nos festivais de Sundance e Cannes (na seção Un Certain Regard) em 2013.

A grande façanha do diretor estreante Ryan Coogler é tornar esta crônica de uma morte anunciada num hipnotizante quase thriller ao acompanhar as últimas 24 horas de vida do garoto negro, de 22 anos, ex-presidiário, desempregado, filho e neto carinhoso e pai solteiro de uma menina de 5 anos.

Que Coogler não pretende esconder o final do drama fica estampado logo nos minutos iniciais do filme, que colhem um de seus muitos registros verídicos em celulares de algumas das várias testemunhas dos trágicos acontecimentos do Ano Novo de 2008 na estação de trem de Fruitvale, em Oakland (EUA).

As imagens retratam o início do incidente, envolvendo Oscar (Michael B. Jordan), sua namorada e mãe de sua filha, Sophina (Melonie Diaz), e alguns amigos, e policiais da estação. Aí interrompe-se a parte documental e o filme, como que voltando no tempo, parte para a reconstituição ficcional, com impressionante riqueza de detalhes. Assim, procura recuperar um dia na vida de um jovem comum, às voltas com problemas que eram sérios, mas não pareciam insolúveis.

O último dia do ano de 2008 era também o aniversário da mãe de Oscar, Wanda (Octavia Spencer, de "Histórias Cruzadas"). Por conta disso, eles ficam pendurados no telefone, cabendo a Oscar, seu filho caçula, a compra de alguns ingredientes do prato especial da cozinha sulista que a avó (Marjorie Crump-Shears) e a mãe preparam para a família naquela data duplamente especial.

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Estes pequenos detalhes vão gradativamente humanizando Oscar, tornando-o um personagem de carne e osso diante de uma avalanche de emoções, nem todas positivas. Ele reage com raiva e desespero diante da perda do emprego num supermercado - devido aos seus inúmeros atrasos. Flerta com a volta ao tráfico de drogas, que o levou a um curto período na prisão no passado. Brinca afetuosamente com a filha (Ariana Neal) e tenta convencer a namorada a voltar a morar com ele. Acima de tudo, pensa em começar vida nova.

Muitas vezes sozinho em cena, o ator Michael B. Jordan (visto em séries como "CSI: Investigação Criminal" e "Dr. House") atua na justa medida para revelar seu personagem por inteiro, nas fraquezas, hesitações e qualidades. Consegue fazê-lo com tal equilíbrio, sempre colocando em primeiro plano sua extrema juventude, de tal modo que o espectador que segue sua saga e pressente sua morte, na estação, pode se surpreender torcendo para que o desfecho seja outro. Uma prova cabal da qualidade do filme e da intenção maior do diretor ao realizá-lo.

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