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Ford quer ser tornar uma empresa de tecnologia e o Brasil é peça-chave neste processo

Daniel Justo, presidente da Ford América do Sul, fala dos planos da empresa para o futuro e qual o papel do Brasil

Daniel Justo: presidente da Ford América do Sul. (Leandro Fonseca/Exame)

Daniel Justo: presidente da Ford América do Sul. (Leandro Fonseca/Exame)

Gilson Garrett Jr.
Gilson Garrett Jr.

Repórter de Lifestyle

Publicado em 4 de dezembro de 2023 às 13h40.

Última atualização em 4 de dezembro de 2023 às 13h46.

Henry Ford revolucionou o mundo ao criar linhas de produção de carros, reduzindo os custos drasticamente e tornando o automóvel acessível. O fordismo foi uma transformação tão profunda e disruptiva que serviu de base para praticamente todo o processo industrial que temos até hoje. Um século depois, a Ford se prepara para outra transformação: tornar-se uma empresa mais voltada para a tecnologia do que para a produção automotiva. E o Brasil é parte fundamental desse processo.

"Para nós, é um fator estratégico ter um centro de desenvolvimento aqui no Brasil, pois estamos exportando tecnologia e soluções", explica Daniel Justo, presidente da Ford América do Sul, em entrevista exclusiva à EXAME Casual. Além do parque tecnológico na Bahia, a estrutura inclui um campo de provas em Tatuí, no interior de São Paulo.

Em abril deste ano, a Ford inaugurou, em Detroit, nos Estados Unidos, um centro de inovação em uma antiga estação de trem. O espaço é muito próximo de outro centro de desenvolvimento da empresa, que inclui até um túnel de vento que custou cerca de 1 bilhão de reais, mostrando o empenho da companhia em se tornar cada vez mais referência no desenvolvimento de produtos altamente tecnológicos.

A ideia central desse novo centro de inovação é atrair startups para se instalarem ali e cooperarem em projetos de mobilidade, eletrificação e conectividade. O que é criado dentro do local pode ser usado pela Ford, bem como por outras empresas, ajudando todo o ecossistema. O centro já conta com 35 startups e tem espaço para até 400.

E essas empresas, que pensam no futuro da mobilidade no mundo, interagem com o centro de desenvolvimento aqui no Brasil. Mesmo com a saída das fábricas da Ford do solo brasileiro, Daniel Justo avalia que o país tem um papel de destaque. Veja os principais trechos da entrevista com o presidente da Ford América do Sul.

Quais são as principais transformações da Ford feitas globalmente para atender as novas necessidades dos consumidores?

O consumidor está mudando, buscando um futuro digital, elétrico e conectado. A Ford compreende essa mudança e adapta seu foco para atender às necessidades desse novo perfil, priorizando não apenas a mecânica, mas também a digitalização do veículo. A empresa está reestruturando suas divisões de negócios para focar no cliente, como a Ford Blue, dedicada a clientes que buscam um suporte para seu estilo de vida, e a Ford Pro, focada na eficiência do trabalho, oferecendo mais tecnologia e segurança.

A Ford está se transformando mais em uma empresa de tecnologia e menos uma empresa que fabrica carros?

Temos equipes focadas em metodologias ágeis, visando integrar tecnologia avançada em toda a nossa linha de produtos. Estamos concentrando esforços no desenvolvimento de software para todos os veículos, não exclusivamente elétricos. Investimos em tecnologias autônomas, oferecendo recursos como o BlueCruise, que permite ao motorista dirigir sem mãos ao volante em certas condições, além de serviços conectados ao veículo para alertas e agendamento de serviços.

Qual a importância do mercado brasileiro para a Ford na América do Sul e quais são os planos da empresa para o Brasil?

O Brasil é um mercado vital para nós na América do Sul. Estamos renovando nosso portfólio, ampliando nossa oferta e fortalecendo nossa presença com programas como o Ford Enter, que busca integrar tecnologia e desenvolvimento social. O programa visa capacitar pessoas em desenvolvimento de software, conectando-as ao mercado de trabalho. Oferecemos cursos gratuitos e apoio financeiro, buscando preencher uma lacuna de especialistas na área e impactar positivamente suas vidas.

O Brasil não tem mais fábricas da Ford, mas continua com o centro de desenvolvimento e tecnologia, na Bahia. Como essa equipe contribui para o global?

São times que estão integrados. Para nós é um fator estratégico ter esse centro de desenvolvimento e tecnologia porque estamos exportando tecnologia e soluções. Temos um mercado exportador automotivo pequeno aqui no país, mas no sentido de serviços é grande. O Brasil é parte importante de tudo o que a Ford desenvolve em termos de tecnologia. Nossa expectativa é que continue crescendo nos próximos anos.

O que está previsto para o Brasil em termos de novidade para além de novos carros?

Estamos trabalhando em um programa de membership para um cliente com veículo conectado. Dentro de alguns quesitos, o cliente com o FordPass vai ter algumas facilidades sem custo. Entras essas facilidades está o pickup e delivery sem custo. Fazendo agendamento pela plataforma, você pode pedir para alguém retirar e devolver o carro onde quiser depois que fizer o serviço de manutenção. Até o fim do ano vamos oferecer de forma gratuita toda uma estrutura de monitoramento, além de acesso a especialistas.

Com a transição para veículos elétricos e a busca por sustentabilidade, como a Ford encara os desafios relacionados à infraestrutura e regulamentações para veículos elétricos no Brasil?

A infraestrutura é fundamental para a adoção em massa de veículos elétricos. No Brasil, a ausência de uma rede consolidada de recarga é um desafio. Estamos trabalhando em parceria com entidades governamentais e privadas para incentivar o desenvolvimento de uma infraestrutura adequada, buscando garantir uma transição suave e segura para essa nova tecnologia.

Há uma tendência de que as novas gerações não queiram mais ter um carro e sim usá-lo, em um sentido mais de serviço e não como propriedade. Há planos da Ford neste sentido? 

Já oferecemos o Ford Go, um modelo de assinatura para alguns de nossos modelos no Brasil. Reconhecemos a tendência crescente de modelos de assinatura e estamos adaptando nossa estratégia para atender a essa demanda. Estamos acompanhando de perto as preferências dos consumidores e oferecendo opções que se alinham com seus estilos de vida e necessidades.

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