Trecho do filme Florbela: longa fixa-se nos anos em que Florbela se esforça para levar uma existência dita normal, e não se aprofunda em alguns mitos sobre a poeta (Reprodução/Trailer)
Da Redação
Publicado em 30 de abril de 2014 às 17h33.
São Paulo - Repleto de boas intenções e bela fotografia, "Florbela" é uma fantasia vagamente inspirada mais na vida do que na obra da poeta portuguesa Florbela Espanca (1894-1930). Ao centro do filme, escrito e dirigido por Vicente Alves do Ó, está a relação quase incestuosa entre a escritora e seu irmão, Apeles, um piloto militar.
Dalila Carmo e Ivo Canelas ("Budapeste") fazem os papéis do par de irmãos, que tinham uma relação tumultuada com o pai, cujos três filhos nasceram de um caso extraconjugal. O filme acompanha Florbela a partir de seu terceiro casamento, com o médico Mário Lage (Albano Jerónimo), quando ela já era uma poeta famosa e tentava naquele momento levar apenas uma vida doméstica comum, ao lado de seu marido.
Florbela voltou a escrever somente depois da morte do irmão, em 1927.
Paradoxalmente, alguns de seus escritos mais famosos e cultuados vieram dessa época. Um verdadeiro paradoxo: quando estava infeliz, a poeta escrevia melhor do que quando tentava a felicidade.
O longa de Alves Ó fixa-se nos anos em que Florbela se esforça para levar uma existência dita normal, e não se aprofunda em alguns mitos sobre a poeta - como sua tumultuada vida sexual ou sua suposta insanidade mental.
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Florbela deixa Lisboa e se muda, junto com novo marido, para Matosinhos, mas sente falta da vida na metrópole, dizendo nunca se acostumar com o barulho do mar da nova cidade.
Ao retratar um período de improdutividade artística da poeta, o diretor opta por não mostrar sua obra. Ao longo das quase duas horas de "Florbela" praticamente não se tem acesso aos seus poemas. Mais de uma vez algum personagem menciona que ela é grande - e devemos acreditar na palavra desta pessoa, pois não há outra opção dentro da narrativa.
Assim, a arte de Florbela parece ter sido completamente autônoma de sua vida, o que resulta em personagens rasos, apesar do esforço do elenco, que se mostra bastante competente - especialmente o trio central.
Se em boa parte do tempo o diretor traça uma narrativa realista, seu deslize maior acontece quando coloca na tela supostos delírios poéticos envolvendo neve ou uma pantera, que soam deslocados.
Ao fim, "Florbela", com sua trilha sonora incessante, é cheio de pompa e circunstância, quando seria mais interessante se buscasse algo mais profundo e libertador.