Hambúrguer do The Fifties (Foto de Cardápio/Divulgação)
Paty Moraes Nobre
Publicado em 10 de dezembro de 2019 às 11h25.
Última atualização em 12 de dezembro de 2019 às 12h32.
A bola da vez para quem trabalha com a “alimentação do futuro” não são os veganos e vegetarianos. A indústria, a produção de conteúdo e as redes de lanchonetes estão de olho no consumidor flextariano, aquele que come carne, mas está interessado em variar de vez em quando.
O interesse na dieta meatless (menos carne) e campanhas como “Segunda sem carne” (consumo zero de carne às segundas-feiras), capitaneada por ninguém menos do que Paul McCartney, norteiam o momento. Além disso, pesquisas detalhadas sobre nosso comportamento virtual quando o assunto é comida, principalmente, hambúrguer, orientam o processo.
Segundo pesquisa do Google enviada à coluna, houve um crescimento de 4100% nas buscas por alimentação “plant based” no Brasil de 2015 a 2019. Dúvidas como "de que é feito o hambúrguer de planta", “o que é carne vegetal” e “o que é flextarianismo” estão entre as mais digitadas na plataforma.
O hambúrguer de planta ou vegetal não é uma grande novidade - produtos à base de soja já estão no mercado há décadas, mas o búrguer sem proteína animal com sabor e textura de carne é. Nas lanchonetes, os cardápios destacam que o novo produto em nada lembra aquele antigo “gosto de nada” dos alimentos veganos e vegetarianos do passado.
Esse cenário favorece quem ainda opta por uma vida com carne, mesmo que com um consumo menos frequente.
Após o Burger King ser alvo de uma ação na Justiça norte-americana por supostamente ter contaminado um hambúrguer vegano Impossible Whoopers com vestígios de carne, decidimos entender como o preparo funciona em grandes lanchonetes no Brasil. Phillip Williamns decidiu processar a rede alegando que não teria pago mais caro pelo hambúrguer vegano se soubesse que a lanchonete usaria a mesma chapa dos hambúrgueres convencionais, feitos de carne.
Em nota enviada à coluna, o BK Brasil garante que divulga “que o produto pode entrar em contato com proteína animal exatamente por ser feito na mesma grelha dos demais sanduíches da marca”. Isso porque, ainda de acordo com o comunicado, “ele foi feito para pessoas que comem carne”.
Segundo Gustavo Guadagnini, Managing Director do The Good Food Institute (GFI), entidade internacional que também atua no Brasil apoiando o desenvolvimento de alimentos plant based (de origem vegetal) e cultivated meat (tecidos cultivados sem a necessidade de animais), "os consumidores vegetarianos e veganos não querem consumir alimentos de origem animal por tabela”.
Ou seja, se você é flextariano, as redes de lanchonetes estão de olho em você.
Na quase centenária lanchonete Ponto Chic, em São Paulo, o sanduíche Chic Futuro, que tem hambúrguer vegano Fazenda do Futuro feito de soja, ervilha, grão de bico e beterraba, mas leva queijo (R$26,90), é preparado no mesmo equipamento do sanduíche convencional. “É uma opção para vegetariano e quem quer reduzir o consumo de carne”, enfatiza Rodrigo Alves, que já garante 30% das vendas com a nova opção.
A versão sem carne é muito saborosa, mas no mesmo local, o Garoa Burger, feito com hambúrguer artesanal bovino, queijo ao Ponto Chic bacon crocante, cebola roxa, tomate e maionese (R$ 31,06), também se destaca.
No The Fifties, que tem 26 anos de existência, os sanduíches também são feitos na mesma chapa. “Há uma limpeza superficial no momento do cozimento, mas nada que impeça o contato com outros produtos, inclusive outras carnes”, diz a nota enviada à coluna.
A rede, que projeta um aumento de 10% nas vendas com a novidade, permite trocar o burger tradicional pelo recém-lançado Futuro Burger 2.0 (a partir de R$26) em todas as 19 unidades localizadas nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. A versão 2.0 tem 11% menos calorias, 23% menos carboidratos, 13% menos gorduras, 6% menos sódio e 32% mais fibras do que a anterior.
Vale a pena também provar Veggie Burguer (R$25), com hambúrguer de soja (140g), shitake na manteiga, alho poró, alface americana, cenoura ralada e molho grego à base de iogurte no pão preto. Para acompanhar, experimente as deliciosas Fritas Trufadas (a partir de R$20).
Já na Black Beef, a grelha tem um espaço separado e uma espátula específica para assar o Futuro Black Beef, que leva parmesan cream e um molho de shitake com queijos, no pão tipo brioche (a partir de R$ 26).
Em evento nesta semana, a Seara apresentou a linha Incrível à imprensa: é uma coleção inteira de hambúrgueres, quibes, coxinhas e até nugetts à base de ervilhas que formam a exclusiva “Biomolécula i” desenvolvida no Incrível Lab, hub de inovação focado em plant based criado pela marca. A linha invade, em breve, as prateleiras e os restaurantes Applebee’s, Rodeio, Detroit Steakhouse, Habib’s, Ofner, Subway e no Allianz Parque.
À coluna, José Cirilo, diretor executivo de marketing da Seara, confirma o foco nos flextarianos e na intenção de, cada vez mais, agradar ao paladar dos carnívoros. Além disso, o executivo garante que a venda de carne não foi afetada pelo novo nicho. Muito pelo contrário.