Casual

Fintech aposta em música como opção de investimento (e do funk ao rock)

A Hurst é a primeira empresa brasileira a estruturar operações com royalties musicais, um mercado que começa a ganhar corpo também no exterior

Inspiração: Bob Dylan vendeu seu catálogo para a Universal (Jeffrey R. Staab/CBS/Getty Images)

Inspiração: Bob Dylan vendeu seu catálogo para a Universal (Jeffrey R. Staab/CBS/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de fevereiro de 2021 às 09h25.

Última atualização em 3 de maio de 2022 às 15h20.

Com 318 milhões de execuções somente na plataforma de vídeos YouTube, a música "Parado no Bailão" é um dos sucessos recentes do funk nacional. E pelos próximos três anos, sempre que a música passar por execução pública, como em shows ou casas noturnas, ou digital, como em plataformas de streaming, um grupo seleto de investidores receberá os royalties ligados a seus direitos autorais.

Seu dinheiro está seguro? Aprenda a proteger seu patrimônio

Isso porque a música que explodiu na interpretação de MC Gury e MC L da Vinte faz parte de um catálogo da gravadora CP9/Akira, referência no funk brasileiro, que foi negociado com a Hurst Capital.

Fintech de São Paulo especializada em investimentos alternativos a Hurst é a primeira empresa brasileira a estruturar operações com royalties musicais, um mercado que começa a ganhar corpo também no exterior. O negócio consiste em adquirir ativos reais - como os direitos de obras musicais - e repassar esses recebíveis a investidores.

Nesse caso específico, a Hurst adquiriu os direitos de obras de compositores ligados à CP9/Akira, como Parado no Bailão, além dos royalties de músicas a serem lançadas no futuro. A entrega mínima é de 22 novas músicas por mês. A CP9/Akira atua em gêneros musicais como funk, trap, hip hop/rap e regional mexicano.

Com os direitos em mãos, a Hurst estruturou a operação no formato de crowdfunding (investimento coletivo). Por meio dele, interessados podem investir a partir de R$ 10 mil para receber, em troca, os royalties das músicas. Após três anos, os direitos serão revendidos.

Toda vez que a música é executada publicamente, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), responsável pelo recolhimento e distribuição dos direitos autorais das músicas no Brasil, envia à Hurst e aos investidores os valores referentes aos royalties. Quando a música toca em plataforma digital - como YouTube, Spotify e Deezer - a União Brasileira de Editoras de Música (Ubem) é a responsável pelo envio de royalties.

Para atuar como plataforma de crowdfunding, a Hurst tem autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Operações como a de royalties de músicas também precisam obedecer à Instrução CVM n.º 588, que trata de crowdfunding de investimento.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, a CVM confirmou que Hurst está autorizada a operar nesse formato e disse que não há denúncias, reclamações ou investigações contra a empresa.

"Fundamos a empresa em 2017 ao vermos o movimento que estava ocorrendo em outros países. Nos Estados Unidos e na Europa, havia trilhões de dólares aplicados em juros negativos. Então, grandes fundos institucionais estavam migrando parte de suas carteiras para ativos alternativos", explica Arthur Farache, presidente e um dos fundadores da Hurst.

Advogado com passagens pelo Citibank e pelo escritório Machado Meyer, Farache fundou a fintech em sociedade com Leonardo Viana, ex-Starwood Capital e Brookfield, e Carlos de Carvalho, com passagens por IBM e B3.

Segundo Farache, a busca por aplicações alternativas abriu oportunidades também no Brasil. "Olhamos o cenário e vimos que se o País elegesse um presidente alinhado com o mercado, teríamos uma queda na taxa de juros. Isso acabou acontecendo", afirma.

Alternativas à Selic
Com a Selic (a taxa básica de juros) em 2% ao ano, no menor nível da história, parte dos investidores passou a buscar alternativas para fazer render suas carteiras. A aplicação em royalties de músicas é uma das novidades. A Hurst também formata operações ligadas a créditos de ativos judiciais e precatórios (valores devidos a pessoas físicas ou jurídicas após sentença definitiva na Justiça).

O cenário base da operação de funk da Hurst projeta um retorno de 15,75% ao ano (fora taxas, mas sem considerar o pagamento de impostos). No cenário pessimista - que pressupõe menos execuções que o esperado nos próximos três anos - o retorno projetado é de 11,13% ao ano.

Retornos assim são, atualmente, superiores aos da renda fixa tradicional. No ano passado, os fundos de renda fixa registraram ganho médio de 2,37% ao ano no Brasil e a caderneta de poupança rendeu 2,12% ao ano.

Ao montar as operações, a Hurst considera o histórico de reprodução das obras nos últimos cinco anos. Após lançada, uma música atinge picos de veiculação e, depois, costuma deixar de ser tão buscada em plataformas de streaming. Isso é mais intenso no caso do funk - gênero que possui sucessos passageiros e volume grande de lançamentos. Por esse motivo, a Hurst decidiu adquirir também os direitos de músicas a serem lançadas.

Caso surja um grande sucesso, os retornos podem ser até maiores. Em operações anteriores, foram adquiridos apenas royalties de músicas já existentes - algumas delas clássicas.

Antes do funk, a Hurst Capital adquiriu os direitos de obras do cantor Paulo Ricardo, ex-RPM e ícone do rock nacional. Estão na lista de 590 obras sucessos como Rádio Pirata, Olhar 43 e Vida Real, música de abertura do Big Brother Brasil (BBB), da Rede Globo. A operação ligada a Paulo Ricardo captou R$ 1,5 milhão em investimentos.

A fintech também captou R$ 2,5 milhões em investimentos ligados à obra do pianista João Luiz de Avellar, compositor de MPB e bossa nova, e R$ 1,899 milhão em operação vinculada ao compositor Philipe Pancadinha, autor de músicas sertanejas e pagodes.

É dele o sucesso Largado às Traças, dos sertanejos Zé Neto e Cristiano, com 798 milhões de visualizações apenas no YouTube. A operação ligada à CP9/Akira já captou R$ 1,280 milhão.

Os valores ainda são baixos para o mercado brasileiro, mas a experiência internacional sugere que há espaço para crescer. Lá fora, algumas operações com royalties de músicas já movimentam milhões de dólares.

Um dos exemplos envolve Bob Dylan - ícone americano e vencedor do prêmio Nobel de Literatura -, que em 2020 vendeu seu catálogo para a Universal. O valor da operação foi estimado em mais de US$ 300 milhões.

 

Acompanhe tudo sobre:CulturaEntretenimentoEXAME-no-InstagramFintechsMúsica

Mais de Casual

Inspirado nos Alpes e em Aspen, Veuve Clicquot abre terraço de inverno em hotel de Campos do Jordão

NK Store lança NK Archive: plataforma de revenda sem taxas para peças da marca

'Steve Jobs dos vinhos' conduz degustação rara no Brasil com rótulo de 100 pontos

Fernanda Montenegro fará turnê pelo Brasil com leitura de Simone de Beauvoir e Nelson Rodrigues