Elza Soares atravessou tragédias e soube, como poucas, se reinventar e reencontrar a alegria (Stéphane Goanna Munnier/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 1 de novembro de 2018 às 12h06.
Em "My Name is Now - Elza Soares", a diretora mineira Elizabeth Martins tem o desafio de mostrar ao público alguém que dispensa apresentações. Elza, a grande cantora, sambista, companheira de Mané Garrincha, musa de tantas gerações. Elza, que atravessou tragédias e soube, como poucas, se reinventar e reencontrar a alegria, do outro lado do rio.
Essa é a Elza que aparece no filme, num estudo de rosto, sofrido, marcante, marcado, porém tão expressivo. Elza que, apresentando-se no programa de Ary Barroso, e indagada pelo ácido apresentador de onde viera, respondeu, de bate-pronto: "Venho do país da fome".
Essa mulher, que conheceu tantas vitórias e derrotas, é associada ao mito do Fênix, ave que renasce das próprias cinzas. Essa referência mítica dá o tom a um filme que prefere a linguagem alegórica à realista. Evita assim o que seria uma redundância na caracterização da personagem pública que Elza, desde o início da carreira, nunca deixou de ser.
A cantora magnífica, que usava o gogó e empunhava o microfone com a ginga que o morro lhe deu, não cessou de mudar e se refazer. Poderia ter ficado na, como hoje se diz, zona de conforto, mas inovou na vida, no repertório e no público, hoje dirigindo-se à nova geração e tornando-se musa da vanguarda.
Elza também que é dona de uma pegada jazzística e foi comparada, por Louis Armstrong, a outra diva, Billie Holiday. Vê-la e ouvi-la, dominando a arte do scat singing dos grandes mestres negros norte-americanos, é um prazer incomparável.
O filme passa por tudo isso, e, com a câmera colocada rente ao rosto da artista, em super close, conta o que ela mesma tem a dizer sobre si. Como essas palavras duras: "Aprendi a cantar carregando lata d´água na cabeça, subindo o morro".
Elza Soares é mais do que uma cantora, mais ainda que uma artista no completo domínio de sua arte. É expressão de um Brasil que podia ser pobre, miserável mesmo, mas era um país talentoso. Bem diferente da vulgaridade atual.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.