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Festas em Trancoso: como foi o réveillon mais disputado do Brasil

Mais jovens, mais ricos, mais brasileiros: esse foi o perfil dos turistas na virada do ano da covid

 Aglomerações em praia de Trancoso: festas dispersadas pela polícia (Lucas Martins/Folhapress)

Aglomerações em praia de Trancoso: festas dispersadas pela polícia (Lucas Martins/Folhapress)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 7 de janeiro de 2021 às 06h00.

Última atualização em 7 de janeiro de 2021 às 07h13.

Se este foi o verão da covid, Trancoso pode vir a ser o símbolo da aglomeração indevida nas comemorações do réveillon. Dependendo de quem a pessoa segue no feed do Instagram, ou simplesmente dos atalhos dos algoritmos, a impressão é a de que esse hotspot no sul da Bahia nunca esteve tão em alta, uma grande festa para a qual talvez só você não tenha sido convidado.

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A verdade é que ninguém deveria ter sido convidado para essa festa, ou para essas festas, e a razão é óbvia. Tentou-se fazer eventos, é verdade, e a favor de Trancoso é preciso dizer que muitas baladas foram reprimidas. Nos dias anteriores à virada do ano, algumas comemorações sofreram batidas policiais, com os convivas sendo dispersados ainda com as flûtes nas mãos.

“As pessoas foram percebendo que era sério e muita gente acabou desmarcando a celebração do réveillon”, diz um empresário do interior de São Paulo, dono de uma pousada em Trancoso. A diferença na noite da virada, ele conta, é que desta vez o chamado Quadrado ficou lotado o tempo inteiro. “Nos outros anos, quando dava sete, oito horas da noite, todo mundo ia para casa se arrumar e ir para as festas.”

O Quadrado é uma grande área na qual a vida social de Trancoso acontece. Que ninguém se deixe enganar pelas pitorescas casas coloridas de lá. Por trás dessa aparente simplicidade estão sofisticados ateliês de arte e lojas de moda praia, bares e restaurantes estrelados, como o inventivo Uxuá, o mais caro do pedaço. No meio fica um grande campo de futebol e, ao fundo, a charmosa igreja São João Batista.

O Quadrado fica em uma espécie de platô, no alto. Para chegar às praias é preciso descer uma falésia e encarar uma caminhada. Os bares à beira-mar também estiveram lotados neste fim de ano, com muita gente sem máscara – o que não foi exclusividade do balneário baiano, vale a ressalva. E nem dos dias que antecederam o réveillon.

Igreja Trancoso Aérea

Vista áerea do Quadrado: ateliês de arte e restaurantes sofisticados (Reprodução/Divulgação)

 

O novo turista de Trancoso

Em anos anteriores, festas de réveillon como a Saravá e a Taípe, se estendiam por dias, com pacotes que começavam em 3 mil reais. Este ano, o governo da Bahia proibiu a realização de shows e festas, públicas ou privadas. Também manteve a suspensão de eventos e atividades com mais de 200 pessoas. Segundo a Polícia Militar local, neste fim de ano foram reprimidos mais de 40 encontros em casa e mais de uma dezena de festas com venda de ingresso em Trancoso.

“Quem alugou casas acabou fazendo reuniões menores, mais discretas”, diz uma empresária paulista que frequenta há anos o balneário. “Passei a noite em um beach club com pouca gente, pé na areia, mas ‘mocosado’, para não dar na vista. Tinha muita gente lá, mas achei a fiscalização até que boa. Começava uma festa, logo dava polícia e fechava. Começava outra em outro lugar, a polícia fechava. Saca? Mesmo nas casas mais bacanas para festas.”

A empresária percebeu uma mudança recente no perfil dos frequentadores de Trancoso: mais jovens, mais ricos, mais brasileiros. “É uma molecada que frequenta por lá, uma galera bem nova, entre 20 e 30 anos. Um pessoal muito, muito bonito, isso sim. E foi aquela pagação de sempre. As mulheres super montadas. Zero salto alto na praia, isso é lenda, mas todas muito arrumadas, com joias, bolsas.”

A faixa etária dos frequentadores locais tem mudado nos últimos anos, segundo um paulista radicado há duas décadas em Trancoso. “O pessoal mais velho e as famílias não vêm nessa época do ano, só jovens mesmo”, diz. Muitos habitués haviam trocado o enclave baiano por destinos internacionais como St. Barths, a exemplo do publicitário Nizan Guanaes. Este ano, ele voltou para Trancoso.

Turistas de fora do Brasil também estavam em falta este ano. “A frequência no réveillon sempre foi bastante específica”, diz o dono da pousada. “Era metade paulista, metade estrangeiro”, exagera. “Só depois da primeira semana de janeiro é que se começava a ouvir um sotaque capixaba, um sotaque mineiro. Este ano tivemos menos gringos no geral. Quando tinha, era francês.”

Villas inflacionadas

Esta foi a segunda vez que a influenciadora Camila Coutinho passou lá o réveillon. A primeira foi no ano passado. “É um destino que tem muita festa, muito cheio. Este ano as pessoas ficaram muito em casa, até comendo mais em casa, menos em restaurantes. Eu dormi muito, li muito, foi outro tipo de experiência.”

O alto padrão, esse sim, se manteve. Talvez até tenha aumentado. “Sem possibilidades de ir para fora, muita gente que antes frequentava Trancoso acabou voltando”, diz um corretor de imóveis da região. O resultado foi uma certa inflação dos preços. Os pacotes de sete dias por casas de luxo nesse período chegaram a 170 mil reais, preço de um carro de luxo de entrada. Algumas pousadas à beira mar cobravam 700 reais só para o hóspede poder usar a esteira e o guarda-sol. “O dia inteiro a gente ouvia barulho de helicópteros”, conta a empresária paulista.

Nos últimos anos tem crescido em Trancoso um formato de hospedagem que já estava muito forte fora do Brasil, mas aqui ainda tímido, segundo o empresário Ricardo Nobel, dono da marca de resortwear Barthelemy, com loja no Quadrado. “Os turistas com um poder aquisitivo mais alto têm focado no aluguel de villas, casas com todo um staff especializado, com excelência no serviço, estrutura, privacidade e isolamento social.”

Segundo Nobel, as melhores opções foram muito disputadas este ano. “Muitas casas foram construídas, novos condomínios foram lançados e diversas pousadas e hotéis renovados e inaugurados. Mesmo com todo esse aumento de capacidade a ocupação foi recorde”, diz. Para ficar em um exemplo, o Club Med Trancoso passou no segundo semestre do ano passado por uma ampla reforma, ao custo de 55 milhões de reais, com a inauguração de 30 novos quartos.

“Os valores também acabaram acompanhando essa nova demanda e subiram bastante em relação a anos anteriores”, diz Nobel. Para o empresário, a presença em Trancoso é fundamental para visibilidade de sua marca. “É onde as coisas acontecem no verão.”

As cenas de aglomerações e de policiais dispersando festas podem prejudicar a imagem de Trancoso? “Pelo contrário, acho que só mostram como o destino é disputado”, diz o dono da pousada citado no início da reportagem. “Nossa expectativa para os próximos anos é que, mesmo com a retomada de viagens ao exterior, o turismo local cresça bastante”, afirma Nobel. “Muitos brasileiros conheceram e estão valorizando nossos destinos.”

 

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