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Famílias com crianças foram as mais afetadas na pandemia, diz Unicef

Falta de acesso à internet afastou alunos da escola, diz Ítalo Dutra, chefe da área de educação do Unicef Brasil, na abertura da Fliss

 (Germano Luders/Exame)

(Germano Luders/Exame)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 27 de agosto de 2020 às 13h59.

Última atualização em 31 de agosto de 2020 às 08h32.

A abertura da Fliss, a Festa Literária Internacional de São Sebastião, que neste ano acontece online e reúne mais de 40 escritores, contadores de história, especialistas em literatura e artistas da música, iniciou com um alerta. “As desigualdades infanto-juvenis foram ampliadas na pandemia do coronavírus. Há crianças e adolescentes que conseguiram fazer contato com as escolas todos os dias, enquanto outros perderam esse vínculo escolar”, lamentou Ítalo Dutra, chefe da área de educação do Unicef Brasil, em conversa com a jornalista Adriana Saldanha, diretora-geral da Fliss.

Famílias com crianças ou adolescentes foram as mais impactadas pela crise provocada pela covid-19 no Brasil. É o que revela a pesquisa Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes, lançada nesta semana pelo Unicef. Realizada pelo Ibope em todo país, a pesquisa mostra que os brasileiros que vivem com pessoas menores de 18 anos em casa foram a maioria entre aqueles que tiveram redução de rendimentos, ficaram sujeitos à insegurança alimentar e, inclusive, à fome, dentre outros desafios.

Embora crianças e adolescentes não sejam os mais afetados diretamente pela covid-19, a pesquisa deixa claro que eles são as grandes vítimas ocultas da pandemia. Suas famílias tiveram reduções de renda, a qualidade da alimentação piorou e muitos de seus direitos estão em risco.

Apesar da rápida adaptação de escolas e estudantes com a ajuda da tecnologia, nem todos continuaram assistindo às aulas. Na média entre alunos de escolas públicas e escolas particulares, 91% continuaram realizando atividades escolares em casa. No entanto, 9% não conseguiram dar continuidade à aprendizagem em casa, ampliando assim a exclusão no país. A falta de acesso à internet afastou alunos das escolas.

Mesmo que 91% das crianças tenham seguido com acesso à educação, um percentual significativo não conseguiu estudar de maneira regular. Uma demonstração de que o acesso a direitos ocorre de forma desigual no Brasil.

Dutra comenta que, após o Brasil ter fechado abruptamente suas escolas, é preciso se preparar para a reabertura. O vínculo escolar precisa voltar, pois há um número considerável de alunos não matriculados ou com um ou dois anos de atraso escolar. “Devemos aprender as lições que esse momento excepcional trouxe. Sofremos impactos importantes. Se pudermos ampliar a capacidade da interação fazendo uso das tecnologias, excelente. Mas, antes, temos de resolver o problema do acesso. Cerca de 30% da população brasileira não tem acesso à internet”, lembra Dutra.

Para ele, só a redução da desigualdade levará, de fato, a uma educação híbrida. A educação, lembra o representante do Unicef, evoluiu nos últimos 30 anos. No entanto, ainda falta dar outros passos que levem a condições adequadas para professores e alunos. Além do acesso às tecnologias, é preciso assegurar que se ofereçam livros didáticos e paradidáticos e também bibliotecas.

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