Fórmula 1: (Rolex/Divulgação)
Rodrigo França
Publicado em 30 de novembro de 2019 às 07h00.
Última atualização em 30 de novembro de 2019 às 08h00.
No futebol, o árbitro de vídeo, popularmente conhecido pela sigla em inglês VAR, tem gerado opiniões distintas – há quem diga que é o futuro e é inevitável, há quem acredite que ele gerou mais confusão e discussão do que propriamente uma solução pacífica para corrigir os erros de arbitragem.
Mas há um esporte tão global quanto o futebol que utiliza este recurso com muito mais tempo de uso e com excelente nível de aceitação do público: a F1.
“Sim, dá para dizer que a gente usa o VAR há algumas décadas, mas com uma importante diferença: no futebol, o juiz pode parar o lance e fazer uma análise precisa do vídeo. Já no meu caso, a corrida não para, então tenho que tomar a decisão enquanto as coisas estão acontecendo”, explicou o diretor de provas da F1, Michael Masi, em entrevista exclusiva a Exame VIP durante um tour promovido pela patrocinadora do evento, Rolex – que faz a cronometragem oficial da principal categoria do automobilismo mundial.
Masi entrou no lugar de uma das figuras mais populares do esporte: Charlie Whiting, que morreu no início da temporada 2019 por conta de uma embolia pulmonar.
O trabalho do diretor de provas da FIA é “facilitado” por dezenas de monitores que acompanham em tempo real todos os trechos do circuito. Em Interlagos, por exemplo, haviam mais de 100 câmeras em pontos estratégicos que permitem uma tomada de decisão rápida para punir eventuais irregularidades de um piloto em uma disputa de posição.
Além disso, Masi tem acesso aos rádios e as câmeras on board de todos os carros, mas se engana quem pensa que é ele quem decide sobre uma eventual punição. “Quando notamos algo que merece investigação, imediatamente esta comunicação é feita para o sistema de cronometragem para que todas as equipes tenham acesso”, diz.
Nas ultimas temporadas, especialmente com a maior atuação do Liberty Media em termos de informação de qualidade para o público, esta checagem aparece na transmissão oficial da TV – com o já famoso “incidente entre os carros X e Y está sob investigação”. Mas aí são os comissários da FIA que analisam cada caso – são em geral ex-pilotos com larga experiência em automobilismo que decidem pelo que será julgado, como Tom Kristensen (maior vencedor das 24 Horas de Le Mans), Nigel Mansell (campeão da F1 em 1992) etc.
Vale lembrar que as punições nem sempre agradam o público, como no VAR no futebol. Um caso que ficou bastante emblemático em 2019 foi o de Sebastian Vettel, que, na disputa pela liderança do GP do Canadá de F1, acabou saindo da pista e na volta ficou logo na frente de Lewis Hamilton, da Mercedes.
Os comissários consideraram que o alemão voltou de forma perigosa e acabaram dando cinco segundos a mais no tempo de chegada de Vettel, que com isso perdeu a vitória e acabou no segundo lugar. Insatisfeito, o piloto da Ferrari parou seu carro no parque fechado da FIA e colocou a placa de número 1 em frente ao seu F1, mostrando que ele se considerava o verdadeiro vitorioso.
O diretor de prova também tem outra importante missão na pista: garantir a segurança de todos. Então, quando ele nota em algum dos monitores de TV que há perigo na pista, ele imediatamente tem que tomar uma decisão. “Os fiscais de pista espalhados pelo circuito podem nos passar com exatidão o problema, mas normalmente já detectamos pelas nossas câmeras aqui na central de controle. Aí, cabe a decisão de chamar o safety car, principalmente se a segurança de um piloto ou qualquer envolvido com a corrida estiver em jogo”, explica Massi.
E foi o que aconteceu no caso do GP Brasil de 2019. E, sem que isso tenha sido a principal intenção, acabou trazendo um dos finais mais emocionantes da temporada, com briga pela vitória até as voltas finais e com um duelo de Hamilton contra Pierre Gasly, da Toro Rosso, até a linha de chegada – o francês acabou em segundo lugar.
Se no futebol nem sempre o juiz consegue agradar o torcedor, dá para dizer que na F1 o diretor de prova pode trazer sempre uma emoção extra para a corrida – ainda que seu objetivo seja apenas preservar a segurança de todos – e nisso o VAR da F1 tem sido eficiente há décadas.