MIS: Todo esse trabalho de Michelangelo na capela é reproduzido na exposição (Rovena Rosa/Agência Brasil)
Agência Brasil
Publicado em 11 de fevereiro de 2023 às 09h43.
Última atualização em 11 de fevereiro de 2023 às 09h43.
Uma exposição imersiva, inaugurada no final de janeiro no MIS Experience, em São Paulo, faz com que o público tenha a sensação de como é visitar a Capela Sistina, no Vaticano. A mostra Michelangelo: o mestre da Capela Sistina fica em cartaz até o dia 30 de abril e apresenta não somente uma experiência imersiva de uma das maiores obras da história da arte, mas traz também reproduções de obras famosas do mestre renascentista como a escultura de Davi. Há também reproduções de manuscritos, estudos e desenhos feitos por Michelangelo.
Segundo o Museu da Imagem e do Som (MIS-SP), os itens da mostra foram homologados pelas instituições italianas que preservam o legado artístico de Michelangelo.
São 14 salas expositivas. Além da sala dedicada à imersão, há também uma que reproduz o ateliê do artista. As demais salas mostram detalhes sobre a arquitetura e os desenhos e pinturas feitos para a Capela Sistina. Há, inclusive, uma sessão dedicada a explicar o Conclave, a reunião de cardeais que decide sobre a escolha de um novo papa e que ocorre no interior da Capela Sistina.
Os conteúdos das salas foram elaborados pelo professor e historiador da arte Luiz Cesar Marques Filho. “Michelangelo era basicamente um escultor, com exceção da Capela Sistina, do Tondo Doni [que é reproduzida na exposição] e uma outra obra inacabada que é atribuída a ele. A Capela Sistina e a Capela Paulina são esses dois grandes monumentos da pintura mural ou de afresco”, explicou Marques Filho, em entrevista à Agência Brasil.
A Capela Sistina é uma capela situada no Vaticano e é famosa por sua arquitetura e também por sua decoração em afrescos. Os primeiros afrescos foram feitos nas laterais da capela e retratam figuras bíblicas. De um lado, eles representam a vida de Moisés. Do outro, Jesus Cristo. “Estão lá [obras de] Boticelli, Perugino, Cosimo Rosselli, Lucas Signorelli, grandes pintores florentinos dessa geração”, disse o historiador.
Mas são os afrescos do teto, pintados por Michelangelo, que a fizeram ainda mais famosa. “A capela tinha um teto que era apenas estrelado. E quando [papa]Julio II assumiu o poder, ele chamou o Michelangelo para fazer o seu túmulo. Mas ele mudou de ideia e convocou o Michelangelo para fazer a abobada da capela. Michelangelo não queria porque nunca tinha feito um afresco na vida. Ele tinha feito apenas um aprendizado de afresco com o Domenico Ghirlandaio, que também tinha pintado a Capela Sistina”, explicou Marques Filho.
“Michelangelo pintou a abóbada da Capela Sistina entre 1508 e 1512. As partes mais elevadas da abóbada ele pintou em pé. As partes mais rebaixadas da abóbada ele pintou deitado. É um trabalho extremamente laborioso. Essa foi a maior superfície pintada da história da pintura ocidental. A abóbada dista 20 metros do chão. Ele pintou as figuras projetando como elas seriam percebidas a 20 metros de distância, com distorções de perspectiva”, disse o historiador. Em 1535, anos depois de concluir a pintura da abóbada, Michelangelo começou a pintar a parede do altar, conhecida como Juízo Final.
Todo esse trabalho de Michelangelo na capela é reproduzido na exposição, com apresentação detalhada e também muitos textos de apoio, que ajudam o público a entender, por exemplo, a dificuldade que foi pintar as paredes e o teto da Capela Sistina. “O afresco é uma técnica muito complicada. No afresco, você passa a argamassa mais ou menos crespa, de cimento, na parede de tijolo. Depois se desenha com uma técnica chamada sinopia, que é uma espécie de giz. Então se passa mais uma camada de argamassa, mais fina, sobre este desenho, somente na pintura que seria feita naquele dia já que, no afresco, a argamassa precisa estar fresca. Isso significa que ela tem que estar suficientemente seca para não borrar, mas precisa estar suficientemente úmida para que a pintura penetre na parede”, explicou Marques Filho.
Toda a grandiosidade dessa obra só poderia ser observada e apreciada, de fato, com uma visita ao Vaticano. Mas a exposição em São Paulo pretende, ao menos, dar um gostinho do que é estar lá.
“Deu para vivenciar muito. Foi um saborzinho de querer ver [a obra] ao vivo e a cores”, disse a aposentada Rita de Cássia, 60 anos, em entrevista à Agência Brasil. Rita de Cássia visitou a exposição na quinta-feira (9) e se atentou aos detalhes da obra majestosa de Michelangelo. “Os painéis mostrando a história, contando a evolução da arte, foi a parte que gostei mais [da exposição]”, disse.
“Foi uma exposição ótima, muito educativa. Achei muito interessante. No Brasil, esse tipo de exposição [imersiva] ainda é novidade”, disse Maria Amélia Martins, que ainda não teve a oportunidade de conhecer o Vaticano.
Já Catia Maria, 67 anos, viveu a experiência de visitar a verdadeira Capela Sistina. “Foi uma experiência fantástica. Só vendo ao vivo mesmo, de onde ele ficava para criar as obras, de onde vinha a inspiração. Ele [Michelangelo] é um monstro sagrado”, disse, quando se preparava para visitar a exposição em São Paulo. “Gosto muito dessas exposições imersivas. Acho bem interessante. O contato com a obra é ainda maior”.
A exposição Michelangelo: o mestre da Capela Sistina tem entrada gratuita às terças-feiras. Crianças de até 7 anos também têm entrada gratuita. Outras informações sobre a mostra podem ser obtidas por meio do site da exposição.