Vladimir Herzog: mostra também faz referência à morte do jornalista, assassinado sob tortura em 25 de outubro de 1975, ano em que dirigiu o Departamento de Jornalismo da TV Cultura (Divulgação/Instituto Vladimir Herzog)
Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2013 às 23h36.
Brasília - Mostrar o papel da imprensa na resistência à ditadura militar instaurada no Brasil em 1964 é um dos objetivos da exposição Resistir é Preciso. A mostra será aberta amanhã (6) no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) em Brasília. Organizada pelo Instituto Vladimir Herzog, a mostra apresenta uma linha do tempo sobre o período de 1960 a 1985 com foco em iniciativas de resistência ao regime militar implantado no país em 1964.
Os cartazes, fotos, quadros e publicações da mostra traçam um panorama das diferentes frentes de resistência à ditadura militar e a implantação da censura nas redações, quando as publicações passaram a ser avaliadas pelos censores. "Eles revelam como se lutou na ditadura e o que nós mostramos aqui é uma parte desta luta", disse Vladimir Sacchetta, um dos curadores da exposição.
Entre as publicações, revistas de grande circulação, vendidas nas bancas, e jornais de agremiações políticas como O Guerrilheiro, que lançou a Aliança Libertadora Nacional (ALN), organização de esquerda brasileira comandada por Carlos Marighella, um dos principais organizadores da resistência contra o regime militar. Também estão os jornais Classe Operária, que na década de 1970 chegou a ser editado na França, impresso em Portugal e distribuído clandestinamente no Brasil e Novos Rumos, ambos publicados pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Um dos exemplares de Novos Rumos data do dia 1º de abril de 1964, data do golpe militar e convocava a população para uma passeata de resistência à deposição do presidente João Goulart. "Esse não saiu. A redação foi invadida e empastelada pelos militares. Prenderam os trabalhadores antes que eles pudessem iniciar a distribuição do jornal”, disse Sacchetta.
A mostra também faz referência à morte do jornalista Vladimir Herzog, assassinado sob tortura no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) em 25 de outubro de 1975, ano em que dirigiu o Departamento de Jornalismo da TV Cultura, emissora pública do estado de São Paulo. Na ocasião, o Exército disse que o jornalista cometeu suicídio. Em março, a família de Herzog recebeu um novo atestado de óbito apontando como causa da morte lesões e maus-tratos sofridos por Herzog durante interrogatório no DOI-Codi.
Clarice Herzog, presidente do Instituto Vladimir Herzog, idealizador da exposição, destaca a riqueza de detalhes com que esse período da história do Brasil é contado. "É a primeira vez que a história está sendo mostrada dessa forma, com todo esse conteúdo. Estamos contando o que aconteceu com imagens fortes, depoimentos. O material está riquíssimo e é uma homenagem a todos que morreram [vítimas da ditadura]. Está muito emocionante".
Na avaliação de Sacchetta, a exposição serve para os jovens conhecer melhor as lutas pela reconstrução democrática, ocorridas nas décadas de 1960 a 1980. "Ela é importante porque mostra quão feio foi esse período de retrocesso no país. Acho que o recado que ela passa é: cuidado com o retrocesso e mostra a importância de valorizarmos e conhecermos a nossa história", disse. A exposição fica em Brasília até 22 de outubro e depois segue para outras três capitais: Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.