Para tratar hipertensão, é melhor associar farmacologia e exercícios físicos (Getty Images/Spencer Platt)
Da Redação
Publicado em 14 de novembro de 2012 às 08h33.
São Paulo - Na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, pesquisadores utilizaram a microscopia em 3-D (estereologia) para confirmar os benefícios do exercício físico para reverter os efeitos da hipertensão nos conteúdos elástico, muscular e conjuntivo da aorta torácica, uma das principais artérias do organismo.
A estereologia é uma ciência que possibilita medir as células por meio de cálculos estatísticos e matemáticos espaciais levando em conta altura, largura e profundidade (3D), além da quarta dimensão, o tempo (4D). A vantagem em relação à morfometria (análise em duas dimensões – altura e largura) é a grande acurácia e o fato de estimar o número e o volume total das células (entre outros). Já a morfometria mede apenas os contornos (perfis) das partículas analisadas.
A hipertensão provoca a hipertrofia da aorta torácica. Ocorre um aumento do colágeno e dos tecidos muscular e elástico, tornando a parede da artéria mais espessa. O tratamento farmacológico para hipertensão reverte o aumento do colágeno e do tecido muscular, mas não consegue diminuir o conteúdo elástico aumentado das paredes da artéria. E é aí que entra o papel do treinamento físico.
“Por meio da estereologia, estimamos o volume da aorta torácica e de seus constituintes: tecido elástico, muscular e conjuntivo. Constatamos que os exercícios físicos levaram à normalização do conteúdo desses tecidos”, aponta o estereologista Antonio Augusto Coppi, responsável pelo Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química (LSSCA) do Departamento de Cirurgia da FMVZ. O LSSCA é referência mundial em microscopia quantitativa em 3D e membro ativo da International Society for Stereology (ISS).
A pesquisa é de responsabilidade da professora Lisete Compagno Michelini, do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e foi tese de doutorado da pesquisadora Maria Tereza Jordão. Pelo LSSCA, participaram o biólogo Fernando Vagner Lobo Ladd e o professor Antonio Augusto Coppi.
Para o professor Coppi, os resultados mostram a importância de se associar tratamento farmacológico com exercícios físicos de baixo impacto para tratar a hipertensão.
Treinamento físico
Os experimentos foram realizados com dois grupos de ratos: normotensos (pressão arterial normal) e aqueles nascidos geneticamente modificados para apresentar hipertensão. Cada um destes dois grupos foi dividido em mais dois subgrupos: animais sedentários e treinados.
O grupo treinado realizou atividade física durante 3 meses, o que consistiu em exercício aeróbico de baixa intensidade (de 50% a 60% da capacidade total do exercício), realizado em esteira, durante 1 hora por dia, 5 dias por semana.
“Em humanos, esse treinamento seria equivalente a uma caminhada 3 vezes por semana, na velocidade 5 ou 6 da esteira, durante 30 a 40 minutos e com uma carga de trabalho de 50% a 60%”, diz o professor.
Em todos os grupos de estudo, foram realizadas análises hemodinâmicas e a Polymerase Chain Reaction (PCR), técnica de biologia molecular. “O PCR quantifica a expressão do RNA associado à produção de uma determinada proteína, como por exemplo a elastina, que dará origem ao tecido elástico”, explica o professor Coppi. A estereologia foi aplicada para visualizar de forma mais palpável os dados obtidos pelo PCR.
Biologia Molecular e Estereologia
“Este é um caso em que a associação das técnicas de biologia molecular à estereologia foi vital e muito bem sucedida. Tendo em vista que o PCR não avalia morfologicamente o tecido [não gera imagens histológicas], nós precisávamos de imagens que confirmassem a normalização da aorta torácica e isso foi possível graças à estereologia”, esclarece.