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Estreia nos cinemas 'Inquietos', de Gus Van Sant

Longa-metragem é sobre garoto mórbido, atraído por funerais, que se envolve com garota que tem um tumor no cérebro

O nome do filme em inglês, "Restless", ficou sendo "Inquietos" no Brasil (Divulgação)

O nome do filme em inglês, "Restless", ficou sendo "Inquietos" no Brasil (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 25 de novembro de 2011 às 09h30.

São Paulo - Gus Van Sant virou um especialista em jovens. Com raras exceções, nove entre dez (11?) de seus filmes tratam dos dramas da juventude, desde "Drugstore Cowboy" e "Garotos de Programa" ("My Own Private Idaho"), por volta de 1990, até "Elefante", "Últimos Dias" e "Paranoid Park", nos anos 2000. O novo Gus Van Sant, que estreia hoje, inaugurou a seção Un Certain Regard em Cannes, em maio deste ano. "Restless" ficou sendo "Inquietos" no Brasil.

O filme nasceu como projeto da atriz, aqui produtora, Bryce Dallas Howard. Apaixonada pelo roteiro de Jason Lew - que havia sido seu colega de curso -, ela conseguiu o apoio do pai, o cineasta Ron Howard, para produzir e encaminhou o script para Gus. "Recebo muitos roteiros de jovens e sobre jovens. A primeira coisa que me interessa é a história. Depois, avalio as questões técnicas. O desenho dos personagens, a viabilidade das produções. Tudo era tão perfeito em Inquietos que não resisti."

O filme é sobre garoto mórbido, atraído por funerais, que se envolve com garota que tem um tumor no cérebro. Enoch é interpretado por Henry Hopper, o filho de Dennis. Annabel é Mia Wasikowska, a Alice de Tim Burton. Um filme de jovens que se passa em cemitérios e câmaras mortuárias? Não parece muito interessante para jovens nem para espectadores de qualquer outra faixa etária, mas, por um desses milagres do cinema, é o melhor filme de Gus Van Sant em anos.

Em Cannes, os dois atores conversaram com a reportagem. Fazia um calor do cão na Praia do Festival, mas Gus estava de preto e Henry e Mia usavam roupas fechadas no pescoço. O vestido dela era leve, a camisa e o paletó dele, também, mas o impressionante é que, apesar do sol tórrido, nenhum dos três passava o menor vestígio de estar acalorado, mesmo com todas aquelas golas fechadas.

A história de "Inquietos", mesmo contemporânea, não parece se desenrolar numa época específica. "Isso já estava um pouco no roteiro, mas veio principalmente de Henry e Mia", explicou o diretor. "Ambos usavam (moda) vintage e o look era tão especial que incorporamos aos personagens." Na tela e fora dela, é difícil imaginar uma dupla mais estilosa.

"Inquietos" abre-se com uma canção dos Beatles. "Nunca havia usado nada deles, mas a rodagem foi tão econômica que sobrou dinheiro. Estava sendo difícil encontrar a música, pelo próprio tom do filme. Bryce sugeriu Two of Us e bancou a aquisição." Two of us/riding nowhere/spending someone's earned paid money/not arriving/on our way back home. Traduzindo dá o sentido das vidas de Enoch e Annabel quando se encontram. "Dois de nós/dirigindo em lugar nenhum/gastando o dinheiro que foi difícil de ganhar para alguém/perdidos, sem chegar, no caminho de volta para casa."


Mas "The Fairest of the Seasons", de Jackson Browne, no encerramento, por Nico, foi uma escolha dele. "É triste na medida, sem exagero", ele define. "Agora que é hora/Agora que o ponteiro aterrissou no fim/Agora que é real/Agora que os sonhos deram tudo o que tinham de emprestar/Quero saber se fico ou se vou/E talvez tente outra vez/E eu realmente tenho uma mão no meu esquecimento?" Um filme sobre a morte, não depressivo e com muitos silêncios. "Nenhum outro filme meu valoriza tanto os olhares dos atores. Ele falam pelos olhos tanto quanto com palavras e gestos. Mia e Henry foram ótimos", sentencia Gus.

A dupla, por sua vez, não mede elogios para o diretor. Mia, atriz de Tim Burton e Lisa Cholodenko ("Minhas Mães e Meu Pai"), está virando um ícone do cinema de autor nos EUA. "Sempre gostei do cinema de Gus porque ele tem respeito pelo jovem. Não nos trata como débeis mentais eternamente no cio, como na maioria das produções de Hollywood voltadas para o público teen", ela avalia. Henry contou uma história. "Estava em Berlim com amigos e havia este homem que tocava saxofone no metrô. Aos pés, tinha um prato de papel, com restos de comida. Ao ver nosso interesse, ele disse - 'Façam sempre as escolhas que forem mais bonitas para vocês. A vida é muito curta para ser desperdiçada'. Foi um momento mágico. Aquela poderia ter sido uma frase de meu pai." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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