Penélope e Javier: protagonistas do filmes, os dois atores não comentaram sobre a repercussão (Stephane Mahe/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de maio de 2018 às 10h28.
Houve momentos de tensão na coletiva de Todos lo Saben. Um jornalista chileno quis saber de Javier Bardem como era compartilhar a intimidade de uma das mulheres mais belas do mundo, Penélope Cruz. Bardem achou a pergunta de mau gosto, e se recusou a responder.
Penélope levou na esportiva quando outro jornalista quis saber, nessa era de empoderamento feminino e luta por direitos, quem ganhou mais no filme do iraniano Asghar Farhadi. "Na verdade, ganhamos exatamente a mesma coisa", disse.
Você já deve ter ouvido no Brasil que o longa de abertura do 71º Festival de Cannes decepcionou. Há controvérsia. Todos lo Saben pode não ser bom como A Separação ou O Apartamento.
Retoma temas de O Passado e os trabalha numa perspectiva mais de gênero - é um thriller, e muito bem interpretado. Penélope contou que Farhadi veio se preparando para esse filme nos últimos cinco anos.
"Foi a primeira vez que Asghar nos contactou com a ideias de que gostaria de fazer um filme espanhol. Nos últimos dois anos, ele realmente se mudou para a Espanha para conhecer mais intimamente o país e sua cultura. Contratou um coach para dominar o diálogo. Ele tinha um ouvido muito preciso para o que considerava falso", explicou a atriz. E o produtor, presente na mesa da coletiva.
"Para mim, Asghar domina o espanhol. Fala fluentemente. Ele nega, mas entende." E Javier Bardem - "Esse homem, um iraniano (Asghar), fez um dos filmes mais espanhóis que conheço, e olhem que trabalhei com grandes autores da Espanha."
Todos lo Saben será distribuído no Brasil pela Paris Filmes, entre uma e outra comédia brasileira com que ganharia rios de dinheiro. Um pouco de prestígio de crítica não faz mal a uma distribuidora, embora Todos Lo Saben não tenha sido uma unanimidade.
Nos quadros de cotações da crítica prevaleceram duas e três estrelas (num total de quatro) e apenas uma bola preta. A trama do filme - complexas relações familiares - aborda as consequências de um sequestro. Um dos protagonistas - o marido de Penélope no filme, interpretado por Ricardo Darín - deixa o caso nas mãos de Deus.
Coincidência ou não, muitos filmes de temática cristã estão distribuídos pelas diversas seções do festival, inclusive o documentário de Wim Wenders sobre o papa Francisco.
Nesse novo formato do festival - a crítica vê os filmes concorrentes na mesma hora da sessão oficial -, as demais seções vão ser prejudicadas. Foi preciso uma verdadeira ginástica para que o repórter visse, na Quinzena dos Realizadores, o novo Ciro Guerra, correalizado por Cristina Gallego, que foi sua produtora em O Abraço da Serpente. Pássaros de Verão é o título e é muito bom.
Na apresentação do filme, Ciro disse que ele começou a nascer durante O Abraço. Pesquisando para realizar o outro filme - indicado para o Oscar -, Cristina e ele ouviram muitas histórias sobre o início do narcotráfico na Colômbia.
Pássaros de Verão retoma a cultura indígena. Uma família wayuu - é o primeiro filme falado nesse dialeto na história do cinema colombiano - liga-se ao plantio de marijuana, nos anos 1970. A droga é produzida para ser exportada para os EUA, impulsionando a guerra entre clãs, e ela coloca em risco a cultura dos ancestrais.
O próprio Ciro reconhece que, de alguma forma, mesmo mantendo a preocupação pelas raízes, o novo filme marca uma ruptura. É um filme de gênero, um pouco western, um pouco gângsteres.
Há mesmo na cultura dos wayuu, um personagem que parece um daqueles consiglieres da Máfia. O resultado talvez seja um tanto episódico - várias histórias cruzadas -, mas o resultado é dos mais fortes.
Por falar na Quinzena, todo ano a mostra com as chancelas da Sociedade dos Realizadores homenageia um grande nome do cinema mundial. No ano passado, foi Werner Herzog. Este ano, Martin Scorsese. Na noite de terça, 'Marty', de 75 anos, já surgira no palco do Grand Théâtre Lumière, na cerimônia de inauguração, para declarar, com sua atriz em O Aviador - a presidente do júri, Cate Blanchett -, o festival 'aberto'.
Na tarde de terça, ao receber a Carrosse d'Or da Société des Réalisateurs, Scorsese lembrou seu começo em Cannes. Foi em 1974, quando veio com Robert De Niro, para apresentar Esquinas Perigosas. O filme passou ontem de novo. "Naquela época, o festival era menos business, mas estou feliz de ainda estar aqui. Para cinéfilos, não existe lugar melhor no mundo."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.