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Estilistas do Black Lives Matter fazem história na Semana de Moda de Milão

A semana de moda de Milão começa a dar passos na luta antirracial ao incluir mais estilistas negros no evento

Modelo desfila criação da estilista senegalesa Pape Mocodou Fall, ou Mokodu, do coletivo Black Lives Matter, na semana de moda de Milão. (Miguel Medina/AFP)

Modelo desfila criação da estilista senegalesa Pape Mocodou Fall, ou Mokodu, do coletivo Black Lives Matter, na semana de moda de Milão. (Miguel Medina/AFP)

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Julia Storch

Publicado em 24 de fevereiro de 2021 às 16h23.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2021 às 18h18.

Retoques de última hora para um vestido branco de babados, tranças tecidas às pressas, uma última camada de pó no rosto: começa o desfile do movimento Black Lives Matter na Semana de Moda de Milão, nesta quarta-feira (24).

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"Estou um pouco nervosa", confessa Claudia Gisèle Ntsama, de 29 anos, de Camarões, uma das cinco estilistas de origem africana a apresentar suas criações no evento oficial.

Depois de uma dura batalha contra o racismo no mundo da moda, essas estilistas conseguiram abrir esta Semana de Moda com um desfile nas suntuosas instalações do Círculo Filológico de Milão, não muito longe do lendário teatro La Scala.

Como tem acontecido com todos os desfiles, devido à pandemia do coronavírus, o evento acontece a portas fechadas diante de um pequeno grupo de jornalistas, incluindo da AFP, para depois ser transmitido por streaming.

Uma vitória para o movimento Black Lives Matter?

"É mais um primeiro passo", afirma Michelle Ngonmo, cofundadora do coletivo junto com os estilistas Stella Jean e Edward Buchanan. "Agora, o que queremos é que a sociedade entenda que o rótulo 'Made in Italy' não é uma questão de cor de pele, mas de competência", explica.

As criações de Claudia Gisèle Ntsama têm um "look" ecológico, feito inteiramente de cânhamo com tons pastéis. Os vestidos de seda fluida com estampas florais em tons de preto e branco com algo de vermelho se destacam nas peças da Frida Kiza, a marca criada por Fabiola Manirakiza.

"Em geral, eles nos ignoram. Somos invisíveis. Mas o dia de hoje é um renascimento", exclama a estilista, cujos pais foram assassinados em 1972 nos massacres interétnicos no Burundi.

'Um muro de silêncio'

Fundado em 2020, o coletivo antirracismo pôde participar da Semana de Moda de Milão, pela primeira vez, em setembro passado, com um vídeo com criações dos mesmos cinco estilistas. "Foi apenas uma apresentação. Agora estamos no calendário oficial. Sonhava com esse momento desde quando comecei a trabalhar com moda", conta Mokodu Fall, de 45 anos, estilista do Senegal.

Sua coleção homenageia suas origens africanas, com estampados em cetim de leões e zebras em dourado e vermelho, suas cores favoritas.

No passado, os estilistas negros se limitavam a apresentar suas criações durante a Afro Fashion Week, cuja primeira edição foi organizada em Milão por Michelle Ngonmo, em 2016. "Durante anos, nos deparamos com um muro de silêncio ao bater na porta da Câmara da Moda Italiana", lembra esta ativista nascida no Camarões.

Cerca de 450 estilistas negros vivem na Itália. Apesar disso, Stella Jean foi a única que conseguiu se tornar membro da Câmara da Moda em 2016.

A morte repentina do afro-americano George Floyd em maio de 2020, sufocado por um policial branco em Minneapolis, gerou um movimento de indignação mundial que abalou as mentalidades.

'Tomada de consciência'

"É verdade que a morte de George Floyd foi um momento importante para o mundo todo", disse à AFP o presidente da Câmara de Moda Italiana, Carlo Capasa. Graças ao diálogo com o movimento Black Lives Matter, "estamos mais conscientes da questão" do racismo, afirmou. "Na verdade, deveríamos ter feito mais", admitiu.

A organização agora apoia o coletivo por meio de tutorias e financia o desfile dos cinco estilistas negros, assim como as coleções de três deles.

"Como mulher e imigrante na Itália, tive que trabalhar duas vezes mais para mostrar que tenho as mesmas habilidades que todos os outros", desabafa Joy Meribe, de 43 anos, nascida na Nigéria.

Sua coleção, com ternos e saias feitas 100% com seda orgânica, nas cores amarelo, azul-atlântico e vermelho escuro, foi toda fabricada na Itália.

Já Edward Buchanan, estilista afro-americano e cofundador do coletivo, conta que vive o racismo diariamente em seus 25 anos de vida na Itália. "As pessoas acham, em geral, que eu faço camisetas, moda hip-hop. Elas têm dificuldade de imaginar que trabalho no setor de luxo", diz.

Apesar disso, a primeira apresentação oficial do grupo traz muitas esperanças. "É um sonho que se tornou realidade", diz Karim Daoudi, de 27 anos, designer de calçados nascido no Marrocos. "Espero que meus sapatos deem a volta ao mundo", afirma.

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