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Opinião: Estes famosos reforçam a cultura do estupro

A cultura do estupro não é limitável. Está em todas as classes sociais e em qualquer região


	Johnny Depp: a atriz Amber Heard deu um depoimento à polícia americana no qual acusa o marido Johnny Depp de violência doméstica
 (Getty Images)

Johnny Depp: a atriz Amber Heard deu um depoimento à polícia americana no qual acusa o marido Johnny Depp de violência doméstica (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 10 de junho de 2016 às 16h51.

Só quem passou por uma experiência de abuso pode, de fato, relatar o trauma. Mas, é possível generalizar: qual a mulher que nunca se sentiu violentada?

Existe a ideia de que o mito é o único conhecimento compartilhável pelo senso comum. Mas o mito é sempre uma espécie de conotação - ele nunca vai permear a sociedade com um único significado. Pelo contrário, as significações são infinitas.

É a partir dessa ideia que entende-se que o mito do estuprador-monstro-desconhecido-morador-do-beco-escuro não faz sentido quando se trata da perpetuação da violência contra a mulher. Há muito deixou-se de acreditar nessa narrativa. E ai não é questão de opinião, mas sim de estatística.

Os dados do Mapa da Violência 2015 são claros: em 67,36% dos relatos obtidos, as violências foram cometidas por homens com quem as vítimas tinham ou já tiveram algum vínculo afetivo: companheiros, cônjuges, namorados ou amantes, ex-companheiros, ex-cônjuges, ex-namorados ou ex-amantes das vítimas. Já em cerca de 27% dos casos, o agressor era um familiar, amigo, vizinho ou conhecido.

A cultura do estupro não é limitável. Está em todas as classes sociais e em qualquer região do País. Segundo a ONU Mulheres, é "o termo usado para abordar as maneiras em que a sociedade culpa as vítimas de assédio sexual e normaliza o comportamento sexual violento dos homens. Ou seja: quando, em uma sociedade, a violência sexual é normalizada por meio da culpabilização da vítima".

Em tempos de estupros coletivos, Hannah Arendt se faz necessária: há, também em nossa sociedade, a banalização do mal. A filósofa defende em sua obra que há uma multidão incapaz de fazer julgamentos morais, razão pela qual aceita e cumpre ordens sem questionar.

E o machismo faz isso. Você segue o fluxo. Você não se questiona. Quando casos como o do estupro coletivo ocorrido com a jovem carioca chegam a público, é esperado que a sociedade se questione. Talvez, como nunca antes, o Brasil se questionou.

Por que, entre aqueles 30 homens, nenhum foi capaz de dizer "não"? Há na construção social do papel masculino a obrigatoriedade e a rigidez de se mostrar o poder. E o poder, em muitos casos, é confundido com o uso do pênis. Ele vem sob a forma da dominação sexual ao subjugar o outro. Mais especificamente, a mulher. É a ideia de que se tem propriedade sobre o corpo feminino. E por isso pode violentar, pode opinar, pode comandar, pode conduzir.

E vai além. Esses comportamentos são manifestados de diversas formas: os fiu-fius da rua, as piadas sexistas, as ameaças, o abuso psicológico, as propagandas preconceituosas, as músicas machistas, a objetificação do corpo feminino, o assédio moral ou sexual, a erotização infantil, o estupro e o feminicídio. Enquanto existir essa cultura do estupro, as mulheres viverão em permanente ameaça.

São diversas as problematizações sobre esse tipo de opressão e quanto mais próxima a relação for com o agressor, mais difícil de percebê-las. Quem nunca passou a mão na cabeça do irmão homem sob o argumento de "no fundo ele é um cara legal"? Ou aquele parceiro de mesa do bar que conta vantagem de "quantas pegou"? Qual a mulher não ouviu ~conselhos~ para trocar de roupa? Ou beber menos? Ou não frequentar determinados lugares?

A coisa complica ainda mais quando os agressores são os ~caras legais~, ~desconstruidões~ e ~feministos~. O quão mais distante ele for do estereótipo do "monstro", mais será exigido da autocrítica.

Por isso, quando as pessoas não conseguem acreditar que o acusado foi capaz de cometer a violência, a atenção é voltada para quem o acusa. E quando o agressor é um famoso, então, é ainda mais difícil de lidar. É óbvio pensar que o motivo de as celebridades se safarem de penalizações se deve ao fato de terem muito dinheiro. Mas pouco se discute sobre as consequências e as representações culturais dessas ações.

Um agressor de Hollywood não é menos violento que o da Rocinha. Mas a mulher da Rocinha é, sim, mais vulnerável que a atriz do Oscar. Isso, contudo, não protege as mulheres famosas. Pelo simples fato de serem mulheres, elas são vítimas possíveis. E isso porque a cultura das celebridades é calcada em aplaudir e proteger, além de silenciar quem ameaça, principalmente, os homens famosos.

Se mulheres que têm suas vidas expostas passam por crises, as manchetes e o público não perdoam. Até hoje, Britney Spears tenta recuperar sua imagem, por exemplo. Mas Chris Brown, em contrapartida, segue sendo cultuado e premiado.

Esta lista traz uma pequena amostragem de 20 homens que são adorados por muitos fãs e bastante criticados por outros. Mas o que é inegável é que em comum a todos há um passado (e presente) permeado por violência contra mulheres e posicionamentos que reforçam a cultura do estupro.

Mas eles não vão nos calar:

MC Biel

Crédito: Reprodução/Instagram

O cantor foi acusado de assédio por uma jornalista do portal iG. De acordo com o relato, ele chamou a jornalista de “gostosinha” e disse que “a quebraria no meio” se mantivessem relações sexuais.

Dado Dolabella

Crédito: Reprodução/Facebook

O ator bateu na ex-namorada Luana Piovani quando estavam no final do relacionamento, em 2008. Os dois se desentenderam em uma boate, e o ator a agrediu com tapas e empurrões. Dolabella chegou a ser indiciado por Piovani na Justiça por conta da agressão. Esse não é o seu primeiro registro, contudo. Ele responde a outro processo de violência contra outra ex-parceira. No final de 2015, o ator usou o seu perfil no Facebook para desabafar: "Não houve essa agressão toda que dizem. Segundo, não me arrependo de nada que fiz. Nada é por acaso."

Danilo Gentili

Crédito: Reprodução/Facebook

Em 2015, o tema da redação do Enem tratava da perpetuação da violência contra a mulher. Após a prova, o debate ganhou as redes sociais e a opinião pública. Foi nesse período que o apresentador Danilo Gentili trouxe, para o seu programa de auditório, o suposto humorista Léo Lins. O convidado usou grande parte do seu tempo para destilar piadas machistas e transfóbicas. No Facebook, o vídeo da participação foi criticado por diversos usuários. "Fazer piada com mulheres que são agredidas todos os dias? Que feio Danilo. Eu era sua fã. Mas essa falta de respeito foi de lamentar." E o apresentador respondeu: "Mas você jura por tudo que deixou mesmo de ser minha fã? Eu posso até depositar uma grana pra você me enviar um contrato que não é mais minha fã. É importante pra mim saber que não tenho fã arrombada".

Lobão

Crédito: Reprodução/Twitter

O cantor é conhecido por seus posicionamentos polêmicos. O último deles, no entanto, foi uma declaração que culpabiliza a vítima do estupro. Sobre o caso ocorrido no Rio de Janeiro, ele argumentou: "O País é uma fábrica de mini-putas."

Alexandre Frota

Crédito: Reprodução/Twitter

Em 22 de maio de 2014, Frota foi o convidado de Rafinha Bastos no programa Agora É Tarde, da Band. Durante a sua participação, Frota conta que praticou sexo com uma mãe de santo contra a sua vontade e que ela havia desmaiado durante o estupro. Ele narrou os detalhes do crime, que foi recebido com tom de piada pelo público e pelo apresentador: "Eu fiquei olhando e falei: 'meu irmão, essa mãe de santo tem um jogo, dá pra pegar, dá pra comer', morô?”.

Rafinha Bastos

Crédito: Reprodução/Instagram

Em 2011 o humorista foi condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) porque, durante a transmissão ao vivo do programa CQC, Bastos afirmou que “comeria Wanessa e o bebê”. O comentário se deu após o apresentador Marcelo Tas elogiar a beleza da cantora, que estava grávida. Depois disso, o ator perdeu o posto no programa e acabou pedindo demissão.

Bill Cosby

Crédito: Reprodução/Facebook

O comediante Bill Cosby é acusado de ter drogado e estuprado uma ex-funcionária da Universidade de Temple. Mas ela não é a única. Depois que o caso veio a público, mais de 50 mulheres se pronunciaram e afirmaram terem sido vítimas de Cosby. As mulheres que acusam o humorista posaram para uma capa da revista New York Magazine.

Arnold Schwarznegger

Crédito: Reprodução/Facebook

O ator e ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger foi acusado de abusar sexualmente de, pelo menos, seis mulheres, entre elas a atriz Rhonda Miller. Segundo o depoimento das vítimas, o ator teria assediado verbalmente e fisicamente, além de ter tentado tirar as suas roupas.

Woody Allen

Crédito: Divulgação

O premiado cineasta tem relacionamentos, no mínimo, problemáticos. Ele é casado com Soon-Yi, a filha adotiva de Mia Farrow, sua ex-mulher. Outra filha de Farrow, Dylan, acusa Allen de pedofilia. Segundo ela, quando ela 7 anos de idade, o cineasta tocava suas partes íntimas e a obrigava a fazer coisas contra sua vontade.

Charlie Sheen

Crédito: ReproduçãoFacebook

O ator é acusado de atacar uma enfermeira de uma consulta odontológica. De acordo com o site TMZ, ele teria tentado apalpar os seios da profissional. Quando o dentista interveio, Sheen o ameaçou com uma faca.

Sean Kingston

Crédito: Reprodução/Facebook

O rapper é um dos acusados de fazer parte de um estupro coletivo. Quem fez a denúncia foi a universitária Clarissa Capeloto. Segundo ela, o cantor a convidou para ir ao seu quarto de hotel. Lá ela foi embriagada e obrigada a ter relações sexuais com o rapper, o seu segurança e o seu guarda-costas. Kingston alega que o sexo foi consensual.

Chris Brown

Crédito: Reprodução/Instagram

O cantor foi preso em 2009 após agredir sua então namorada, a também cantora Rihanna. De acordo com o relatório, a agressão se deu porque ela descobriu uma traição. O artista parece não se sentir culpado pelo que fez e continua sendo premiado. Mas Rihanna comentou sobre a violência doméstica à revista Vanity Fair: "eu era uma garota que achava que algumas pessoas eram mais capazes do que outras de suportar a dor que um relacionamento pode proporcionar. Eu o protegia muito. Eu sentia que as pessoas não o entediam. E você suportar o que está acontecendo, talvez esteja aceitando que merece esse tipo de coisa, e foi aí que eu finalmente tive que reconhecer que estava sendo estúpida ao pensar que podia aguentar aquilo”.

Sean Penn

Crédito: Divulgação

Sean Penn e Madonna tiveram um casamento conturbado entre 1985 e 1989. Ele é acusado de agredir a cantora fisicamente diversas vezes, uma delas fazendo uso de um bastão de basebol. No entanto, em declarações feitas em 2015, Madonna saiu em defesa do ex-marido e argumentou que as informações que vieram a público eram falsas.

Roman Polanski

Crédito: Divulgação

O cineasta franco-polonês foi preso em 2009 por um caso ocorrido em 1977. Ele estava fotografando um ensaio para a revista Vogue na casa de Jack Nicholson quando ofereceu à modelo de 13 anos, Samantha Geimer, bebida e uma droga sedativa. Depois, ele abusou sexualmente da moça. Tratada pela mídia sempre como "a garota", a vítima de Polanski publicou, em 2013, um livro em que conta sua visão sobre o abuso e como isso afetou a sua vida.

Steven Seagal

Crédito: Reprodução/Facebook

O ator foi indiciado por tráfico de mulheres e assédio sexual. Quem fez a denúncia foi a modelo Kayden Nguyen, que diz ter sido entrevistada por Seagal para uma vaga de assistente executiva. Quando ela foi aceita no emprego, ela descobriu que na verdade ele a queria como acompanhante sexual. A modelo disse que ele mantinha duas mulheres russas para atender suas necessidades e que avisou que a sua esposa não se importava com as suas "aventuras".

Johnny Depp

Crédito: Reprodução/Facebook

A atriz Amber Heard deu um depoimento à polícia americana no qual acusa o marido Johnny Depp de violência doméstica. Ele teria atirado um celular no rosto da mulher durante uma briga em que discutiam sobre o processo de divórcio. Uma foto que mostra o rosto de Heard marcado e machucado circulou nas redes sociais. A atriz ainda disse que Depp ofereceu dinheiro para que ela não divulgasse a imagem.

David Bowie

Crédito: Reprodução/Facebook

Com a morte do ícone da música, Angie Bowie relembrou seu casamento com o ex-marido. Mesmo sem manter relações próximas nos últimos anos, ela comentou sobre episódios de violência entre eles em entrevista ao The Sun. A cena mais marcante ocorreu em 1979, meses antes do divórcio. Angie foi até a casa que Bowie mantinha com sua amante, Corinne Schwab. Lá, eles tiveram um desentendimento, e ele partiu para a violência física e a sufocou. Segundo Angie, ele estava drogado e a sua vida foi salva por Corinne.

Cee Loo Green

Crédito: Reprodução/Instagram

O cantor foi indiciado por posse de ecstasy em 2014. A droga foi fornecida para uma mulher, que alega não se lembrar do período entre o jantar deles em um restaurante e o momento em que acordou nua em sua cama. Ao tentar se explicar para os seus fãs no Twitter, o cantor só piorou a situação. Ele disse que o estupro não acontece quando a vítima está inconsciente. “Pessoas que realmente foram estupradas SE LEMBRAM! Se alguém desmaiou, não está sequer COM você conscientemente! Então o COM implica consentimento."

Michael Fassbender

Crédito: Reprodução/Facebook

Em 2010, o ator foi acusado de quebrar o nariz de sua ex-namorada com socos após uma noite de bebedeira. Sunawin Andrews entrou com um pedido de proteção contra Fassbender na Justiça. Na época, ela disse temer por sua vida e pediu uma ordem de restrição de aproximação.

Ozzy Osbourne

Crédito: Reprodução/Facebook

Sharon Osbourne afirmou que se tivesse uma arma atiraria em seu marido Ozzy Osbourne. Isso porque em 1989, o cantor a violentou fisicamente. "Ele [Ozzy] estava bebendo e tomando drogas e isso chegou ao ponto em que ele ficou violento comigo e quase me sufocou até a morte, e eu chamei a polícia", disse durante o seu programa de televisão. O astro do rock foi preso no mesmo ano e Sharom afirma que depois da prisão ele "mudou".

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