Christopher Nolan chega à pré-estreia do filme "Interestelar", em Nova York, nos EUA, na segunda-feira (Carlo Allegri/Reuters)
Da Redação
Publicado em 7 de novembro de 2014 às 15h47.
Los Angeles - Depois de reformular a figura do super-herói com o realismo sombrio da trilogia "Batman – O Cavaleiro das Trevas" e dissecar a manipulação dos sonhos em "A Origem", o diretor Christopher Nolan parte rumo à fronteira final.
"Interestelar", que estreia nos cinemas norte-americanos nesta sexta-feira, levou Nolan ao que ele descreveu como a mais profunda exploração espacial vista no cinema.
O filme equilibra a intimidade de um relacionamento entre pai e filha com o pano de fundo de uma jornada intergalática para salvar a humanidade.
Nolan, de 44 anos, conversou com a Reuters sobre a escalação como protagonista de Matthew McConaughey, já premiado com o Oscar, os desafios de construir Interestelar e do efeito de "Gravidade".
- O que Matthew McConaughey simboliza como Cooper?
Christopher Nolan - Ele tem as qualidades ideais. Cooper, ele é um piloto, e o bacana do ícone norte-americano representado pelo piloto, Chuck Yeager, é que existe um pouco do caubói nele.
E acho que Matthew incorpora essa sensação maravilhosa, 'pé no chão', do homem comum que tem uma grande integridade e é extremamente competente, alguém em quem você confia para te guiar nessa história, te conduzir nessa jornada.
- Qual foi seu maior desafio para equilibrar uma história de família íntima com uma jornada intergalática?
Nolan - O maior desafio quanto a isso é criar uma realidade no set de filmagem de forma que os atores, que são o elemento humano daquilo - eles são o elemento íntimo, emocional - possam se relacionar de fato com a dimensão maior do filme, possam vê-lo, tocá-lo, saboreá-lo.
Por isso tentamos construir os sets não tanto como sets, e mais como simuladores, para que os atores pudessem olhar pelas janelas e ver o que estaria acontecendo lá, pudessem sentir a nave balançando e reagir enquanto a pilotavam.
- Por que você decidiu situar Interestelar em um futuro de grande semelhança com o mundo atual?
Nolan - Quero abandonar a ideia de um estilo futurista porque... exige energia e projetos enormes que acho que eu achei que poderiam ser melhor aproveitados para se transmitir uma sensação de realidade reconhecível.
Então abandonamos a ideia de um estilo futurista e dissemos 'vamos tornar tudo compreensível e reconhecível para as plateias de hoje'.
Estamos pedindo que a plateia faça uma série de concessões em termos de se envolver com uma história que os leva a lugares que nunca viram, então acho que calcar o estilo básico do filme em coisas que as pessoas conhecem ajuda.
- No filme, a Terra enfrenta um desastre ambiental grave causado pelas secas. Você quis abordar a mudança climática?
Nolan - Não conscientemente. A resposta honesta é que vivemos no mesmo mundo, meu irmão e eu.
Trabalhamos no roteiro, vivemos no mesmo mundo que todos os outros, então meio que somos afetados pelas mesmas coisas, nos preocupamos com as mesmas coisas, mas tentamos não ser didáticos na escrita, tentamos não passar nenhuma mensagem ou sentido das coisas em especial.
- Que impacto "Gravidade", de Alfonso Cuarón, teve na maneira como os filmes de ficção científica são vistos pelos críticos e eleitores de prêmios cinematográficos?
Nolan - Obviamente, toda vez que alguém consegue abrir os olhos das pessoas para o potencial do gênero, realmente ajuda as pessoas que acompanham a capitalizar essa reação.
Eu até admiti ao Alfonso que sou uma das únicas pessoas do planeta que não viram "Gravidade" porque estava fazendo meu próprio filme de ficção científica, por isso me desculpei a ele e disse 'vou assistir quando tiver terminado, mas não quero que me confunda'.
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