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Entre o receio e a excitação, brasileiros voltam a planejar o réveillon

Com o fim da pandemia no horizonte, eventos se organizam para receber um público ávido por curtição - mas tudo depende do avanço da vacinação

Festa de réveillon Mareh, que neste ano acontece em Boipeba, no sul da Bahia; ingressos estão esgotados (Felipe Gabriel/Divulgação)

Festa de réveillon Mareh, que neste ano acontece em Boipeba, no sul da Bahia; ingressos estão esgotados (Felipe Gabriel/Divulgação)

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GabrielJusto

Publicado em 24 de setembro de 2021 às 08h25.

Última atualização em 24 de setembro de 2021 às 11h16.

Festa de réveillon Mareh, que neste ano acontece em Boipeba, no sul da Bahia; ingressos estão esgotados (Felipe Gabriel/Reprodução)

Sem multidões vestidas de branco nas praias, o ano de 2021 se iniciou sob os protocolos da OMS. Assim como nos meses seguintes, as ruas ficaram vazias no carnaval e os sambódromos, vazios. Mas agora, com 39,1% da população brasileira 100% vacinada, as festas de réveillon estão marcadas como uma prévia do fim da pandemia.

No Rio de Janeiro, são esperadas um milhão de pessoas para as festas de ano novo na cidade, segundo nota da prefeitura, que já adiantou que as festividades “estão condicionadas ao cenário epidemiológico da pandemia na capital”.

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Já no litoral do nordeste, da Bahia ao Ceará, incontáveis festas com os artistas brasileiros mais requisitados no momento. Música pop, eletrônica, axé e forró são alguns dos estilos musicais que irão embaçar a contagem regressiva para 2022.

Ainda que os produtores de eventos estejam focados nos protocolos de segurança contra a Covid-19, para o microbiologista do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Luiz Gustavo de Almeida, a imunização da população precisa ser acelerada até o final do ano.

Adeus ano velho, feliz festas

Para Juliana Ferraz, diretora de negócios e sócia da Holding Club, Itacaré é mais do que um destino paradisíaco na Bahia. A 73 quilômetros de Ilhéus, cidade natal de Ferraz, a baiana passava os finais de semana e férias no vilarejo. Em 2020, realizou o sonho de produzir o primeiro Réveillon Nº1 na cidade, com atrações como Ivete Sangalo e Alok. A edição de 2021 não aconteceu.

Porém, em abril deste ano, com as vacinações acontecendo pelo Brasil, a empresa decidiu planejar a festa novamente. Em quatro dias de festa, subirão aos palcos Anitta, Barões da Pisadinha, Banda Eva, Dennis DJ e Vintage Culture. Entretanto, o foco não é apenas na diversão dos turistas, mas também na economia da região.

“Existe uma memória afetiva imensa, mas mais do que isso, há uma responsabilidade ainda maior sobre a cidade e sobre a comunidade. Para o evento, colocamos na balança vários fatores. Primeiro, a questão da segurança, para a cidade, a comunidade e os turistas. Outro ponto é o fator econômico, de continuar construindo a imagem da cidade e gerar economia para o destino”, conta.

Os protocolos de segurança do evento, que terá quatro dias de duração e espera entre três e quatro mil pessoas por dia, são diversos. Em um espaço aberto e com capacidade para seis mil pessoas, terá dois palcos para dividir o público, testagem dos convidados e colaboradores (estes duas vezes ao dia), distribuição de álcool em gel e máscaras “para quem ainda não se sentir confortável em não usar”, conta. Para entrar no evento, será necessário apresentar a carteira de vacinação. Ainda que a cidade não tenha um hospital, o evento se propõe a transportar os possíveis contaminados para atendimentos em Ilhéus, a 45 minutos de Itacaré.

Um pouco mais próximo da capital baiana, a Ilha de Boipeba deve receber a Mareh, festa que já celebra a virada há 16 anos. Limitado a mil pessoas desde antes da pandemia e já com ingressos esgotados, a festa também exigirá teste negativo e comprovante de vacinação, além de testagem durante os seis dias de evento.

Apesar de ser aparentemente burocrática, os protocolos não representam um desafio adicional à organização. Difícil mesmo tem sido organizar um evento para o qual boa parte dos ingressos já havia sido vendida em 2020 - quando tudo era mais barato e a festa precisou ser adiada novamente por conta da Covid-19.

"No ano passado, eu vendi convites para um evento que custava X e, hoje, ele custa o dobro. Tivemos que ser criativos nas planilhas para equilibrar essa perda trazida pela inflação", explica o organizador Guga Rosselli, que também teve que assumir custos extras como quarentena em hotéis na volta para atrações internacionais que virão de fora - pelo menos metade dos 34 DJs do lineup.

Outro grande desafio, conta Rosseli, será "segurar esse povo", cuja animação está nas alturas após quase dois anos sem festas. "Elas estão demonstrando uma preocupação maior com o evento, de quem realmente quer estar lá. E estão prometendo tirar o atraso. É um sinal de alerta para nós redobrarmos o cuidado com tudo. Principalmente com os excessos."

Entre os que prometem tirar o atraso está o publicitário Matheus Nadier, que vai à Mareh com os ingressos comprados ainda no ano passado. Ele admite que, devido ao último adiamento, em 2020, estava um pouco receoso com a viabilidade do evento neste ano. Mas a queda contínua no número de casos e mortes afasta essa preocupação a cada dia.

"Felizmente, com todos vacinados e testados, e com os números caindo, não acredito que temos muito com o que se preocupar em relação à Covid-19", conta Nadier, que inclusive já reservou suas passagens e hospedagens. "O cenário pode mudar, mas acredito que estamos caminhando, finalmente, para esse momento de curtir sem a sombra da pandemia na nossa cola."

Marcas patrocinadoras mudam de estratégia

Excluindo segmentos como o de bebidas alcoólicas e de vestuário, tradicionalmente as festas de réveillon, sejam elas públicas ou privadas, nunca despertaram tanto interesse das marcas patrocinadoras como outros eventos de grande porte, a exemplo do carnaval.

Se mesmo antes da pandemia, a venda de cotas de patrocínio já não era algo com que os promoters podiam contar exclusivamente para colocar seus eventos de pé, já que a data não faz parte do calendário de investimento da maioria das marcas, agora, a situação ficou um pouco mais complicada.

Com as incertezas sobre o retorno e a recepção das festas de fim de ano de grande porte por parte do público, as marcas ainda mostram cautela em quererem estampar seus logotipos publicamente. “Nessa transição que precede o retorno de grandes eventos, as marcas ficaram mais receosas em relação aos patrocínios”, explica Tatianna Oliva, sócia da Cross Networking, organizadora do Réveillon Nº1, que em edições anteriores foi patrocinado por marcas como Ambev, Pernod Ricard e Sephora.

Para driblar a timidez por parte dos patrocinadores, no caso do Réveillon N°1, a solução foi transformar o jeito como as marcas aparecem no evento. “A pessoa física por trás da marca quer muito retornar, mas a jurídica ainda tem muito receio. A fórmula que encontramos para lidar com essa situação foi fazer parcerias com as marcas: em vez de patrocinarem o evento, elas prestarão serviços nos territórios que atuam, desde a limpeza dos banheiros até o fornecimento de cerveja. Isso, sem exibirem seus logotipos diretamente”, diz Oliva.

“As pessoas querem voltar a viver. Se nós não fizermos isso da forma organizada, vai acontecer da forma desorganizada. Esse ano, nós percebemos que uma cota de patrocínio não funcionaria, mas ainda assim as marcas estarão lá, só que de outras maneiras”, completa.

Segurança sanitária depende da vacinação

Em países como Austrália, Espanha e Reino Unido, onde a imunização está mais avançada, grandes festivais de música já estão acontecendo, bem como outros eventos para até milhares de pessoas estão de volta aos planos. No Brasil, as reuniões programadas para o réveillon deverão servir como teste sobre a viabilidade de uma retomada gradual no início de 2022.

Para o microbiologista do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Luiz Gustavo de Almeida, o que vai definir o grau de segurança sanitária das festas de fim de ano é a intensidade da campanha nacional de vacinação nesses últimos meses de 2021.

Segundo o especialista, é inevitável que as pessoas voltem a se reunir depois de um ano e meio de pandemia, e preparar o terreno para minimizar os possíveis danos, dando um boost na vacinação, é fundamental.

“Precisamos pensar que nós vamos continuar convivendo com esse vírus. As vacinas estão cumprindo o papel delas, que é evitar mortes e internações, mas a transmissão, apesar de diminuir, não vai cessar”, diz Almeida.

“No Brasil de hoje, metade da população ainda não está imunizada. Se nós quisermos fazer as festas de fim de ano de forma segura, é fundamental acelerar a vacinação nesses últimos meses do ano. O SUS tem plena capacidade de fazer isso. Se alcançarmos a imunidade de rebanho até dezembro, a realização desses eventos será muito mais tranquila”, finaliza.

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