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Entenda por que o hóquei agora é o esporte favorito dos Trump

Sem apoiar publicamente o movimento Black Lives Matter, a liga de hóquei ganhou elogio de Eric Trump; enquanto isso, NBA e NFL se engajam

Jogadores do Houston Rockets e do Dallas Mavericks se ajoelham de braços dados durante execução do hino nacional, em partida pela NBA em 31/7/2020: NBA difere de NHL e NFL (Mike Ehrmann/Getty Images)

Jogadores do Houston Rockets e do Dallas Mavericks se ajoelham de braços dados durante execução do hino nacional, em partida pela NBA em 31/7/2020: NBA difere de NHL e NFL (Mike Ehrmann/Getty Images)

Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 1 de agosto de 2020 às 12h20.

Última atualização em 1 de agosto de 2020 às 14h24.

O presidente dos Estados Unidos Donald Trump pode ser constantemente fotografado praticando golfe na Flórida, mas o novo esporte favorito da família Trump é um tanto diferente desse esporte para dias ensolarados e gramado verde: no lugar da grama, gelo. O hóquei parece ter ganhado a simpatia e a audiência dos Trump depois da volta da temporada da NHL, a liga nacional americana de hóquei, na última semana.

Em sua conta no Twitter, o executivo Eric Trump, terceiro filho do presidente, saudou a NHL por conta de um jogo de retorno de temporada, no Canadá, quando todos os jogadores permaneceram em pé durante a execução do hino nacional americano e canadense. "Obrigado, NHL", escreveu, ao lado da hashtag #Standing ("em pé").

Eric Trump se refere aos gestos que dividem o esporte nos EUA desde que os principais campeonatos retomaram as atividades, ainda que com arquibancadas vazias: enquanto alguns jogadores permanecem em pé no hino, outros se ajoelham, em protesto de solidariedade ao movimento Black Lives Matter. 97% dos jogadores da NHL são brancos.

O tweet, claro, tem um contexto por trás: o movimento Black Lives Matter, que há anos pede justiça e igualdade racial nos EUA após inúmeros casos de crianças, adolescentes e adultos mortos pela polícia ou por outros indivíduos em crimes chocantes. Em junho, os protestos ganharam mais intensidade e tomaram conta de centenas de cidades nos EUA e no mundo.

Para entender a história, é preciso relembrar a polêmica que tomou conta dos Estados Unidos em 2016, quando o jogador de futebol americano Colin Kaepernick, do San Francisco 49ers, começou a se ajoelhar durante o hino antes dos jogos, enquanto os demais jogadores ficavam em pé. Ali, ele protestava contra o racismo e a brutalidade policial.

Kaepernick, contudo, era um visionário - ou o único com coragem suficiente para levar o protesto adiante. O gesto atraiu a fúria de uma parcela da população americana, que considerava o ato "antipatriótico". A NFL, a liga de futebol americano dos EUA, não apoiou o jogador e o puniu. Donald Trump se envolveu na história, hostilizando Kaepernick e elogiando a NFL por não dar voz ao protesto antirracista do atleta. Como resultado, Kaepernick ficou sem time na temporada seguinte e saiu da liga.

Quatro anos depois, o jogador parece ter encontrado no mundo esportivo o apoio que exigia. E a própria liga, em aparente arrependimento, tem feito lobby para que algum time assine com o jogador e ele volte ao esporte.

Em 2020, se a NHL recebeu elogios da família Trump por não ter apoiado explicitamente o movimento Black Lives Matter (além dos jogadores permanecerem em pé, a liga de hóquei não fez menção ao movimento, mas colocou nas quadras cartazes com os dizeres "We Stake For Equality", "Nós apoiamos a igualdade"), a NFL foi de heroína em 2016 a vilã em 2020 para Trump.

O político já criticou publicamente a liga e o seu comissário, Roger Goodell, por terem dito este ano que apoiavam o movimento antirracismo. Para ele, Goodell se deixou intimidar pelos jogadores.

Na NFL, contudo, o apoio não veio sem pressão. Goodell foi cobrado pelos jogadores para falar sobre seu apoio aos protestos. E, mesmo depois de fazer um vídeo se comprometendo com a causa, muitos jogadores negros não compraram a ideia.

Mas a NFL pretende ir adiante. A liga anunciou que doará nos próximos dez anos US$ 250 milhões para iniciativas que visam combater o racismo sistêmico. Também, através do programa Inspire Change, conseguiu levantar até agora US$ 44 milhões para apoiar projetos sobre igualdade racial.

E, segundo o Front Office Sports, para o retorno dos jogos, em setembro, a liga permitirá que os jogadores usem em seus uniformes as iniciais de negros mortos pela polícia em 2020. Atualmente, cerca de 68% dos jogadores da NFL são negros.

Enquanto isso, a NBA, que tem 74% de jogadores negros, tem abraçado totalmente o movimento, se mostrando engajada na luta contra o racismo nos EUA. Além de ter feito um comercial oficial sobre o tema, ela colocou a frase "Black Lives Matter" no chão das quadras dos jogos, que acontecem em Orlando, e também distribuiu camisetas com a frase aos jogadores, permitiu que eles se ajoelhassem durante a execução do hino e também permitiu que inserissem frases de protesto em suas camisas.

Por sua vez, a MLB, a liga de beisebol nos EUA, anunciou doações para instituições ligadas à promoção da igualdade social e racial. Nos jogos de retorno, jogadores têm se ajoelhado (mas não todos) e as bandeiras americana e do estado da partida têm ficado a meio mastro.

Jogadores do Houston Rockets e do Dallas Mavericks se ajoelham de braços dados durante execução do hino nacional, em partida pela NBA em 31/7/2020, em Orlando, Flórida (Mike Ehrmann/Getty Images)

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