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'Emilia Pérez': controverso e aclamado, filme estreia no Brasil — e nós ouvimos os protagonistas

Principal adversário do Brasil no Oscar, o musical chega nesta quinta-feira, 6, aos cinemas brasileiros

'Emília Pérez': no centro da discussão antes do Oscar (Divulgação)

'Emília Pérez': no centro da discussão antes do Oscar (Divulgação)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de POP

Publicado em 6 de fevereiro de 2025 às 13h01.

Última atualização em 6 de fevereiro de 2025 às 14h56.

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Treze indicações ao Oscar, vencedor do prêmio de Melhor Atriz em Cannes, primeiro filme a ter uma mulher trans vencedora e indicada aos maiores prêmios do cinema. "Emilia Pérez" poderia ter uma carta de apresentações muito mais atrativa se não fossem as inúmeras polêmicas que o cercam — boa parte delas centrada na protagonista do longa, Karla Sofía Gascón.

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Principal adversário do Brasil no Oscar, o musical chega nesta quinta-feira, 6, aos cinemas brasileiros. Leva direção e roteiro de Jacques Audiard, e é baseado em um capítulo do romance “Écoute”, de Boris Razon. Conta a história fictícia do surgimento de Emilia Pérez (Karla Sofia Gascón), que antes era “Manitas”, homem e chefe de uma das maiores facções do México.

A personagem é apresentada ao público por Rita (Zoe Saldaña), uma advogada cansada do próprio trabalho que recebe a proposta de ajudar Manitas a mudar de gênero — um sonho antigo — e abandonar a vida no crime. Quando assume o corpo e a postura da mulher que sempre quis ser, Emilia Pérez se torna uma das principais ativistas da busca pelos desaparecidos pelo narcotráfico no país.

México à francesa

A história de Audiard é bonita. Vem acompanhada de uma bela fotografia, com cores vibrantes. Entre as músicas, uma ou outra convence e o final do longa é até comovente. Mas a maré de controvérsias complica a experiência para o público: ainda que a história se passe no México e a principal língua falada seja espanhol, nenhuma cena foi gravada no país latino. A produção é inteiramente francesa. O elenco principal, composto por Karla Sofia Gascón, Zoe Saldaña e Selena Gomez, deixa ainda mais evidente a falta de mexicanos. 

“O livro no qual me baseei é do narcotráfico do México. Mas há também um motivo sentimental. Quando eu tinha entre 23 e 24 anos, eu tinha um amigo de infância que morava em Xalapa, no México”, contou Jacques Audiard a EXAME durante breve passagem no Brasil para promoção do filme. “Fui vê-lo em três férias e viajei muito pelo país, para o Norte, Sul, Leste, de carro, de ônibus. É um país que adoro, apesar da violência”.

Paixão ou não do diretor, a produção não tem agradado os mexicanos. Nas redes sociais, membros da indústria, especialistas de cinema e criadores de conteúdo da área acumulam críticas sobre a representação feita do país, que seria “inverossímil” e “coberta de estereótipos”, segundo três dos principais jornais de cultura do México.

Transição de gênero

Atrelada ao retrato avesso do país está a tratativa da transição de gênero, temática central de "Emilia Pérez" e outro ponto sensível que vem sendo questionado por pessoas transgênero. 

“Entendo de onde vem as críticas, mas também entendo que, além do meu trabalho, há uma questão social em que eu tenho uma grande responsabilidade e eu não vou fugir dela, porque sei o quanto é importante para várias pessoas que precisam dessa presença no cinema”, explicou a atriz à EXAME. “É como se Emília Pérez me tivesse dado a oportunidade de sair da tela e me tivesse dito, ‘Karla, por favor, continue com essa linha, com essa onda de fazer o bem em vez de fazer o mal no mundo’”.

Mas nem mesmo o marco que Karla Sofia Gascón representa para a comunidade LGBTQIA+  — a atriz tornou-se a primeira mulher trans a ser indicada ao Oscar e a primeira a vencer um prêmio em Cannes — foi capaz de apaziguar os sentimentos exaltados da comunidade. Em um vídeo publicado nas redes sociais, a atriz e ativista trans brasileira Renata Carvalho destacou, entre os vários “problemas” que encontrou no longa, a maneira como a narrativa constrói um corpo trans pautado no sofrimento e na criminalidade.

“Ele retrata a transição de gênero de uma forma maniqueísta, sai do cruel Manitas, responsável pelo desaparecimento de mulheres de pessoas, para a bondosa Emilia, que cria uma ONG para encontrar os desaparecidos que muitos foi ela mesmo que mandou matar ou matou. Reforça que pessoas trans cometem naturalmente atos ilícitos e coloca o corpo trans como criminoso, culpado, perigoso, violento, agressivo, que precisa ser combatido a todo custo”.

O histórico conservador de Gascón nas redes sociais, publicado em tweets no X (antigo Twitter), também não conseguiu convencer a comunidade de que a atriz quer “varrer o mal do mundo”. Postagens onde ela dizia que George Floyd, assassinado em uma abordagem policial, era “um bandido viciado em drogas”, publicadas entre 2018 e 2019, foram descobertos e geraram uma onda de críticas à atriz. Ela chegou a desativar o perfil. 

“Assim como Emilia Pérez, podemos mudar para melhor”, escreveu ela em uma das muitas publicações que fez nas redes sociais pedindo desculpas pelas postagens antigas. Diante das polêmicas, a Netflix, que detém os direitos do filme nos Estados Unidos, retirou a atriz dos compromissos para a campanha ao Oscar. 

Rivalidade com o Brasil

Perto da premiação, a problemática de "Emilia Pérez" se intensifica com a torcida dos brasileiros por “Ainda Estou Aqui” na cerimônia. Em uma das muitas entrevistas que Gascón concedeu a jornalistas brasileiros, a atriz acusou a equipe do longa de Walter Salles de “falar mal” do filme francês. “Estão tentando diminuir o trabalho dos outros”, disse à Folha. A entrevista estimulou ainda mais desinteresse e o repúdio dos brasileiros para com a produção francesa.

À EXAME, Gascón ressaltou o respeito que tem por Fernanda Torres e por “Ainda Estou Aqui”, embora tenha admitido que ainda não conseguiu assistir ao filme.

“Fernanda é uma mulher maravilhosa. A rivalidade que existe não é uma rivalidade real, é uma construção de certos setores. Eu sempre digo que essas postagens polvorosas nas redes falam mais sobre eles do que sobre as obras. Para ressaltar as virtudes de um filme, você não precisa difamar o outro”, comentou. “Fernanda Torres não é nem melhor, nem pior atriz que eu, embora eu pense que ela é, sim, melhor que eu, eu adoro ela. Espero que ganhe todos os prêmios que puder, e o filme também, desde que seja com respeito para com os outros”. 

Jacques Audiard, ainda presente na campanha de "Emilia Pérez" ao Oscar, foi mais incisivo.

“Eu sei que o filme de Salles é absolutamente maravilhoso, que a atriz é notável. Mas tenho a impressão de que as minhas atrizes também são maravilhosas. Nós fizemos um bom filme”. 

"Emília Pérez" é o primeiro e único longa-metragem internacional a receber 13 indicações ao Oscar. Concorre nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção (Jacques Audiard), Melhor Atriz (Karla Sofía Gascón), Melhor Atriz Coadjuvante (Zoe Saldaña), Melhor Canção Original (“Mi Camino” e “El Mal”), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Filme Internacional, Melhor Cabelo e Maquiagem, Melhor, Trilha Sonora Original, Melhor Edição, Melhor Som e Melhor Fotografia.

A cerimônia do Oscar será no dia 2 de março, em Los Angeles (Califórnia, EUA).

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