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Efeito de vírus no turismo dura até 2021, dizem especialistas

Agentes de viagens, operadores e hoteleiros se preparam para meses, se não um ano inteiro, de crise econômic

Coronavírus: epidemia começa a afetar turismo (Tomohiro Ohsumi/Getty Images)

Coronavírus: epidemia começa a afetar turismo (Tomohiro Ohsumi/Getty Images)

Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 14 de fevereiro de 2020 às 11h13.

No início desta semana, mesmo com a impressão de que as infecções do novo coronavírus estavam diminuindo, os efeitos da epidemia no setor global do turismo se aceleravam rapidamente.

O impacto da doença semelhante a uma pneumonia, causada pelo vírus Covid-19, já é sentido em todo o continente asiático, onde viagens de lazer e negócios contribuíram com US$ 884 bilhões para o PIB em 2017, segundo os dados mais recentes disponíveis compilados pelo Conselho Mundial de Viagens e Turismo. As projeções para 2018 são de cerca de US$ 1 trilhão. Para a China, o turismo interno arrecadou US$ 127,3 bilhões em 2019, de acordo com a agência de turismo do país.

Mas, com o número de casos novamente em alta, agentes de viagens, operadores e hoteleiros se preparam para meses, se não um ano inteiro, de crise econômica provocada pelo surto, com efeitos a longo prazo que podem durar até 2021.

“O número de cancelamentos de viagens - não apenas para a China, mas para todo o continente asiático - cresce todos os dias”, diz Jack Ezon, fundador e sócio-gerente da agência de viagens de luxo Embark Beyond. “As pessoas estão protelando. Infelizmente, muitas delas estão apenas dizendo: ‘Não sei se quero ir a algum lugar agora’. Ou, em muitos casos, ‘vou no ano que vem’.”

Até agora, quase 75% dos clientes da agência cancelaram viagens em fevereiro e março para países do Sudeste Asiático, que os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA ainda consideram ter um risco mais baixo, de nível 1, para o coronavírus. As pessoas “estão preocupadas em estar perto do surto”, diz, “ou de ficarem presas em voos cancelados se outros hubs forem infectados”. Cem por cento das viagens de lua de mel que sua agência havia reservado para a região foram canceladas e remarcadas para destinos alternativos, como Maldivas, África Austral e Austrália.

Chris Nassetta, CEO da rede Hilton, disse a investidores em 11 de fevereiro que espera que o impacto do novo coronavírus dure de seis a 12 meses: “Três a seis meses de escalada e impacto do surto e outros três a seis de recuperação”, disse. Nassetta estimou que o custo para sua empresa poderia ficar entre US$ 25 milhões e US$ 50 milhões.

Por que tanto tempo?

Quando se trata de viagens de lazer, a maior questão geralmente gira em torno da localização. Uma vez decidida, o tempo dita tudo. “Você pode viajar pelo norte da Ásia o ano todo, mas o Sudeste Asiático é muito mais desafiador”, diz Catherine Heald, cofundadora e CEO da Remote Lands, especialista em viagens com foco na Ásia. “Graças às monções e temperaturas muito quentes na maior parte da região”, que duram aproximadamente de março a setembro, “as pessoas não pensam em remarcar até o outono”, diz.

Para famílias, o calendário escolar pode complicar os planos. “Tínhamos uma família que viaja durante as férias de primavera e eles não terão a mesma janela de tempo até as férias de primavera do ano que vem”, diz. “Estão remarcando para 2021.” A mesma lógica se aplica àqueles que queriam ver especificamente a florada de cerejeiras no Japão ou flores ao lado de trilhas no Nepal, razões comuns para planejar uma viagem na primavera.

Os clientes de Catherine estão entre os mais propensos a ajudar o setor a se recuperar. Até agora, sua empresa registrou menos cancelamentos do que seus concorrentes por causa da maneira pela qual ela foca em turistas de lazer e que gastam muito. O custo médio de uma viagem com a Remote Lands é de US$ 1.500 por dia para duas pessoas, o que a torna a empresa especialista em férias dos sonhos - viagens que as pessoas esperam desesperadamente fazer um dia.

“As pessoas gastam muito tempo e dinheiro planejando essas viagens”, diz Catherine. “Querem que isso aconteça.” Sua solução até agora foi simplesmente redirecionar tarifas aéreas através de centros não afetados, substituindo rotas através de Hong Kong ou Xangai por conexões em Tóquio, Seul ou Dubai. O custo, diz, pode variar dependendo da disponibilidade de tarifas e do tipo de passagem reservada. “Em uma escala de 1 a 10, a o impacto em nossos negócios foi de cerca de 2 ou 3”, diz Catherine, explicando que a disposição dos clientes de adiar, em vez de cancelar, mantém seu balanço intacto.

Os negócios na China já estavam em baixa este ano por causa das notícias negativas sobre a guerra comercial. Catherine diz que apenas 3 das 400 viagens que reservou no ano passado eram apenas para a China. Ezon concorda: “A China estava um pouco fraca este ano para lazer, e Hong Kong estava uma bagunça depois de julho” por causa dos protestos.

A região do Sudeste Asiático estava se beneficiando dessa tendência, mas o clima agora é de cautela. “As pessoas estão cancelando o Sri Lanka e a Índia apenas porque fazem parte da Ásia”, diz Ezon. O Sri Lanka relatou um caso de uma pessoa infectada com o coronavírus, e a Índia registrou três até agora, de acordo com rastreador de coronavírus da Bloomberg.

Os hotéis entendem o temor dos clientes, por mais absurdos que possam parecer. Muitos estenderam políticas que permitem às pessoas alterar planos em toda a região da Ásia-Pacífico, sem nenhum custo, desde que remarquem antes da temporada festiva de 2020. Como Catherine e seus colegas especialistas em viagens, muitos hotéis esperam garantir as receitas para 2020 e mitigar cancelamentos definitivos.

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