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Doc retrata as angústias de um fotógrafo brasileiro nos fronts de guerra

Entre a paternidade e o front, "Você Não é um Soldado" registra as experiências André Liohn na Síria e no Iraque; em 2011, fotógrafo ganhou a Robert Capa Gold Medal, o Oscar da fotografia de guerra

André Liohn cobrindo um conflito no Iraque, em registro que faz parte do documentário "Você Não é um Soldado" (Reprodução/Divulgação)

André Liohn cobrindo um conflito no Iraque, em registro que faz parte do documentário "Você Não é um Soldado" (Reprodução/Divulgação)

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GabrielJusto

Publicado em 17 de julho de 2021 às 09h22.

Como é possível que se jogue futebol em meio a um tiroteio? Como é possível dormir sob um ataque aéreo no meio do deserto? Perguntas como essas inundam a cabeça de quem assiste ao documentário "Você Não é um Soldado", que registra o trabalho e as angústias do fotojornalista de guerra brasileiro André Liohn - que em 2011 ganhou a Robert Capa Gold Medal, o Oscar da fotografia de guerra - nos fronts do Oriente Médio.

Explorando o contraste entre o tensão da guerra e a ternura da paternidade, o documentário dirigido por Maria Carolina Teles mescla cenas de Liohn de férias com os filhos na Itália, curtindo uma vida "normal", com cenas chocantes e extremamente fortes (apesar de não muito explícitas) de intensos conflitos armados na Síria e no Iraque, onde o limite entre a vida e a morte é delimitado pura e simplesmente pela sorte.

"Eu queria tirar os coletores de informação das sombras e humanizá-los, buscando um retrato, essa curva de herói, mas também tentando entender as angústias de ser esse jornalista e esse pai", explica Teles, que foi convidada para dirigir o projeto justo quando acompanhava os momentos terminais de seu pai, um ex-Primeiro Tenente da Força Expedicionária Brasileira que chegou a ser enviado à Itália na Segunda Guerra Mundial, mas nunca chegou ao front, como sempre quis.

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"Isso foi uma grande frustração para o meu pai, assim como foi para o André, que estava muito agoniado por não conseguir chegar ao Iraque a tempo de cobrir a queda do Estado Islâmico", explica Teles. No documentário, quando a organização terrorista é cercada Mossul, em 2017, André está na Itália com os filhos. Mesmo atrasado e ouvindo o filho dizer que ele "quer a morte", André decide ir ao front e consegue, enfim, registrar o momento em que o exército iraquiano retoma o controle de sua capital.

Para chegar ao resultado final do filme, a diretora mergulhou em centenas de horas de filmagens do acervo pessoal de André, composto por um grande emaranhado de registros da sua vida pessoal e do seu trabalho nos fronts. Segundo ela, a angústia da relação de Liohn com seus filhos ficava evidente nesses materiais, o que a estimulou a mesclar o suspense dessa paternidade "por um fio" com a sua própria experiência como filha de um ex-combatente.

"Mergulhamos nesse material fragmentado e fomos entendendo o arco do personagem, a história que queríamos contar", explica a diretora que, em 2017, já trabalhava no filme e pode, à distância, dirigir as captações de André em Mossul. "Nós estávamos presentes ativamente nesse momento, e aproveitamos para pedir alguns complementos que achamos necessário."

Os filhos de André Liohn em cena do documentário "Você não é um Soldado" (Reprodução)

Uma experiência sensorial

Teles vê sua obra muito mais como um filme de não-ficção que um documentário, e conta que montar esse quebra-cabeça foi um trabalho muito pautado na sensorialidade e na delicadeza de uma perspectiva feminina. "A gente faz o recorte do personagem no curso da ação. Levamos as pessoas para dentro da guerra, da casa do André, da família dele... É muito sensorial, como se fosse um álbum de música", explica ela.

Com o fim dos conflitos no Iraque e a chegada da pandemia, que limitou as viagens internacionais, o filme mostra que André deixou os conflitos armados no Oriente Médio e voltou ao Brasil. Mas não abandonou o que talvez seja, realmente, uma vocação para registrar o limiar entre a vida e a morte: em Botucatu, sua cidade natal, passou a registrar os dramas e os lutos da guerra fria contra o coronavírus - essa, ainda longe de acabar.

Produzido pela Elo Company e Rede Snack, empresa de social content da B&Partners.co, "Você Não é um Soldado" concorre dois festivais canadenses (Hot Docs e DOXA - Documentary Film Festival) e um neozelandês (Doc Edge Festival), dedicados ao gênero documentário, e que qualificam os indicados ao Oscar. No Brasil, o longa tem estreia prevista para o segundo semestre de 2021.

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