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Sem vacina e barrado na Austrália: Djokovic virou o bad boy do tênis

A recusa em apresentar comprovante de vacinação contra covid é apenas a mais recente polêmica envolvendo o tenista sérvio

Novak Djokovic: polêmicas com vacinação (David Gray/Pool/Reuters)

Novak Djokovic: polêmicas com vacinação (David Gray/Pool/Reuters)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 5 de janeiro de 2022 às 15h52.

Última atualização em 5 de janeiro de 2022 às 20h44.

O tenista sérvio Novak Djokovic foi barrado hoje ao chegar no aeroporto de Melbourne e teve negada a permissão para entrar na Austrália, segundo a CNN. O motivo foi a sua recusa em apresentar o comprovante de vacinação para disputar o Aberto da Austrália, uma exigência da organização do torneio.

O visto de entrada de Djokovic foi cancelado, segundo o ministro da saúde australiano Greg Hunt. O tenista "falhou em apresentar a documentação apropriada pedida na Austrália e por isso seu visto foi automaticamente cancelado", disse o ministro em entrevista às emissoras locais de TV.

O tenista chegou a passar mais de oito horas no aeroporto Tullamarine à espera de uma decisão e deve ser deportado. De acordo com o relato de uma fonte à Reuters, Djokovic entrou com um pedido de liminar para impedir sua deportação.

Djokovic afirmou ter recebido permissão para entrar no país sem apresentar comprovante de vacinação. Nesta quarta-feira de manhã, porém, a ministra australiana do Interior, Karen Andrews, já havia afirmado que as normas sanitárias do país teriam de ser cumpridas.

E que isso se estenderia a todos os jogadores.

No fim do ano passado, Srdjan Djokovic, pai do tenista, havia afirmado a uma emissora sérvia que, a menos que as restrições à vacina da organização do torneio mudassem, ele não jogaria. "É direito pessoal de cada um de nós sermos vacinados ou não", afirmou. "Ninguém tem o direito de entrar na nossa intimidade."

Curiosamente, a tenista russa Natalia Vikhlyantseva foi impedida de participar do mesmo torneio, mesmo vacinada. Isso porque ela foi imunizada com a Sputnik V, que não é reconhecida pelas autoridades sanitárias australianas.

O caso Djokovic deve se arrastar pelos próximos dias. A ausência do tenista número um do ranking da ATP seria um buraco enorme no primeiro Grand Slam do ano, que começa no dia 17 de janeiro, certamente com repercussões negativas em audiência e no retorno dos patrocinadores. E essa parecia ser a aposta do sérvio para conseguir a dispensa.

Djocovid ou Novaxx?

Essa está longe de ser a primeira polêmica envolvendo Djokovic. Seu posicionamento contra a vacinação da covid já era conhecida. Em 2020, enquanto o circuito mundial estava paralisado devido à pandemia, o sérvio organizou um torneio por quatro cidades dos Balcãs chamado Adria Tour.

O evento tinha o objetivo de arrecadar recursos para projetos sociais na região. Motivo nobre. Porém, nenhuma medida de isolamento foi adotada. As arquibancadas ficaram lotadas e os jogadores foram vistos comemorando abraçados em uma boate, sem camisa e obviamente sem máscara. Resultado: quatro jogadores foram infectados, inclusive Djokovic, e sua imagem pública sofreu o impacto de um smash.

De lá para cá o tenista ganhou os apelidos de Djocovid e Novaxxx, uma brincadeira com as palavras não e vacina, em inglês.

Outro episódio com repercussão negativa foi a tentativa também em 2020 de criação de uma organização paralela à ATP. Chamada Professional Tennis Player Association (PTPA), tinha como boa premissa equalizar prêmios pagos aos jogadores mais e menos bem ranqueados.

A iniciativa sofreu críticas, inclusive de Nadal e Federer, pelo momento de pandemia, em que se buscava uma alternativa para a realização dos torneios, e pela falta de representatividade feminina. Tenistas mulheres não estavam contempladas no conselho. A ex-campeã e ativista Billie Jean King afirmou então que Djokovic "não estava fzendo o suficiente em favor das mulheres".

A favor de Djokovic é preciso dizer que ele já defendeu no passado a equidade de pagamento de premiações a homens e mulheres, hoje ainda bastante distantes, e participou de uma campanha de apoio às vítimas dos incêndios que atingiram a Austrália em janeiro do ano passado, na época do Grand Slam.

Nos passos de John McEnroe

No ano passado, em uma entrevista coletiva no torneio de Wimbledon, um jornalista perguntou a Djokovic como era ser o bad guy do circuito, correndo atrás de Roger Federer e Rafael Nadal. “Não me considero um bad guy. Estou construindo minha própria jornada, minha história. Sou privilegiado por fazer parte da história do esporte que eu amo”, foi sua resposta.

O ex-tenista americano e hoje comentarista da ESPN John McEnroe já afirmou que a imagem de bad boy é uma tatuagem permanente na imagem de Djokovic. McEnroe, vale lembrar, apresentava um temperamento mercurial dentro das quadras. No mesmo Aberto da Austrália, em 1990, ele recebeu uma multa de 6.500 dólares por jogar a raquete no chão e intimidar uma juíza de linha.

A diferença é que hoje a imagem dos atletas reverbera muito mais devido às redes sociais e tem impacto direto nos acordos de patrocínio. Marca alguma quer se envolver em polêmicas. Para ficar em apenas um exemplo do tênis, a russa Maria Sharapova perdeu apoio de Nike, Porsche e TAG Heuer após supensão por doping.

Djokovic tem hoje acordos com Lacoste, Hublot, Peugeot, Asics e Head, entre outras marcas.  Na balança da imagem pública, os brilhantes resultados em quadra têm prevalecido sobre suas polêmicas atitudes e declarações. Djokovic está empatado com Federer e Nadal em conquistas de Grand Slam, cada um com 20 títulos. Mas está mais em forma que seus oponentes e a expectativa é que este ano ele vire o recordista absoluto. É um número impressionante, que provavelmente levará muitos anos para ser batido. Se é que algum dia será.

Mas os pesos dessa balança sempre podem mudar.

 

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