Para a edição de 2024, o fotógrafo convidado foi Prince Gyasi, de Gana. Entre as celebridades fotografadas estão a modelo Naomi Campbell, o ator Idris Elba, a cantora Angela Bassett. (Prince Gyasi/Divulgação)
Editor de Casual e Especiais
Publicado em 30 de novembro de 2023 às 11h00.
Última atualização em 8 de dezembro de 2023 às 12h46.
Já faz tempo que o calendário Pirelli abandonou o apelo sensual que dominou a linguagem das revistas masculinas e das campanhas publicitárias, entre o fim dos anos 1990 e meados de 2010. Nos últimos anos, as fotos têm mostrado mulheres bem-sucedidas, de beleza real e longe da perfeição, reinterpretações de histórias lúdicas.
Pela primeira vez, no entanto, os retratos do calendário foram feitos por um artista nascido na África, apenas com homens e mulheres negros. Para a edição de 2024, o fotógrafo convidado foi Prince Gyasi, de Gana. Entre as celebridades fotografadas estão a modelo Naomi Campbell, o ator Idris Elba, a cantora Angela Bassett e o escritor e produtor músical Jeymes Samuel, também conhecido como The Bullits, entre outros.
Mas não são apenas retratos comuns. O trabalho de Prince é marcado pelo uso de cores muito fortes, tons vermelhos, azuis e rosas que criam contraste com a pele negra dos personagens. “Cores para mim significam vida. É o que olhos veem, oque o seu cérebro entende como mensagem”, afirmou Prince durante a apresentação do calendário, nesta terça-feira 29, no hotel Intercontinental de Londres.
Prince criou um personagem para cada celebridade. O ex-jogador de futebol ganês Marcel Dessaily foi o Foco. A cantora nigeriana Tiwa Savage foi a Resiliência. “Escolhi as cores de acordo com o que vinha à minha cabeça quando pensava em cada um”, disse Prince. A cor que ele mais tem usado no momento é o rosa. “Para mim significa esperança. Mas isso muda muito, dois anos atrás eu via azul em tudo.”
O tema deste calendário é Timeless, Atemporal. Prince pensou em pessoas de diferentes gerações, que o inspiraram na vida, com base em seu próprio senso de comunidade da África Ocidental. Aos 28 anos, ele fotografou ícones com mais tempo de carreira do que ele tem de vida. “Foi um exercício de humildade. Um grande amigo me disse uma vez para sempre estar preparado para tudo.”
Prince não estudou fotografia, mas sim artes na forma de pintura, escultura e entalhe. Também gostava de brincar com o software de desenho do seu computador. Ele liderou um projeto de fotos com um iPhone na África e já criou capas para a GQ e a Madame Figaro, revista de moda do jornal francês.
“Estou satisfazendo quem gosta de fotografia e quem gosta de arte, criando uma nova ponte, que não é nenhum dos dois”, disse. Prince já teve trabalhos expostos no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Sei que tenho fãs lá, alguns já tatuaram meu trabalho, jovens de Salvador costuma me escrever”, conta.
As fotos foram feitas em Gana e em Londres. O calendário Pirelli de 2024 é especial não só pelo tema. Trata-se de 50ª edição nos 60 anos de história – em períodos de crise, como a pandemia da covid-19, a publicação não foi produzida. “Foi uma estratégia, cada foto tem um conceito, baseado na mensagem que quis passar, como eu senti”, disse Prince.
A poetisa e ativista americana Amanda Gorman teve a cor vermelha como pano de fundo para os seus retratos. “Adoro porque a cor me lembra fogo, paixão, mas o título está em azul, que também gosto muito porque é como o céu. Azul para mim não significa tristeza, e sim futuro. Adoro como Prince pensa nas cores”, disse, no lançamento da publicação em Londres.
A atriz Angela Bassett, estrela do filme Pantera Negra, a Altruísta no calendário, comentou sobre a primeira vez que um calendário foi fotografado por um africano. “É extremamente importante. Ele traz uma nova sensibilidade, é muito jovem, tem um ar fresco. Isso balança o status quo. É importante para sua jornada e para a Pirelli.”
Já o produtor Jeymes Samuel lembrou de sua relação com o Brasil. “No filme que eu acabei de produzir com músicas de Jorge Bem Jor”, disse. E cantarola: Porque é proibido pisar na grama, porque o negro é lindo.” E logo comentou. “O que isso quer dizer? Eu sei cantar, mas não sei o que significa. Amo a música brasileira. Espero poder fazer um show com BenJor.”
Para Marco Tronchetti Provero, CEO global da Pirelli, o calendário físico, impresso em papel, tem um valor especial. "O futuro está aberto, sempre tratemos oportunidades para os fotografos terem liberdade de ver a sociedade da maneira deles. Desde que coloquem isso no papel, está bem (risos). Às vezes você tem de parar com isso (aponta para o celular), ler algo sem interrupção."
E qual o futuro do calendário? A publicação poderá um dia ser feita por inteligência artificial? O CEO da Pirelli responde. “Tentaremos usar toda nossa força para evitar isso. Encontraremos um jeito de manter essa produção de forma natural, feito por pessoas para pessoas."