Italiano com sacola da Dior: de volta aos desfiles (Edward Berthelot/Getty Images)
Guilherme Dearo
Publicado em 22 de junho de 2020 às 11h59.
Última atualização em 22 de junho de 2020 às 15h55.
Na contramão de boa parte das marcas internacionais, a grife francesa Christian Dior agendou seu próximo desfile fora das semanas de moda para o dia 22 de julho, em Lecce, na região de Puglia, na Itália. A apresentação acontecerá ao vivo, mas sem público, e será transmitido pela internet.
O anúncio acaba de ser feito pelo CEO dessa marca do grupo LVMH, Pietro Beccari, e da estilista Maria Grazia Chiuri, em uma conferência online global na manhã desta segunda-feira (22) para cerca de 600 jornalistas e da qual a EXAME participou.
Será um desfile de cruise, como são chamadas as coleções intermediárias desfiladas fora dos desfiles de moda do calendário oficial de outono-inverno e primavera-verão. Ele havia sido marcado para maio, mas foi postergado no início da pandemia e, só agora, reativado. O principal motivo para realizá-lo, segundo Beccari, é porque a crise atingiu em cheio a indústria de manufatura de bens de luxo e é preciso dar aos artesãos e profissionais da moda um motivo para "renascer".
Esse renascimento tem a ver com as dificuldades pelas quais as pequenas confecções italianas atravessam desde que a Covid-19 parou as produções e, como adiantou a Exame, chegou a provocar um recuo de 60% no número de pedidos feitos pelas marcas de luxo aos fornecedores italianos.
É a primeira vez que a grife apresenta uma coleção em solo italiano e, de acordo com a dupla à frente da Dior, mobilizou centenas de artesãos, músicos, ceramistas e profissionais vinculados à montagem na confecção do desfile.
"Vamos assumir o risco e dar uma razão para essas pessoas recomeçarem. Esse desfile é um milagre, tem a ver com solidariedade [para a indústria], irmandade e foi muito complexo de ser realizado", afirma Beccari.
Do ponto de vista criativo, a coleção envolve uma questão emocional para Maria Grazia Chiuri. Seu pai nasceu na mesma região do sul da Itália onde a apresentação ocorrerá e a estilista já havia concebido as roupas, contratado profissionais locais e escolhido os temas que permeiam as roupas.
Há, no entanto, uma discussão na indústria da moda sobre a necessidade de apresentar tantas coleções ao longo do ano. Algumas grifes chegam a realizar seis desfiles anuais, entre alta-costura, prêt-à-porter, pré-inverno e cruise. A própria Chiuri, em entrevista durante a temporada parisiense de março, havia classificado esse sistema como “saturado”.
Não há informações se o calendário frenético de apresentações continuará a ser seguido pela etiqueta, mas ela já confirmou participação na temporada de alta-costura, no início de julho. Neste caso, porém, o formato é mantido em segredo e a marca já disse que não será o de desfile on-line. “Na indústria do luxo, nada substitui a experiência de uma apresentação ao vivo”, disse Beccari.
A marca também já planeja uma coleção especial para o mercado chinês, a ser vendida no final do próximo mês, em dezenas de lojas temporárias que serão montadas na China. Esse formato de lojas, chamado pela moda de pop-up, é uma das principais tendências do varejo de moda para o pós-pandemia, porque exclui custos de aluguel e manutenção periódica dos pontos físicos.
O anúncio desta segunda foi acompanhado de outro, da grife inglesa Burberry, que confirmou a realização de seu desfile de verão 2021 em setembro próximo. Assim como o deste cruise da Dior, ele será transmitido on-line, com modelos trajando as peças, mas não terá participação do público.