Idoso passeia com criança: uma convivência que traz benefícios emocionais para ambas as partes (Qilai Shen/Bloomberg)
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de julho de 2020 às 16h22.
Última atualização em 26 de julho de 2020 às 16h45.
Antes do surgimento do novo coronavírus, muitos avós ajudavam na criação dos filhos, enquanto os pais estavam trabalhando. “No mundo antes da pandemia, quando muitas crianças viviam com os avós enquanto os pais trabalhavam e, por isso, muitos faziam parte o dia a dia dos pequenos, esse processo se naturalizou”, afirma a psicopedagoga e orientadora educacional do colégio MOPI Adriana Ferreira.
De acordo com o estudo Berlin Aging Study (BASE) divulgado em janeiro, avós que cuidam de netos têm 37% menos risco de morte do que adultos da mesma faixa etária que não cuidam de ninguém.
Já uma pesquisa realizada em 2016 pela Universidade de Boston e corroborada por outro estudo da Sociedade Americana de Gerontologia em 2014 avaliou famílias entre 1985 e 2004 e revelou que a proximidade emocional entre netos e avós protege ambos da depressão e de outros transtornos mentais.
O relacionamento dos netos com os avós favorecem as habilidades socioemocionais. “Eles trazem relações da ascendência para crianças e jovens. Isso é muito gritante em comunidades indígenas, por exemplo. E esse também é o papel dos avós.
Nessa relação, por eles já terem uma caminhada ao longo da vida, eles trazem um tipo de ensinamento ligado às habilidades socioemocionais para a família de compreensão, paciência, resiliência, uma vez que há uma história por trás de acontecimentos, fatos e exemplificações que eles trazem para a vida tanto dos filhos como dos netos. Nesse processo de habilidades, não só na questão da aprendizagem formal, crucial e na qual os avós têm uma importância muito grande, eles também trazem um olhar mais maduro para esse desenvolvimento”, ressalta a psicopedagoga.
O professor de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Eduardo Fraga Almeida Prado explica que esse convívio promove um fortalecimento da autoestima da criança. "Sentir-se aceito e amado pelos avós, assim como sentir-se aceito por seus pares é relevante e contribui para a construção de autoestima elevada em qualquer criança. Sentir-se amado pelos avós contribui para que a criança se desenvolva com a crença de que é alguém que possui qualidades e é digna de ser amada. Bons relacionamentos são verdadeiros ‘alimentos afetivos’, tanto para a criança quanto para os avós", declara. Para os idosos, conviver com as crianças é uma oportunidade de ver o desenrolar de novas gerações.
Com a pandemia, muitos idosos, classificados como grupo de risco para covid-19, tiveram de ficar isolados de seus netos. O contato contínuo foi diminuído, pois muitos pais estão trabalhando de casa. Com isso, as famílias perceberam ainda mais o quanto fundamental e parceiros os avós são. “Com o isolamento social, principalmente para as crianças que viviam diariamente com seus avós, é possível perceber essa falta, a ausência desse acolhimento, uma vez que muitos avós acabaram se afastando dos netos porque estão no grupo de risco e precisam se manter isolados. E essa maior valorização dos avós é traduzida porque eles entendem o neto só no olhar. A saudade é diminuída por videochamadas, mas falta o caloroso abraço, a presença” afirma a psicopedagoga Adriana Ferreira.
Em 2020, o Dia dos Avós está sendo celebrado em meio à pandemia do novo coronavírus. O professor de Psicologia do Mackenzie Eduardo Fraga Almeida Prado alerta que é importante manter o distanciamento físico, principalmente para preservar os avós. "A preservação da saúde daqueles que amamos deve ser o eixo norteador de qualquer forma de interação nos dias atuais", enfatiza. Por isso, manter contato de forma virtual e trocar presentes de forma remota é a recomendação dada pelo especialista para não perder as demonstrações de carinho tão importantes.
Já que abraço e o beijo não são possíveis, a sugestão é que o neto expresse por meio de palavras, desenhos, vídeo gravado ou mensagem de voz o quanto seus avós representam para a vida dele. Diga o quanto ele é relevante, o quanto está sentindo falta.
Para Adriana Ferreira, o isolamento social trouxe uma oportunidade de avaliação do que é realmente importante em nossas vidas. “E, para muitos pais, a presença dos avós na rotina dos pequenos, levando para a escola, compartilhando períodos do dia enquanto os pais trabalhavam, deve ser notada como valorosa, o quanto a presença, o carinho e o afeto são importantes para a formação dos netos. No período pós-pandemia, esses avós poderão voltar a ajudar filhos e netos na educação dos pequenos. Que não caia no esquecimento o fato de que os avós têm valor inestimável”, conclui.